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Construindo uma Economia Inclusiva e Representativa: Reflexões sobre a Realidade Econômica e Racial em Salvador

Foto: Reprodução/Linkedin

O desenvolvimento econômico e social de Salvador, cidade de maioria negra e marcada por uma herança histórica de desigualdades estruturais, reflete a complexidade das relações de poder que ampliam essas disparidades. A capital baiana, assim como outras cidades brasileiras, é palco de relações desiguais entre elites e comunidades vulneráveis, onde interesses imediatistas e centralizadores frequentemente prevalecem sem uma visão estratégica de longo prazo. Essa dinâmica impõe à população negra um “custo econômico e social” raramente discutido de forma abrangente, especialmente nos espaços de decisão sobre políticas econômicas e urbanas.

Ao observar a realidade econômica de Salvador, percebe-se a ausência de um diálogo genuíno sobre a representatividade dos intelectuais e empreendedores negros. Embora suas contribuições sejam fundamentais para o desenvolvimento financeiro da cidade e do país, ainda são limitadas as oportunidades de ascensão e reconhecimento para essa população. Historicamente, algumas lideranças priorizam objetivos pessoais alinhados ao poder político, em vez de projetos institucionais que poderiam beneficiar a todos, perpetuando uma estrutura que ignora as contribuições da população negra e mantém Salvador entre as capitais com menor renda e oportunidades para esse grupo.

A falta de um sistema de comunicação que valorize essas contribuições econômicas e intelectuais foi uma questão que busquei abordar em minha dissertação de mestrado. O Mercafro, empresa fruto desse trabalho, surge com o objetivo de mapear e divulgar as narrativas econômicas e sociais dos afroempreendedores e intelectuais negros. Por meio de estudos econômicos desenvolvidos por pensadores negros, o Mercafro visa mostrar à população negra seu poder de inovação e desenvolvimento, valorizando o potencial econômico de cada bairro de Salvador. Essa abordagem amplia a relevância desse segmento e contribui para incluir essas narrativas em uma agenda nacional, inspirando políticas públicas e mudanças econômicas significativas, conforme apontado por diversos pensadores econômicos negros.

É essencial entender que a economia influencia motivações e comportamentos de empresas e indivíduos. Em Salvador, negócios que favorecem grupos específicos, frequentemente próximos a interesses governamentais, prosperam em detrimento de outras iniciativas que poderiam beneficiar a cidade e sua população. Esse contexto desestimula novas ideias e fomenta uma cultura de dependência do apoio governamental, em vez de promover a inovação e o crescimento inclusivo. Imagine se a população negra tivesse condições financeiras suficientes para consumir e contratar serviços e produtos de empreendedores negros locais. Precisamos idealizar um futuro próspero e romper com a ideia de escassez que limita as oportunidades para esses empreendimentos.

A invisibilidade das posições econômicas ocupadas pela população negra faz com que questões raciais sejam frequentemente desconsideradas nos debates econômicos. Quando discutimos desigualdades econômicas sem considerar o fator racial, deixamos de identificar com precisão as causas dos desafios enfrentados pela população negra. Promover mudanças reais exige que dados e análises incluam a realidade racial, para que possamos compreender o verdadeiro impacto da desigualdade econômica.

Além de reivindicações, é necessário um olhar crítico e novas teorias econômicas que ajudem a esclarecer as nuances da desigualdade racial no Brasil e na diáspora africana. Uma análise mais ampla e criteriosa das relações entre economia e raça permite desenvolver estratégias de desenvolvimento realmente inclusivas e representativas.

A criação de um ambiente empresarial saudável depende de um contexto onde risco e inovação sejam incentivados. No entanto, a prática de beneficiar grupos específicos, motivada por interesses políticos e econômicos, tende a promover um desenvolvimento limitado e com pouca visão de futuro. Em vez de criar empregos de qualidade e impulsionar o crescimento econômico, essa dinâmica concentra os benefícios em uma minoria, enquanto a população negra de Salvador continua a enfrentar grandes desafios.

Construir uma economia inclusiva em Salvador requer políticas que valorizem a riqueza cultural e intelectual da população negra. É necessário desenhar uma estratégia de comunicação que amplifique as contribuições de intelectuais e empreendedores negros e os inclua nas discussões sobre o futuro da cidade. O Mercafro desempenha um papel crucial nesse processo, pois ao destacar essas questões de forma clara e acessível, abre caminho para que Salvador e o Brasil aproveitem o grande potencial financeiro que, por tanto tempo, esteve à margem das discussões econômicas e sociais.

Luciane Reis é publicitária pela UCSAL, especialista em produção de conhecimento para educação online pela Faculdade de Educação da UFBA e mestra em Desenvolvimento e Gestão pela Faculdade de Administração – CIAGS – UFBA.

OPINIÃO

O texto que você terminou de ler apresenta ideias e opiniões da pessoa autora da coluna, que as expressa a partir de sua visão de mundo e da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Umbu.

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