Gente, eu realmente fico surpreso todas as vezes em que ouço uma pessoa falar que as contas apertaram e que, para corrigir o rumo, resolveu simplesmente cortar tudo o que a ajuda a gerar riqueza ou manter o equilíbrio e saúde mental. Faz tempo que não ouço alguém dizer que vai resolver os problemas financeiros cortando os deliverys de hambúrguer, pizza e comida japonesa duas, três ou quatro vezes por semana, ou diminuindo a cervejinha, na verdade muitas cervejinhas do “sextou”, “sabadou” ou “domingou”.
É impressionante como a nossa doutrinação e condicionamento fazem com que a nossa reação seja sempre orientada para o consumo e para a autossabotagem.
O que eu vejo no dia a dia é que, quando a conta aperta, ao invés da pessoa procurar entender o que aconteceu, olhar a fatura do cartão de crédito, ver para onde o rico dinheirinho foi parar e refletir se os gastos foram realmente necessários ou supérfluos, nós simplesmente começamos a justificar, fingir que a fatura do cartão ou extrato do banco não existem. Entramos em uma de nos culpar e nos fazer de vítimas e, por fim, entramos em desespero e tomamos ações precipitadas, sem análise e na base da emoção. Acabamos tomando a pior das decisões e sem sombra de dúvidas, essas ações trarão mais problemas. Olhe para o lado e tente lembrar de algum caso seu ou próximo.
Sério! Quando isso acontece, a pessoa começa a questionar a sua qualidade profissional, inteligência e inicia um processo destrutivo de autossabotagem e resolve simplesmente sair cortando tudo de forma desesperada, achando que assim vai resolver as contas, sem analisar, sem ponderar e sem entender de fato o que está acontecendo, sendo que, normalmente Simplesmente corta as coisas e normalmente são coisas que ajudam ou facilitam a vida a longo prazo: academia, terapia, curso de línguas, formação de poupança, investimento na imagem ou cuidado com o carro, casa roupa e por aí vai.
Então, eu pergunto: como é que o abençoado vai conseguir tomar uma decisão acertada e racional se já começa acabando com toda a rede de apoio e manutenção da autoestima?
É só olhar com um pouco de atenção. Veja como as academias sempre sofrem como uma grande rotatividade de alunos! Os consultórios de psicologia ou outras terapias têm dificuldades de reter seus pacientes. Outro sinal claro de que as coisas estão apertando é quando a pessoa, que sempre andou alinhada, começa a se descuidar com a aparência ou começa a deixar o carro sujo em vez de se preocupar em mantê-lo limpo e brilhando, como fazia antes.
Da mesma forma, nesta mesma experiência, observamos que sempre temos um enxame de motoboys nas ruas entregando comida, bares repletos de pessoas e shoppings sempre com pessoas comprando alguma coisinha.
Mas a grande questão é saber porque esse tipo de comportamento acontece e se repete até mesmo com pessoas que tiveram acesso à educação em boas escolas ou recebem orientações de profissionais. Você consegue imaginar algum motivo?
Tomando base nas minhas vivências, a questão está muito ligada ao medo de parecer que fracassou. Medo de ser julgado e condenado pelas pessoas próximas ou as não tão próximas assim, que acompanham a sua vida no Instagram e que vão te detonar se você não postar mais uma foto luxando ou ostentando. Precisa mostrar que está bem e por cima da carne seca.
Esse sentimento de medo e vergonha é tão poderoso que leva a pessoa a simplesmente negar o problema no primeiro momento, parar de acompanhar as contas de perto e seguir a vida como se nada tivesse acontecido em uma tentativa ilusória de esconder de si própria a realidade. O que os olhos não veem o coração não sente. Alguém já ouviu essa frase?
Com o tempo, a coisa só vai piorando. Se alguém começar a desconfiar que você está com dificuldades financeiras, a sua reação natural é se esforçar mais ainda para esconder a realidade e começar a gastar o que não tem. “Senta o pau” no cartão de crédito e no cheque especial para manter a pose e o status. Já observaram isso?
E por fim, quando o cartão já não tem mais limite e a situação é insustentável, vem a brilhante ideia de pegar dinheiro emprestado com os amigos, depois no banco, em seguida pagar o mínimo do cartão de crédito até que só restam os agiotas e aí, já viu! A ilusão vira uma dura e dramática realidade.
Entendeu porque o psicólogo é tão importante nesses casos? Esse profissional ajuda, entre outras questões, a entender que não tem porque sentir vergonha. É comum e até mesmo normal (nunca é desejado) que durante a vida adulta a pessoa passe por algum tipo de oscilação ou descontrole financeiro.
E para muitos, o tempo de exercício e cuidado como o corpo também se mostra muito importante, pois ajuda a diminuir a tensão e o stress que, consequentemente, acaba ajudando a racionalizar as questões e pensar com clareza.
Quando falo de planejamento, eu não me refiro única e exclusivamente a fazer cálculos ou monitorar a conta bancária. Isso é importante, porém é apenas uma parte do todo. Planejar significa, entre outras coisas, ter clareza das suas ações, previsão ou ideia das consequências previstas e projetar novas ações para o futuro como o mínimo de previsibilidade do resultado e ter a disciplina para anotar as informações e seguir o plano.
Sei que não é fácil tomar as rédeas da vida e fugir deste padrão de consumo e autossabotagem e o quanto é difícil enxergar a vida sem as lentes da ilusão. Na verdade, o começo é assustador, principalmente se você já estiver todo “empepinado”. Parece até que não tem saída e que a vida é isso mesmo. Viver trabalhando para pagar as contas. Tendo que trabalhar cada vez mais para pagar mais contas que não param de chegar e crescer. E ainda ter que alimentar a ilusão de que está tudo bem para se sentir aceito pelos nossos “amigos” virtuais.
Mas saiba que existe outro caminho e esperança. Pare de ficar se diminuindo e querendo mostrar aos outros o que você não é. Ninguém tem nada a ver com sua vida e certamente nenhuma dessas pessoas que te julgam vai ajudar a pagar as suas contas.
Entenda que você é uma pessoa normal e que pode sim ter problemas financeiros como qualquer outra pessoa e que o caminho mais curto para fugir desta armadilha é encarar o problema de frente. Sem medo ou vergonha e a fazendo boas escolhas.
Mantenha o investimento em sua rede de apoio ou de valorização pessoal. Nada de cortar o que te ajuda a se sentir bem ou organizar os pensamentos. Com certeza, a terapia, academia, o corte de cabelo e aparência organizada irão te ajudar muito mais que a barriga cheia de fast food ou as fotos cheias de glamour e likes na internet.
OPINIÃO
O texto que você terminou de ler apresenta ideias e opiniões da pessoa autora da coluna, que as expressa a partir de sua visão de mundo e da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Umbu.
Parabéns Adelmo! Texto muito bom para reflexão. Como você mesmo disse… Quem nunca passou por estas oscilações ao longo da vida… mas o cuidado com a saúde mental talvez seja tão ou até mais importante que a vida financeira. O segredo é sempre manter o equilíbrio!
Grande abraço!
Reflexão interessante e inteligente….. vamos fazer valer…
Parabéns , texto realista e bastante atual.
Parabéns, Adelmo! Conteúdo muito reflexivo e importante. Acredito que esse tipo de comportamento está ligado aos gatilhos emocionais do dia a dia. Portanto, é essencial reconhecer as armadilhas que podem levar a esse consumo inconsciente, uma vez que, não afeta somente a saúde financeira mas também a física e mental.
Ótima reflexão.
As pessoas vivem mostrando o que não são, mas o que queriam ser, e o querer ser sem poder leva ao caos financeiro.
Ótimo texto! Me traz a reflexão sobre o “Não”, do saber dizer o “não” para as propostas de curtir um fim de semana, ou de ir numa pizzaria implica muito nos resultados, as vezes queremos nos fazer parecer o que não somos, ou mostrar não o que deveriamos mostrar.