Presidente do banco, em nota interna enviada a funcionários, defendeu Cristina Junqueira, CEO da empresa, e negou parceria com produtora

As ações do Nubank fecharam em queda nesta terça-feira (18) depois que o banco digital apareceu nos trending topics do X, antigo Twitter. A empresa ganhou espaço entre os assuntos mais comentados na rede social após clientes anunciarem que encerrariam suas contas por conta de uma publicação de Cristina Junqueira, CEO e cofundadora da marca.
Conforme publicado pela Forbes, a série de eventos pode ser uma coincidência, mas as ações da Nu Holdings (NU), empresa controladora do Nubank no Brasil e demais subsidiárias na América Latina, fecharam em queda de 1,18% para US$ 11,69. A baixa aconteceu após clientes do banco anunciarem que encerrariam suas contas por conta de uma publicação de Junqueira no Instagram. Segundo o Google Finanças, as ações seguem em queda nesta quarta-feira (19), com −0,13 (1,23%) até às 15h55.
A CEO do banco digital publicou, na segunda-feira (17), um story divulgando e agradecendo um convite para participar do evento “We Who Wrestle With God” (Nós que Lutamos com Deus), uma turnê de lançamento do livro homônimo de autoria de Jordan B. Peterson, psicólogo e escritor canadense popular na extrema-direita, conservador e crítico ao movimento LGBTQIA+.

O evento em questão é uma realização da Fronteiras do Pensamento, conta com o apoio da Brasil Paralelo, produtora que ganhou notoriedade pela divulgação de vídeos antivacina durante a pandemia de Covid-19 e que, recentemente, teve um documentário sobre o caso Maria da Panha apontado como uma das influências para ataques misóginos da extrema-direita contra a ativista, que agora conta com proteção do Estado. A produtora é vista como extremista e canal de desinformação.
A Brasil Paralelo foi fundada por Konrad Scorciapino, ex-engenheiro de software do Nubank, responsável pelo desenvolvimento do aplicativo da empresa, e hoje executivo da produtora. Conforme o site Intercept Brasil, banco digital acobertou Scorciapino, que chegou a fazer uma publicação xenofóbica em suas redes sociais. A reportagem também repercutiu uma matéria da Agência Brasil, em que Scorciapino foi apontado como um dos fundadores do 55Chan, fórum conhecido por disseminar crimes de ódio, pornografia e antissemitismo.
Conforme publicado pela Folha de S. Paulo, convites como o recebido por Cristina Junqueira são enviados somente para amigos ou parceiros. Com a repercussão do caso, Junqueira afirmou ao Painel S.A, do mesmo veículo, que o Nubank não tem nenhum tipo de parceria ou vínculo com o Brasil Paralelo, que ainda não se manifestou frente ao caso.
A jornalista Amanda Audi, da Agência Pública, revelou, nesta quarta-feira (19), que o presidente e diretor de operações do Nubank, Youssef Lahrech, enviou uma nota interna aos funcionários do banco, minimizando a publicação de Cristina Junqueira. Originalmente publicada em inglês a nota diz: “O post da rede social de nenhuma maneira viola nosso Código de Conduta. Ele não apoia nenhum conteúdo nem ponto de vista”.
“Nós gostaríamos de reiterar que Cris não tem nenhuma parceria com os organizadores deste evento, nem o Nubank patrocina ou apoia nenhuma destas organizações”, diz outro trecho do comunicado, que ainda reitera que o banco não tem posições políticas nem contribui direta ou indiretamente com movimentos políticos ou religiosos e que “o código de conduta da empresa respeita a liberdade de expressão de seus funcionários e que rejeita qualquer tipo de discriminação ou assédio”.
Ainda segundo a Agência Pública, a nota de Lahrech não repercutiu bem entre os funcionários do banco, que apontaram: “Junqueira é uma figura pública e que a associação com a Brasil Paralelo não poderia ser considerada uma mera opinião política”.
A publicação ainda lembra da participação da CEO Cristina Junqueira no programa Roda Viva, da TV Cultura, em 2020, quando, comentando a dificuldade na contratação de pessoas negras para posições de liderança, ela disse que “não dá para nivelar por baixo”.