Vixe! Fui chamada para escrever, novamente, sobre arte, teatro, cultura…
Passados uns bons anos, olha o convite de novo e olha eu com medo, de novo! E vou contar uma coisa, que a galera da UMBU não sabe… Um dos meus sonhos era escrever para a revista VIDA SIMPLES. E, agora estou eu aqui ES.CRE.VEN.DO para uma revista virtual, idealizada por mulheres negras… Um sonho! Obrigada, meninas!
Essa emoção toda me fez lembrar que tem uma frase de Jung (acho que é dele) que diz que se fugimos daquilo que mais tememos, esse medo tende a crescer e não desaparece! Eita, chegou a hora, né, Mariana?!
Pronto! COMECEI!
Cá estou, escrevendo para este portal de notícias e cultura da nossa cidade de Salvador. E quer saber? Tô amando esse medo que sinto e sei que é por me meter a fazer algo COMPLETAMENTE diferente daquilo que faço, mas que tem um gostinho de aventura… Minha dissertação de mestrado vai agradecer por eu resolver escrever, finalmente. Eu sei que…
…tá na hora de CRESCER!
…tá na hora de EXPANDIR!
Bom, eu vou escrever, mas antes eu pensei logo:
-Será? Não sou especialista em crítica de arte, não sou escritora, não fiz letras etc…
Saí justificando, internamente, com um monte de falas que fui logo querendo me invalidar. Mas lembrei do vídeo que assisti recentemente da escritora e poetisa, Conceição Evaristo, onde ela fala que “Não se espera que uma mulher negra escreva. Se espera que ela dance, cante, mas nunca que escreva!”.
Evaristo é a responsável por eu estar aqui fazendo esse exercício de escrevivência e poder escrever sobre a arte, e como ela impacta minha vida, como ela transforma a de tantas pessoas e como devemos lutar por ela diariamente na nossa cultura.
A arte é minha coluna vertebral! Essa é uma frase que digo sempre. Foi o teatro que me ensinou a andar, a falar, a estudar, a ler, a interpretar o mundo, a desenvolver uma percepção crítica, a melhorar minhas relações interpessoais, a me emocionar com o mundo, a conhecer a nossa história… A arte me formou e me deu a possibilidade de a e me DESMONTAR e poder questioná-la!
A arte me mostrou mais do que o certo e o errado, o bonito e o belo, o adequado. Ela destruiu meus frágeis valores e me mostrou a gama infinita de possibilidades emocionais que pode estar contida numa única fala como “ser ou não ser?”. Me deu a possibilidade de duvidar, de investigar, de escolher, depois de muito tempo de exploração, o melhor gesto.
Me mostrou variados status de um movimento que pode acontecer a 5% ou a 95%. Me estimulou a pesquisar na vida, observar as pessoas, entender suas motivações, a ter compaixão por seres grotescos!
Pude observar de perto a força da coletividade, os múltiplos talentos abraçados numa única finalidade e aprendi a escutar a mesma deixa de uma personagem em variadas noites com atenta surpresa. A errar com graça e acertar com tranquilidade.
Através da linguagem artística do teatro, eu conheci a arte do figurino, da iluminação, da dança, da expressão corporal, da cenografia e seus elementos de cena, da maquiagem, da sonoplastia e da direção musical, da fotografia, do designer, da dramaturgia e conheci A ARTE DE FALAR!
Além de atriz e produtora cultural, me tornei educadora e quis apoiar milhares de pessoas a interagirem com a ARTE dentro da sua ampla generosidade para o auto desenvolvimento do Ser na Fala Pública.
Eu sou uma artista! E educadora antirracista! Na vida e da cena! Não existo sem pensar que a arte circula em minha veias e por isso, querides, escrevo aqui, como Conceição Evaristo, só depois dos 40 anos, a fazer minhas ESCREVIVÊNCIAS na/com/para a arte.
Ah! Eu preciso FALAR. Comecei…
por Mariana Freire
Foto: Reprodução/Teatro Vila Velha