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Novembro Negro e o Papel Transformador do Conhecimento Racializado

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Novembro Negro não é apenas um momento de celebração, mas também de reflexão e luta. Em um país onde o racismo estrutural molda as relações sociais, econômicas e educacionais, essa data reforça a urgência de combater desigualdades profundamente enraizadas. Mais do que rememorar figuras icônicas como Zumbi dos Palmares e Dandara, é uma oportunidade de destacar o protagonismo negro, especialmente no campo da produção intelectual econômica racializada. Nesse contexto, iniciativas como o Instituto Mercafro se estruturam como espaços de visibilidade para o conhecimento econômico e financeiro racializado no Brasil.

O racismo epistemológico permanece como uma marca indelével da academia brasileira, em especial de educação corporativa. Apesar do aumento do acesso de negros e pardos ao ensino superior, fruto de políticas como a Lei de Cotas, a influência dessas vozes na produção de conhecimento e na ocupação de espaços de decisão, especialmente com poder econômico, segue sendo subvalorizada. Dados da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) mostram que, em 2020, 52% das matrículas em universidades federais eram de estudantes negros e pardos. Contudo, apenas 16,4% dos jovens negros entre 18 e 24 anos estavam cursando o ensino superior, em comparação com 29,5% dos jovens brancos. Esses números evidenciam como o racismo estrutural dificulta não apenas o acesso, mas também a permanência e o reconhecimento de acadêmicos negros.

Além disso, os currículos e as referências bibliográficas raramente refletem a contribuição negra para o desenvolvimento econômico e social do país. Essa exclusão perpetua um modelo educacional que desumaniza e marginaliza, ignorando a relevância de intelectuais negros na criação de soluções inovadoras para os desafios contemporâneos. Apesar das ações afirmativas, muitos desses acadêmicos acabam subutilizados no mercado de trabalho, reforçando desigualdades já existentes.

A omissão de dados raciais na administração pública agrava ainda mais o problema. Em diversas esferas do mercado, a ausência de informação sobre cor e raça impede a formulação de políticas inclusivas. Por exemplo, na administração pública, 93% dos servidores não têm a raça identificada, enquanto setores estratégicos como advocacia e petróleo e gás também registram altas taxas de indefinição. Esses dados reforçam a urgência de iniciativas que promovam inclusão e equidade de acordo com CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades).

Nesse cenário, o trabalho de instituições que destacam a produção intelectual negra torna-se ainda mais relevante. Ao promover a troca de conhecimento e a criação de redes colaborativas, essas organizações possibilitam que intelectuais negros atuem em áreas como pesquisa, inovação, políticas públicas dentre outros. Esse modelo rompe com a lógica meritocrática tradicional e inaugura um novo paradigma, no qual a diversidade é reconhecida como essencial para o desenvolvimento de soluções abrangentes e inclusivas.

O conhecimento racializado tem um papel transformador. Quando intelectuais negros tem a possibilidade de liderar a produção de ideias, criam-se estratégias que refletem as necessidades de mudanças para uma população historicamente marginalizada. Essa inclusão não apenas enriquece o debate acadêmico, mas também amplia as possibilidades de crescimento econômico e social. Reconhecer a diversidade de saberes como um ativo estratégico é fundamental para romper os silêncios históricos que ainda aprisionam a sociedade brasileira. No mês que simboliza a luta por igualdade racial, o Novembro Negro nos desafia a ir além da celebração, exigindo uma postura ativa contra as desigualdades estruturais.

Que este seja o ponto de partida para ações concretas em direção à equidade econômica. Afinal, a luta por igualdade e dignidade financeira não é apenas uma herança do passado, mas uma urgência do presente.

Luciane Reis – Comunicóloga, graduada em Publicidade e Propaganda pela UCSAL, especialista em Produção de Conteúdo para Educação e mestra em Desenvolvimento e Gestão – UFBA. Ceo Mercafro

OPINIÃO

O texto que você terminou de ler apresenta ideias e opiniões da pessoa autora da coluna, que as expressa a partir de sua visão de mundo e da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Umbu.

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