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“Quando as pessoas procuram o bloco Alvorada elas não estão vindo para uma entidade de Carnaval, elas veem para uma família”, conta Vadinho França, diretor-geral do bloco de samba Alvorada

São 49 anos trazendo o bloco para a rua e evidenciando o que há de melhor para os foliões: samba e alegria

Foto: Adriane Rocha

No contexto efervescente do Carnaval de Salvador, os blocos de samba assumem um papel de destaque na preservação e celebração da herança cultural afro-brasileira. Entre esses blocos, o Alvorada se destaca como um exemplo emblemático da autenticidade e vitalidade dessa expressão artística, que não apenas anima a avenida com seu ritmo contagiante, mas também reforça a importância das comunidades afrodescendentes nesse cenário festivo.

Com 49 anos de história, o Bloco Alvorada tem sido um ponto de referência para os foliões, proporcionando momentos de samba e alegria. Vadinho relembra os primórdios do grupo, destacando a vontade compartilhada de fazer samba nos intervalos das aulas e nos fins de semana, unindo pessoas de diferentes áreas da cidade. “O Alvorada surgiu em uma brincadeira de colégio, no Severino Vieira. No colégio existiam dois grupos: o que eu fazia parte e um outro, onde tínhamos em comum a vontade de fazer samba nos intervalos das aulas. Às vezes, no final de semana, tinha algumas brincadeiras pelo bairro de Nazaré e a maioria das pessoas desses grupos morava no centro da cidade, Independência, Gravatá, Politeama, Pelourinho”, explicou.

“Foi aí que surgiu a ideia de criar um bloco, só que naquela época, há 49 anos atrás, o Carnaval tinha seus dias já formalizados que era no domingo, segunda e terça-feira. No sábado, se arriscavam dois blocos por três, que eram o Caderno se é Melhor’, que era um bloco ligado ao pessoal da base aérea. O  ‘Filho de Filosofia’, que era aqui em Nazaré – onde hoje funciona o Ministério Público. E tinha à noite, aqui na Barraquinha, um bloco também chamado Barroquinha Zero Hora’. Criamos a situação do bloco sair sexta-feira, que seria a única maneira de se enturmar. Até porque naquela época cada um já tinha seus blocos preferidos, no Carnaval de domingo, segunda e terça, eu gostava, né? Aí nós queremos um dia.”

O nome “Alvorada” foi escolhido como uma representação do momento em que o bloco saía para desfilar, trazendo consigo a luz do amanhecer e a promessa de um novo dia. A vestimenta branca adotada pelo bloco também tinha um significado especial: trazer a ideia de que as pessoas acordavam para ver o Alvorada passar e, com isso, iriam com seus trajes do momento, que, coincidentemente, era um lençol. “Então traz essa ideia da roupa branca, mas essa roupa branca, que era um roupão. Ele vem encaixar com o nome Alvorada.”

“A roupa era como se fosse um lençol, um lençol dava a ideia de estar passando o bloco e as pessoas estarem dormindo, e vestiam a roupa e iam com o lençol para brincar o Carnaval”, contou Vadinho.

Começo

Em entrevista ao Portal Umbu, o presidente e folião relembra com felicidade os caminhos que o bloco passou ao longo desses anos. “Nós descemos aqui pela Joana Angélica, a ladeira da praça tava ainda na operação de montagem do Carnaval. Aí foi levando, levando. Na realidade, nós demos muita sorte no primeiro ano, nós saímos com muita gente, 10 mulheres e, mais ou menos, 20 homens e nós partimos com o bloco e o carro de som, que tinha que ter um som para propagar as músicas. Até o dia do Alvorada sair, apareceram 5 ou 6 sambas que hoje a gente tem como hino, marcando o momento inicial do bloco”, relatou.

“E aí nós conseguimos uma kombi, porque naquela época também tínhamos dificuldades na questão de som, não existia trio, eram carros com cornetas tipo boca de alto falante, se assemelha hoje com o carro do ovo. Era desse jeito que a gente fazia carnaval.  Nós saímos com essa kombi, muitos compositores de nome fizeram suas músicas e o bloco foi caminhando.”

Depois, nós ganhamos outro sentido que era o lençol, ele perdurou por muito tempo com uma palinha e essa palinha se efetivou no Alvorada por muito tempo. A gente trocava o chapéu e aí começamos a criar os desenhos, alguns artistas plásticos fizeram e nos ajudaram com os desenhos, as fantasias.”

“Por muito tempo a gente não tinha como bancar a quantidade de lençóis para o Carnaval, aí a gente comprava uma quantidade para comercializar e, com a proximidade do Carnaval, a gente já não tinha como ir comprar os lençóis.  Para facilitar àqueles que queriam estar dentro do Alvorada brincando, tinha um rapaz que trazia o lençol e a gente cobrava uma taxa para a costura desse lençol, aí a coisa foi surgindo. Depois nós tivemos que tirar o lençol porque o bloco se tornou mais querido, todo mundo queria estar dentro e aí houve o jeitinho brasileiro para as pessoas estarem dentro e não pagar. Quando vimos que o bloco estava grande, a gente começou a  dividir esse lençol e a fazer uma fantasia da cintura para cima. Nós tivemos que abdicar  do lençol que era a tradição era muito parecido com uma mortalha daquela época”, contou o presidente do bloco.

Foto: Adriane Rocha
Homenagem à História

Ao longo dos anos, o Bloco Alvorada passou por diversas transformações, adaptando-se às demandas e expectativas dos foliões. Desde a substituição dos lençóis por fantasias mais práticas até a mudança de trajeto para ganhar maior visibilidade midiática, o grupo tem se mantido fiel à sua essência, priorizando a união e a diversão de seus associados. “Nós começamos a convidar grandes atrações por causa do mercado, porque o mercado começou a investir em público e em grandes atrações”, comentou Vadinho sobre a evolução do bloco ao longo dos anos. No entanto, ele ressaltou que, apesar das mudanças, o verdadeiro valor do Bloco Alvorada reside na comunidade que o sustenta e na atmosfera de camaradagem que permeia cada evento.

Com quase cinco décadas de história, o Bloco Alvorada continua a ser uma fonte de inspiração e celebração para todos aqueles que compartilham sua paixão pelo samba e pelo Carnaval.

“Quando as pessoas procuram o Bloco Alvorada, elas não estão vindo para uma entidade de Carnaval, elas vêm para uma família, é isso que o Alvorada é, família”.

Neste Carnaval, o Bloco Alvorada decidiu homenagear o Samba Junino, uma manifestação cultural profundamente enraizada na história de Salvador. Com um desfile marcado para o dia 9 de fevereiro de 2024, no circuito Osmar, a agremiação promete encantar os foliões com a energia contagiante desse estilo único de samba. Essa escolha do tema não é apenas uma celebração da música e da dança, mas também uma reverência à história e à identidade do povo soteropolitano.

O Samba Junino, reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial de Salvador, completa 50 anos de existência, demonstrando sua resiliência e sua importância para a cultura local. Ao destacar essa manifestação artística no desfile do Carnaval de 2024, o Bloco Alvorada não apenas enaltece sua tradição, mas também valoriza a diversidade e a riqueza cultural da cidade.

Foto: Adriane Rocha

Essa homenagem não poderia ser mais oportuna, pois resgata e preserva uma parte essencial da herança cultural afro-brasileira. Além disso, ao celebrar o Samba Junino, o Alvorada reforça seu compromisso com a promoção da igualdade e da inclusão, oferecendo um espaço para que todos os foliões possam se conectar com suas raízes e se orgulhar de sua identidade.

“O Samba Junino está completando 50 anos e, junto com o samba-reggae, é genuinamente soteropolitano e vem lutando há muito tempo pelo fortalecimento do segmento e são vitoriosos pelo reconhecimento do setor público. Além de ter uma história parecida com a do Alvorada, que completa 49 anos de uma história de resistência, perseverança e amor ao samba”, explicitou Vadinho França.

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