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Relatório revela redução de ataques à imprensa, mas alta de casos de violência no nordeste

Levantamento da Fenaj contabilizou 10 casos de violência contra jornalistas na Bahia em 2023

Foto: Freepik

Os ataques sofridos pelas jornalistas Samara Figueiredo e Cíntia Kelly nas últimas semanas não são casos isolados e revelam que a imprensa segue como alvo de violências e silenciamento. Somente em 2023, foram 181 casos de agressão a profissionais da comunicação, dos quais 66 foram mulheres. A estatística foi menor que em 2022, quando 376 casos de violência foram relatados, mas indica que ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Na última quarta-feira (3), a jornalista Cíntia Kelly, da rádio Excelsior, expôs, em nota pública divulgada em seu Instagram, que foi atacada após ter feito um comentário no exercício de seu trabalho. Os ataques à jornalista teriam sido feitos por apoiadores do ex-deputado Marcell Moraes, depois que a profissional, em uma opinião, comentou sobre uma questão que envolvia o Hospital Público de Salvador. Apenas 3 dias antes, em 31 de abril, outra jornalista também foi atacada enquanto estava trabalhando.

Samara Figueiredo, jornalista da Rede Bahia, foi vítima de agressões verbais enquanto realizava a cobertura da primeira partida entre Bahia e Vitória pela final do Campeonato Baiano, no Barradão. Figueiredo foi alvo de insultos misóginos e gestos obscenos depois que alguns torcedores do rubro-negro tentaram quebrar o vidro de proteção da cabine onde estava o produtor de conteúdo da ECB TV, Antônio Neto.

Conforme publicado pelo Sinjorba, os agressores ainda jogaram um copo de cerveja em Samara e disseram que ela não deveria estar no estádio, pois “ali não é lugar de mulher” e que ela deveria estar “dormindo com alguém” para ocupar a posição que desempenhava. A Polícia Militar precisou intervir.

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Casos como os de Samara e Cíntia acontecem cotidianamente, de diferentes formas: censura, silenciamento, ameaças e agressões físicas e psicológicas. Esse tipo de conduta e suas manifestações são reunidos em relatórios como o “Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil”, da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), para registrar e entender quem agride, por qual motivo agride e quais os principais alvos dos ataques.

Publicado em janeiro deste ano, o relatório aponta que 2023 apresentou uma redução de 51,86% nos casos de violência contra profissionais de imprensa, mas os números seguem preocupantes. O número de ações judiciais que visavam o cerceamento da liberdade de imprensa, por exemplo, saltou de 13 ações ou inquéritos registrados em 2022, para 25 em 2023, representando um crescimento de 92,31%. O dado pode ser analisado ao lado dos números dos grupos que mais atacam jornalistas: políticos, assessores ou familiares (44 casos em 2023), manifestantes de extrema-direita (29), populares (17), policiais militares ou civis (14) e dirigentes, jogadores ou torcedores de futebol (11).

A maioria das vítimas é de homens, sendo 179 profissionais do gênero masculino, o equivalente a 68,2% do total. Ameaças, hostilizações e intimidações, como as sofridas pelas jornalistas Samara Figueiredo e Cíntia Kelly, formam a categoria de violência mais frequente, com 42 registros em 2023. Agressões físicas aparecem bem de perto no ranking, com 40 casos, seguidas de agressões verbais, com 27 episódios relatados e 13 casos de impedimentos ao exercício profissional. Não houve uma análise de recorte étnico-racial.

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A violência contra sindicatos e sindicalistas foi uma das categorias analisadas que apresentou aumento: 266,67%. A estatística saltou de 3 casos, em 2022, para 11, em 2023.

Entre os tipos de mídia mais atacadas, o telejornalismo aparece como principal alvo. Ao menos 81 repórteres de televisão e cinematográficos foram atacados em 2023, como a jornalista Tarsilla Alvarindo. Hoje na TV Bahia, Tarsilla foi vítima de violência física em 16 de janeiro de 2023. À época repórter da RecordTV Bahia, Alvarindo foi agredida com um soco e hostilizada com a equipe de filmagem enquanto estava ao vivo cobrindo a morte de um motociclista em Salvador. O índice de 2023 foi praticamente metade dos casos de 2022, quando 160 jornalistas de televisão foram alvo de alguma violência.

Em segundo lugar aparece a mídia digital, que apresentou 61 casos de agressão a jornalistas que atuavam em portais, sites, blogs ou plataformas, em 2022 e 79 em 2023.

É válido destacar que a redução no número de ataques à imprensa acontece simultaneamente com a saída de Jair Bolsonaro da presidência do país. Durante os quatro anos de seu governo (2019 a 2022), Bolsonaro foi responsável por 570 ataques a veículos de comunicação e a jornalistas, o que daria cerca de 1,5 agressão a cada dois dias e meio.

Casos fatais

Segundo a Fenaj, responsável pela elaboração do relatório, apesar de Thiago Rodrigues, blogueiro e pré-candidato à prefeitura de Guarujá, em São Paulo, ter sido assassinado em dezembro, a morte dele não foi registrada no levantamento por não ser um profissional pertencente à categoria dos jornalistas. Deste modo, não foram relatadas mortes de profissionais da categoria no Brasil.

Pelo mundo, a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) registrou 120 assassinatos de jornalistas. Considerando o período entre 7 de outubro de 2023 a 7 de janeiro de 2024, 85 jornalistas foram mortos somente na região de Gaza, no Oriente Médio, onde ocorre o que membros da comunidade internacional estão chamando de genocídio palestino. Entre os mortos, 78 eram palestinos, 3 libaneses e 4 israelenses. 

Regiões

Única região a apresentar crescimento no número de ataques à imprensa e aos profissionais de jornalismo, o Nordeste apresentou 45 casos de violência à categoria. Em 2022 foram 35. A Bahia foi a principal responsável pela soma, com 10 casos. O estado foi seguido por Alagoas (7 casos), Ceará e Pernambuco (6 cada), Paraíba e Piauí (4 cada), Sergipe e Rio Grande do Norte (3 cada) e Maranhão (2 casos).

Contudo, o primeiro lugar do ranking de violência contra jornalistas entre as regiões brasileiras, foi ocupado pelo Sudeste, que responde por 47 casos dos 181 registrados. São Paulo teve 21 casos, seguido de perto pelo Rio de Janeiro que teve 18. Espírito Santo teve 5 e Minas Gerais, 3 casos.

Completando o pódio, a região Centro-Oeste ficou na terceira posição, depois de ter ocupado o posto de unidade federativa campeã em números de casos entre 2020 e 2022. Foram registrados 40 casos, sendo o Distrito Federal responsável por 21 registros.

A região Sul somou 30 casos, enquanto o Norte, região menos violenta em 2023, foram 19 ocorrências.

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