A presença das quadrilhas juninas durante a 16ª edição do Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas da Bahia na Praça da Revolução, no bairro de Periperi, Subúrbio Ferroviário de Salvador, reforça a importância de se descentralizar a programação de apresentações dos festejos juninos e se expande territórios periféricos por serem locais de origem da maioria destas agremiações.
A Federação Baiana de Quadrilhas Juninas da Bahia (FEBAQ), vem investindo em capacitação e formação de jurados dentro e fora da capital baiana. Estas ações em conjunto, têm sido destaque quando o assunto é avaliar de forma técnica cada ala de apresentação das quadrilhas juninas nos quesitos relacionados a figurino, adereços, harmonia, escolha dos temas, coreografia e cenografia.
Jurados como o historiador e design gráfico Fred Joi, natural de Salvador, que trabalha como articulador cultural em Educação e Carnaval na Bahia. Atualmente jurado do 16º Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas da Bahia, Joi chegou à FEBAQ em 2000, através da Quadrilha Buscapé, do bairro do Engenho Velho de Brotas e, em 2020, recebeu o convite para ser parte do quadro de avaliadores.
Quando perguntado como ex-quadrilheiro, qual a emoção de se tornar um jurado, Fred Joi explica que “cada tempo vivido numa quadrilha junina tem a sua avaliação, a sua estrutura” e até mesmo a variação da quantidade de membros. Para Joi, colocar hoje 40 casais de quadrilheiros numa arena de apresentação é uma prova de superação diante dos desafios financeiros vividos na época anterior a chegada da FEBAQ.
Segundo ele, no passado eram escassas as equipes profissionalizantes de cenografia, figurino, som e etc. “Existiam pessoas autodidatas naquela época. Atualmente os espetáculos juninos são mais profissionais. Uma quadrilha, em 2025, chega a gastar R$ 100.000”, contou, comparando com períodos anteriores. Nessa passagem de tempo, segundo o ex-quadrilheiro, o importante é entender os marcadores de como as quadrilhas evoluíram.
“O interessante é perceber como as pessoas conseguiram transformar uma apresentação que era dentro de uma unidade escolar, em um determinado bairro e transformar num verdadeiro espetáculo a cada apresentação na capital baiana, em concursos estaduais, nacionais ou em seu município de origem.”
Ele analisa que o poder público, “por não conhecer esse ‘celeiro’ que emprega coreógrafos, figurinistas, dançarinos, maquiadores, fotógrafos, cinegrafistas”, acaba não investindo tantos recursos financeiro quanto poderia. “É uma grande ajuda, mas que poderia avançar mais”, reforçou Fred Joi.
Ele conta que as quadrilhas precisam pensar antecipadamente em sua apresentação, já que o trabalho de planejamento requer tempo. “Não adianta pensar numa quadrilha em apenas três ou quatro meses de antecedência que não dá certo”, esclareceu. Diante disso, o historiador frisa as diferenças em se assistir uma quadrilha de grande, médio e pequeno porte financeiro. “Todas as instituições de cultura identitária no Brasil pensam em suas apresentações com um ano de antecedência. Assim também precisa ser as apresentações das quadrilhas juninas no Brasil”.
Os quesitos das quadrilhas são chamados pelos jurados de “periféricos”. A escolha de cada avaliador de quadrilha junina é de acordo com cada formação acadêmica de cada avaliador. “Se ele é músico, ele avaliará a ala de música, se ele trabalha na área cultural ou na área de teatro ele pode trabalhar na área de marcação. Às vezes, durante a apresentação da quadrilha existem erros pequenos nas nuances do conjunto da obra e com um jurado com formação acadêmica voltada para a questão, fica mais fácil pontuar os erros e acertos de forma mais lógica”. Conhecimento do tema, harmonia, organização são alguns dos pontos mais questionados pelos avaliadores. São dadas notas de 08 a 10 em cada etapa de avaliação dos grupos.
Julieta Rodrigues é cantora da banda baiana Marimbada, professora de dança da Escola de Dança da Funceb e tem as festas juninas como a sua base desde a infância por sempre gostar de dançar. Jurada do periférico figurino e casal de reis das quadrilhas juninas, ela conta que, atualmente, quadrilhas juninas são o seu elo com a dança e o ensino de dança folclórica.
Especialista em Dança Regional Popular, conheceu o universo da quadrilha de forma mais técnica através de um integrante de quadrilha junina e se apaixonou. A partir daí, ela conheceu a Federação Baiana de Quadrilhas Juninas e, em 1994, como professora de dança, Julieta Rodrigues se tornou membro atuante do corpo de jurados da FEBAQ.
Para a jurada, paciência e perseverança são os ingredientes principais para o êxito de qualquer quadrilha junina.
“Eu sou muito feliz em ver esses campeonatos e concursos locais, estaduais e nacionais onde a presença das quadrilhas juninas crescem. É um desafio e um avanço ser parte integrante de uma quadrilha atualmente. Gostaria que no meu tempo tivéssemos jurados com o nosso olhar de avaliação mais acolhedor e técnico. Pessoas abertas para a área de conhecimento para o que é feito de uma quadrilha junina atualmente. Quando vivemos uma quadrilha junina, sabemos quais são as dificuldades. Se anteriormente eu tivesse um olhar dessa forma, tudo seria diferente. Tanto para as empresas que financiam, quanto para todos que participam na construção de uma quadrilha”, finalizou.
A programação é gratuita e segue até domingo (15), sempre das 10h às 20h, na Praça da Revolução.
O 16º Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas da Bahia em Periperi é promovido pela Federação Baiana das Quadrilhas Juninas (FEBAQ) e conta com o apoio do Governo do Estado da Bahia.
