“Escritor de renome e figura central no movimento literário indígena do país. Sua voz é fundamental para o cenário atual, pois é elo entre a rica herança cultural e histórica dos povos originários e a literatura nacional”, diz nota da ABL
O escritor, ativista ambiental e líder indígena Ailton Krenak se tornou primeiro representante dos povos originários a ser eleito para a Academia Brasileira de Letras, nesta quinta-feira (5). O novo imortal passa a ocupar a cadeira de número 5, que foi do historiador José Murilo de Carvalho, falecido em agosto, aos 83 anos.
Ailton é o primeiro indígena a integrar ABL. Natural de Itabirinha, Minas Gerais, o poeta, filósofo e ambientalista é da etnia Krenak e recebeu 23 votos na eleição, que aconteceu na sede da Academia, no Rio de Janeiro, passando a ser o sétimo a ocupar a cadeira que foi da escritora Rachel de Queiróz. Ailton Krenak concorreu com o também indígena, Daniel Munduruku, que recebeu 4 votos, e com a historiadora Mary Del Priore, que recebeu 12 votos.
Outros concorrentes à cadeira foram Raquel Naveira, Antônio Hélio da Silva, J. M. Monteirás, Chirles Oliveira Santos, José Cesar Castro Alves Ferreira, Gabriel Nascentes, Ney Robinson Suassuna, Denilson Marques da Silva, José Ricardo dos Santos Rodrigues, Martinho Ramalho de Melo, Luiz Coronel e Maria Madalena Eleutério de Barros Lima.
Com histórico de luta política, Krenak participou da criação da União das Nações Indígenas, enfrentando a ditadura militar na década de 1970. O ativista subiu à tribuna durante a Assembleia Constituinte e defendeu o direito à terra e o respeito às populações indígenas. Ailton recebeu o título de doutor honoris causa pelas Universidades de Brasília e Juiz de Fora (MG) e é responsável pela criação de um centro de estudos indígenas.
Ativista ambiental e pelos direitos dos povos originários, Krenak é autor de obras que se opõe à sociedade do consumo como “Ideias para adiar o fim do mundo” e “A vida não é útil”, recebendo da União Brasileira dos Escritores, o prêmio Juca Pato de intelectual do ano em 2020. Contando sua jornada por terras indígenas entre as décadas de 1980 e 1990, Ailton publicou, este ano, o livro “Um rio um pássaro”.
Pelo Facebook, a ABL divulgou um comunicado sobre a eleição.
“É com alegria que anunciamos a chegada de Ailton Krenak à ABL. Ele foi eleito com 23 votos, dos 39 votos possíveis, na tarde desta quinta-feira, dia 5 de outubro. O novo Acadêmico ocupará a cadeira nº. 5, vaga desde o falecimento de José Murilo de Carvalho. Ailton Krenak é escritor de renome e figura central no movimento literário indígena do país. Sua voz é fundamental para o cenário atual, pois é elo entre a rica herança cultural e histórica dos povos originários e a literatura nacional. Esta eleição é um marco na ABL, que reafirma o seu compromisso em promover a diversidade e a inclusão na instituição e na literatura brasileira. Seja bem-vindo à Casa de Machado de Assis, Ailton Krenak!”
Composta por 40 membros efetivos e perpétuos, e 20 sócios correspondentes estrangeiros, a Academia Brasileira de Letras foi inaugurada em 20 de julho de 1897, tendo entre os patronos o escritor Machado de Assis e o jurista Ruy Barbosa.