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Conexão África-Brasil: Muzenza recebe embaixada Gana em seu último desfile na avenida

Celebrando 42 anos de existência, o Bloco Afro Muzenza desfilou três dias de carnaval. A estreia foi no Circuito Osmar (Campo Grande), o segundo dia foi no circuito Dodô (Barra/Ondina) e voltou ao Campo Grande nesta terça-feira (13), com a presença da embaixadora de Gana, Abena Busia.

“A música percussiva, as fantasias nas vestimentas, os desfiles em grupos afrocentrados. Tudo isso nos é familiar. A Bahia tem muito da África, especialmente características de Gana, por isso é emocionante fazer esse intercâmbio”, falou a embaixadora.

O Muzenza levou para as ruas o tema “Reggae, futebol e arte”, em homenagem à memória do jogador de futebol Pelé, que faleceu em 2022. Com base no samba reggae, o Muzenza chegou ao com uma ala composta por 300 integrantes do movimento rastafári, além de 70 percussionistas e seis alas repletas de dançarinos e dançarinas capoeiristas, baianas e percussão. “Queremos mais uma vez abrilhantar o Carnaval durante o nosso desfile, falando um pouco de Reggae, futebol e arte, com muita plasticidade, brilhantismo e a batida incomparável da percussão, marca registrada do Muzenza”, comentou Jorge dos Santos, presidente do bloco.

O abre alas das baianas apresentou um lindo espetáculo artístico. Os vestidos foram produzidos com materiais recicláveis – como garrafas pet e embalagens plásticas de alimentos -, construídos pelas mãos das mulheres do Grupo Eterna Juventude, da Casa Cultura do Idoso, no Pelourinho.  O grupo é formado por idosas que superaram o câncer, mas tiveram consequências físicas. Joaquim Assis, criador do grupo e artista plástico responsável pela concepção da ala, disse que esse é um momento marcante para aquelas mulheres, de “elevação da autoestima a identificação”. Ele pontuou também a importância de levar para o circuito a conscientização sobre a preservação ao meio ambiente.

A artista plástica Rita Prata produziu um vestido todo em garrafa pet junto com as mulheres do grupo. “Aqui tem a mão de todas as mulheres. Cada roupa produzida carrega um pedacinho de cada uma, com suas histórias belíssimas”, celebra.

O grupo Samba Gana também participou do desfile. Ele foi fundado por Akua Apraku, uma ganesa que aprendeu e ensina a dança do samba no país africano. “É muito emocionante estar aqui e ver essa celebração. Vim de uma família de mulheres fortes e empoderadas e quero conhecer o mundo e levar um pouco da nossa representação”, disse Akua. A dançarina Faustina Odame,  integrante do grupo, também desfilou. Elas estavam com vestimentas que representam o carnaval das escolas de samba.

Cultura rastafari:

O Muzenza é conhecido como o “bloco do reggae” e traz uma ala de rastafaris. Débora Pereira, foliã e rastafari desde os 13 anos, fala que tem uma relação afetuosa com o bloco. “Nosso movimento significa união”, disse.

Beto Polêmico, 64 anos, é um folião antigo e acompanha desde a fundação do bloco. Atualmente ele é presidente da “Ala de Rastas”. Beto estava reunido na concentração com um grupo de amigas, também rastas, e disse que sempre desfila “com a família toda rastafari”. Ao seu lado estava Mêrces de Jesus, 65 anos, que declarou amor ao Muzenza. “Estou no bloco desde os primeiros anos. Logo quando surgiu a ala de rastafaris eu decidi participar”, relembra. E ainda acrescentou: “Cresci no Pelourinho vendo a cultura rastafari, lugar onde o Muzenza tem história. Não tem como não amar esse bloco”.

Nascido no bairro da Liberdade, em 5 de maio de 1981, desde sua fundação, o bloco traz a mensagem libertária que tem a identidade e referência do ídolo Bob Marley.

Foto: Nathane Santana

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