A labuta de quem sobrevive do jornalismo está cada dia mais duro. Carimbando meu “lá ele”, prossigo com palavras de esperança. Porque eu quero acreditar que, sim, vivemos tempos mais democráticos e respeitosos com o jornalismo profissional depois que aquela “lá ela” perdeu a tal caneta Bic. Aos que agora estão com a caneta na mão no Executivo federal, estadual e municipal faço minha provocação: se vocês estão preocupados de verdade com as nossas criancinhas, ensinem elas a consumir informação.
Não que eu queira fugir da briga com as big techs, mas o que já po e de ser feito agora, sem precisar de 400 semanas de discussão no Congresso? O que cabe ao poder público e não está sendo feito? A resposta é simples. Dá pra começar agora a promover educação midiática dentro de sala de aula desde os primeiros anos do ensino fundamental. As crianças precisam aprender o que é jornalismo e a importância dele para a democracia; precisam aprender a diferença entre opinião e reportagem; a diferença entre liberdade de expressão e crime; desde os primeiros anos, precisam saber o que são fake news, como identificar e combater; e por aí vai. O que não falta é assunto para preparar o futuro desse país em relação ao consumo de informação.
Porque é fato que não venceremos a guerra contra as big techs. Nenhuma lei ou regulação vai dar conta de frear a velocidade com que a informação – e a desinformação – invadem nossa vida. A geração atual sabe bem o que é isso, ou melhor, não sabe. Não soube lidar e foi violentada por tudo de pior que veio junto com a evolução da tecnologia, com a universalização do acesso à internet e essas coisas todas. Sem educação, a gente recebeu a galinha pulando e se arrebentou todo. Dá pra fazer diferente, o que faltou até agora foi vontade.
Se o jornalismo é um dos pilares da democracia, como muito gestor demagogo gosta de repetir, que o poder público faça sua parte e fortaleça o jornalismo desde a primeira infância em sala de aula. Que faça nossos jovens entenderem a importância da liberdade de imprensa. Isso tem custo, mas dá para fazer com vontade política e não vai desequilibrar o orçamento de ninguém. Imprensa é oposição, como disse Millôr Fernandes, mas também pode ser um grande aliado do poder público nessa missão. É bom para a democracia, bom para a sociedade e bom para a imprensa, que inclusive tende a lucrar mais e se fortalecer com essa formação dentro das escolas, afinal, a tendência é que sua valorização seja convertida em consumo.
Enquanto o Poder Executivo implementa educação midiática como disciplina obrigatória na grade curricular das escolas públicas, legisladores progressistas e amantes da democracia vão às suas assembleias e câmaras trabalhar para que as escolas particulares façam o mesmo, por força de lei. E aí a gente começa a esperançar que as coisas podem, de verdade, mudar. Porque não adianta entrar numa briga com big tech sem fazer o dever de casa.