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Flip 2024 homenageará João do Rio, jornalista negro considerado um dos pais da crônica

Jornalista negro fez fama no início do século XX como autor de um estilo pioneiro na imprensa carioca

Foto: Reprodução

A 22ª edição da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, vai homenagear o cronista João do Rio. O jornalista negro, que fez fama no início do século XX como autor de um estilo pioneiro na imprensa carioca, será celebrado no evento que acontece de 9 a 13 de outubro.

Segundo o diretor artístico da festa, Mauro Munhoz, o homenageado mudou a maneira de fazer jornalismo no Brasil ao entender o ofício como literatura. O autor quis transformar sua profissão em arte, para Munhoz, e “desempenhou um papel crucial ao documentar a vida urbana do Rio de Janeiro com uma perspectiva única e detalhada”

Ana Lima Cecilio, curadora desta edição da Flip, destaca a intenção de homenagear um cronista, autor de um “gênero totalmente brasileiro”, e diz que João do Rio era uma figura cheia de contradições que ajudam a “explicar o Brasil”.

“Por um lado, era fascinado por Paris, por outro, subia o morro do Rio de Janeiro com muito gosto, da mesma forma que o Rio era uma cidade dividida entre a fome de progresso e o convívio com sua formação”, aponta a livreira.

João do Rio é o quarto escritor negro homenageado pela Flip desde sua criação em 2003, depois de Maria Firmina dos Reis, Lima Barreto e Machado de Assis.

Nascido de pai branco e mãe negra como Paulo Barreto em 1881, João do Rio trabalhou sob outros pseudônimos e foi alçado a uma vaga na Academia Brasileira de Letras aos 29 anos, quando já era popular na imprensa da cidade.

O cronista da “belle époque carioca” publicou 25 livros —entre eles “A Alma Encantadora das Ruas”, de 1908, e “Dentro da Noite”, de 1910 —e mais de 2.500 textos em jornais e revistas.

A obra do autor está em domínio público e tem antologias recentes na Carambaia e na José Olympio, selo da Record, com publicações também pela Companhia de Bolso, Martin Claret e UFMG, entre outras.

João do Rio morreu na mesma cidade em que nasceu, após um ataque cardíaco. O que lembra outra contradição: era tão admirado que arrastou uma multidão de estimadas 100 mil pessoas em seu velório, mas hoje seu nome segue quase esquecido —algo que a Flip deve mudar.

O anúncio do homenageado acontece a quatro meses da festa, e a falta de antecedência nas divulgações da Flip 2024, como a definição da data em que o evento aconteceria, tem gerado queixas de editores.

Ainda não há nenhum autor confirmado publicamente na programação, que será comandada por Cecilio após três anos de curadorias coletivas.

Fonte: Folha de S. Paulo

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