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“As classes populares produziram cultura e resistência, não as elites”, explica a historiadora, professora e escritora Luciana Brito

Doutora em História pela UFRB e ganhadora do Prêmio Thomas Skidmore 2018, Luciana foi co-curadora da 11ª edição da Flica

Foto: Diego Silva

Historiadora, escritora e professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Luciana da Cruz Brito tem uma trajetória marcada pela observação do mundo à sua volta. “Mulher negra, nascida na cidade de Salvador, oriunda de uma família de pessoas trabalhadoras”, se apresenta.

Candomblecista e mãe, Brito explica a motivação que a levou a se tornar mestra em História Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). ”A História Social se debruça sobre a dinâmica do cotidiano das sociedades e como as pessoas comuns afetam, resistem, reinventam e transformam essa dinâmica cotidiana, ao mesmo tempo que também são afetadas”.

Doutora em História pela UFRB e especialista em questões ligadas à escravidão e às relações racistas no Brasil e nos Estados Unidos, ela recorda a infância dizendo: “desde sempre gosto de observar pessoas e suas formas de viver através das suas atividades mais comuns. Acho que, desde criança, gosto de observar as pessoas. Parar e observar o que acontece ao nosso redor é algo que sempre gostei”.

Desde sempre gosto de observar pessoas e suas formas de viver através das suas atividades mais comuns

“Quando, na universidade, chegou o momento de escolher qual escola teórica e metodológica eu seguiria, não tive dúvidas de que não seria uma abordagem econômica, por exemplo, e sim da História social.”

Em 2023, Luciana Brito foi co-curadora da 11ª edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira, que teve como tema “Poéticas Afroindígenas do Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia”. O fio condutor do evento evidenciou o processo de retomada do protagonismo de grupos sistematicamente apagados como negros, indígenas e mulheres. À época, a professora apontou que o desafio de montar uma programação diversa e inclusiva também tinha sido “norteado pelo cuidado de dar voz e espaço às mais distintas formas de referência no campo [literário e cultural]”.

Pessoas negras, indígenas, as classes populares produziram cultura e resistência […] não as elites

Luciana explica a importância de trazer luz sobre o debate: “pessoas negras, indígenas, as classes populares produziram cultura e resistência. Mas esse é o olhar da História Social sob a história, essas pessoas são as protagonistas, não as elites, os militares”.

Ainda no ano passado, Brito lançou “O Avesso da Raça”, livro que aborda as relações raciais entre Brasil e Estados Unidos no século XIX. Sobre o processo de elaboração da obra, a historiadora conta que: “a obra é o resultado de uma pesquisa de cerca de uma década e, portanto, fruto do investimento brasileiro na ciência produzida no país.”

Ao longo de sua jornada, Luciana Brito fez estágio na Universidade de Nova York (NYU), como bolsista da Fulbright Brasil, foi pesquisadora visitante no Instituto W. E. B. Du Bois para Pesquisa Afro-Americana da Universidade de Harvard, professora visitante no Trinity College e, como bolsista da Andrew W. Mellon Foundation, fez seu pós-doutorado na The City University of New York (CUNY), nos EUA.

É uma oportunidade interessante para divulgar a pesquisa e escutar questões e perspectivas do público

Sobre o lançamento do resultado de tanta pesquisa, ela conta que “são oportunidades de encontrar pessoas que sempre apoiaram minha trajetória acadêmica, mas que também se interessam por História e pesquisa. Todo lançamento é uma oportunidade interessante para divulgar a pesquisa e escutar questões e perspectivas do público”.

“O Avesso da Raça”, no entanto, não é a única publicação de Brito, que já ganhou o Prêmio Thomas Skidmore, em 2018, com o livro “Temores da África: segurança, legislação e população africana na Bahia oitocentista”.

É fundamental ter uma rede de apoio, de afeto, de incentivo e de confiança

Respondendo o questionamento sobre como orienta jovens negras que, como ela, se aprofundam na academia, Luciana diz que a chave é não estar sozinha. “Estudar, disciplina, ler muito e não estar sozinha. Para sobreviver na academia, e em tudo na vida, é fundamental ter uma rede de apoio, de afeto, de incentivo e de confiança”.

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