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Salvador: Casas de Conceito ou pré-conceitos?

Captura de tela com publicação de foto, agora excluída, de participantes do Projeto Casa Conceito, em Salvador | Imagem: Reprodução

A foto de divulgação publicada pelo Projeto Casas Conceito, da empresária Andréa Velame, inaugurando a sua nova edição no Centro Histórico de Salvador, no último dia 7 de setembro, está causando furor e indignação na cidade.

A inauguração, que contou com personalidades importantes do mundo da moda, da arquitetura, do design de interiores e da política, dentre elas o Prefeito da cidade de Salvador, foi um sucesso.

No entanto, vários grupos de arquitetos/as estão protestando de forma veemente nas redes sociais, por conta da “branquitude radical” que a foto de divulgação representa, expressando o elitismo e o racismo que habita nessa cidade desde sempre.

As críticas são fortes e afirmam que a foto em verdade expressa uma arquitetura elitista, racista e excludente. Uma arquitetura de poucos para poucos.

Convenhamos, a foto é impressionante, ainda mais numa cidade tida e havida como a “Roma Negra” dos trópicos: são 40 pessoas brancas, vestidas de branco, (profissionais de arquitetura e design) em frente ao elevador Lacerda celebrando a inauguração do Projeto Casa Conceito, instalado num casarão da Misericórdia.

O impacto negativo da foto foi tamanho, que os organizadores do evento as retiraram do site de divulgação.

Em que pese a absoluta pertinência dos protestos, a foto é, em grande medida, um retrato fiel da Bahia, onde uma elite política e econômica branca só se vê e enxerga no espelho. A foto choca, pois não apenas registra, como também simboliza o quanto a nossa elite é excludente. Naturalmente excludente.

É muita branquitude pra nenhuma resposta.

Mas, se aprofundarmos o entendimento sobre a etimologia da palavra “Conceito”, que nomeia o projeto, talvez encontremos respostas para o inusitado da foto, pois segundo alguns filósofos, conceito nada mais é do que a representação mental que tem origem no pensamento ou que vem a ser, coisa concebida ou formada na mente.

Ou seja, a foto tão branca nas vestes e na pele, nada mais é do que aquilo que tem sido concebido e formado nas mentes da elite política e econômica soteropolitana ao longo de séculos.

Não esqueçamos de que essa cidade tem origem e foi construída a partir de um crime de lesa humanidade – o tráfico negreiro – e foi mantida a partir de outro crime de igual teor: a escravidão.

E as vítimas desses dois crimes continuam sendo solenemente excluídas e ignoradas por aqueles que se locupletaram ao longo de séculos, até mesmo das representações mais pueris, como de uma foto, mas sobretudo daquilo que são seus direitos mais elementares, como   moradia digna, educação de qualidade, assim como emprego e renda.

Portanto, que os protestos contra a “branquitude radical” da foto, sirvam ao menos para que reflitamos sobre não apenas as imagens que representam a nossa cidade, mas sobretudo sobre os conteúdos que devem fazer parte dela, para que assim se torne menos desigual, em particular do ponto de vista racial.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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maria auxiliadora mascarenhas fernandes
maria auxiliadora mascarenhas fernandes
2 dias atrás

sinto vergonha desse racismo estúpido!

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