
O Campo Grande foi palco de uma das mais emocionantes apresentações do Carnaval de Salvador: o desfile do bloco afro Malê Debalê no Sábado de Carnaval (1º). Considerado o maior balé afro do mundo, com mais de 2 mil dançarinos, o bloco levou beleza e alegria para a avenida com um cortejo cheio de cores, ritmos e expressões culturais. Com cerca de 15 alas, percussão e banda, o Malê Debalê reafirmou seu compromisso com a manutenção das tradições da comunidade negra de Salvador.
“Desde pequena, meus pais me traziam para assistir ao desfile do Malê. Lembro de ficar encantada com a dança. Eu tenho paixão pela dança e pelo bloco do bairro onde eu nasci, cresci e pude acompanhar eles quebrando paradigmas, preconceitos e fazendo com que as pessoas acreditem nelas mesmas”, afirma a dançarina do Malê Debalê, a profissional autônoma Flávia Santos.
Ao longo do desfile, o bloco trouxe uma mensagem de resistência, orgulho e ancestralidade. O tema escolhido pela entidade para o desfile de 2025 foi “Com a pedra que EXU lançou. O Malê reconta a história, 190 anos depois, a Revolta continua”. A Revolta dos Malês foi um dos maiores levantes protagonizados por negros escravizados na Bahia. Realizado no século XIX, o levante completa 190 anos em 2025 e ganhou uma homenagem feita pela agremiação.
Fundador e presidente de honra do Malê Debalê, Josélio de Araújo, falou sobre a importância de resgatar e trabalhar a temática no desfile deste ano: “A Revolta dos Malês. Hoje, estamos celebrando os 190 anos deste levante, que foi um movimento muito importante ocorrido na Bahia, e o Malê Debalê é fruto desse legado de resistência e ancestralidade”, explica.
Criado em 1979, no bairro de Itapuã, onde possui sede até os dias atuais, o Malê Debalê tem história marcada por luta e resistência. O nome do bloco é uma homenagem aos negros muçulmanos que protagonizaram a Revolta dos Malês, ocorrida no século XIX na Bahia. A revolta, liderada por africanos islamizados, teve um impacto profundo na história do estado e é um marco para a preservação e o fortalecimento da identidade negra.
O desfile do Malê Debalê contou com o apoio do programa Ouro Negro, iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA) e do governo do estado. “O Ouro Negro é fundamental para que a gente consiga desfilar. É uma forma de estar aqui na Avenida, no Carnaval de Salvador, para apresentar e celebrar o nosso trabalho educacional que desenvolvemos o ano inteiro”, afirma Josélio de Araújo.