Apresentações e oficinas seguem até a próxima quinta-feira (23)

O Coletivo Meio Tempo, grupo artístico sediado em Salvador, vem se destacando desde sua fundação em 2016 por Ridson Reis e Roquildes Junior. Com uma abordagem que combina arte e engajamento comunitário, o coletivo tem conquistado reconhecimento pela sua contribuição significativa para o cenário cultural local.
Durante o mês de abril, o coletivo esteve no Subúrbio Ferroviário de Salvador, levando arte à comunidade. Já neste mês de maio, Cajazeiras vem sendo palco da iniciativa que, na quinta-feira passada (9), apresentou o espetáculo “Esqueça”, voltado para adolescentes, que não apenas ofereceu uma experiência cativante, mas também mergulhou profundamente na história do Brasil sob a perspectiva dos povos originários. A plateia, de forma leve e espontânea, se entregou à narrativa, pois a peça se destacou ao aproximar o espectador da cena, abordando temas relevantes de maneira envolvente.
Hoje, (16) os olhos estavam voltados para o palco do Boca de Brasa, onde foi apresentado a obra “O Contentor – O Contêiner”. Com texto do aclamado dramaturgo angolano José Mena Abrantes e direção magistral de Ridson Reis, a obra mergulhou fundo nas complexidades das histórias de três homens africanos que buscam uma nova vida na Europa, oferecendo ao público uma experiência teatral intensa e profundamente emotiva.
O espetáculo detém diversas interpretações sobre o tema, principalmente para aqueles que estão envolvidos diretamente com o fazer arte para a periferia, como é o exemplo do produtor cultural e artista Hélito Trindade, 44. Em entrevista ao Portal Umbu, o ele contou de que forma a produção apresentada se relacionou com a vivência negra, artística e periférica: “Eu fiz uma relação desse container com a questão da periferia, que a gente se prende muito. Temos um conteúdo artístico muito grande, porém nos prendemos. A gente não tem refúgio, como por exemplo, quem é contemplado por um edital. Tem esse caminhar, mas quem não tem, fica no grito, como foi mostrado na peça teatral”.
“Trazer o contexto do container, do contentor, para essa realidade, é falar que a gente se prende muito, que está sempre nesse container, nesse escuro, nessa coisa do gritar, do tentar fugir. Mas se nós gritamos e acreditamos na nossa fé, como por exemplo, um ator no momento da apresentação grita: ‘eu sou refugiado’. Essa fé dele, essa coisa de reverberar o interno para o externo acontecer, é bem periferia. É esse grito, essa negritude, é mesmo se saber. Sem questão de cor, de religião, mas aquela coisa, a gente está preso e é guiado, a todo tempo, por uma luz que pode te lançar ou te prender”, comentou.

O espaço Boca de Brasa ainda recebeu o grupo de sambadeiras do bairro, que por sua vez, ficaram encantadas com a produção. Dona Marlene de Jesus, dona de casa de 68 anos, afirmou que sofreu junto com os atores e que se sentiu maravilhada com a composição teatral: “Eu achei maravilhoso. Ainda mais que eu procurei saber de um dos meninos [atores] sobre qual tempo a peça estava se passando e ele me disse que toda a história foi real e se passou alguns anos atrás. Eu perguntei para ele: ‘menino, que história é essa? muito forte’ e eu sofri junto com eles, me emocionei muito, mas foi maravilhoso, amei prestigiar essa peça tão linda. A gente fica sentada, fica achando que é um silêncio o tempo todo, mas ali está acontecendo coisa. Eles estão sofrendo com tudo que está se passando ali”.
Além da performance impactante, a Caravana do Meio Tempo também tem oferecido uma série de atividades enriquecedoras, incluindo oficinas temáticas como “Teatralizando” e “Criando com Celular”. Sob a orientação de Guilherme Hunder e Rogério Vilaronga, respectivamente, essas oficinas têm proporcionado aos participantes a oportunidade de explorar sua criatividade e aprimorar suas habilidades artísticas.
A programação continua a impressionar com a próxima apresentação teatral de “Boquinha… e assim surgiu o mundo”, na próxima quinta-feira (23), prometendo oferecer ao público mais momentos de reflexão e diversão, mas não acaba por aqui. A cidade baixa também receberá o coletivo a partir do mês de junho. Com tantas atividades instigantes e envolventes, a Caravana do Meio Tempo se firma como um ponto de referência no calendário cultural de Salvador, enriquecendo a vida da comunidade e promovendo o acesso à arte de forma inclusiva e acessível.
SOBRE O COLETIVO MEIO TEMPO:
O Coletivo Meio Tempo surgiu em 2016 a partir do reencontro artístico de Ridson Reis e Roquildes Junior, multiartistas soteropolitanos, oriundos do subúrbio ferroviário. Eles haviam trabalhado juntos em 2006 na montagem do Sonho de uma noite de verão, do Bando de Teatro Olodum, e 10 anos depois eles se reencontram para a montagem do espetáculo O Contentor – O Contêiner, baseado na obra do angolano José Mena Abrantes. A peça rendeu a Ridson Reis a indicação do Prêmio Braskem de Teatro na categoria Revelação. Desde então, o coletivo montou três produções, realizou projetos, eventos, participou de mostras e festivais.