
Sonhos a realizar, obstáculos para driblar e barreiras para derrubar. A vivência de uma mulher é única e carregada de especificidade, mas há empecilhos que são comuns para a experiência feminina nos dias de hoje: sexismo, machismo, subalternização e as mais diversas formas de opressão e violência, sejam raciais ou econômicas.
Pensando nos desafios do cotidiano e na esperança necessária para se manter de pé frente ao sistema, neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o Portal Umbu te convida a conhecer histórias reais, livremente inspiradas na realidade e fictícias de mulheres que cansaram de se dobrar, que resistiram apesar das adversidades do caminho, , mas que se recusaram a se entregar. Confira
Filhas do Vento
Lançado em 2005 e protagonizado por Léa Garcia e Ruth de Souza, “Filhas do Vento” é um longa-metragem de drama escrito e dirigido por Joel Zito Araújo. Na história, que se passa em Lavras Novas, Minas Gerais, as irmãs Cida e Ju são criadas pelo severo pai, Zé das Bicicletas, até que uma delas foge de casa para ser atriz, enquanto a outra casa-se, fica na cidade e cuida do pai.
As duas se reencontram 45 anos depois, no enterro dele, mas o tempo não diminui o rancor do passado, nem as marcas de suas histórias. O elenco é composto por Milton Gonçalves, Taís Araújo, Thalma de Freitas, Rocco Pitanga, Maria Ceiça, Zózimo Bulbul, Dani Ornelas e Jonas Bloch.
Como nossos pais

Durante um almoço de domingo, Rosa (Maria Ribeiro) recebe uma notícia bombástica de sua mãe. Lançado em 2017 e com direção de Laís Bodanzky, o longa aborda os desafios das relações entre pais e filhos, sem perder o charme e a delicadeza necessária para tratar o assunto.
Rosa é uma mulher que almeja a perfeição como profissional, mãe, filha, esposa e amante. Filha de intelectuais e mãe de duas meninas pré-adolescentes, ela se vê pressionada pelas duas gerações que exigem que ela seja engajada, moderna e onipresente. Completam o elenco Paulo Vilhena, Clarisse Abujamra, Jorge Mautner, Felipe Rocha, Gilda Nomacce, Cazé Peçanha e Herson Capri.
O Quarto de Despejo

Publicado pela primeira vez em 1960, “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” é um livro autobiográfico de Carolina Maria de Jesus no qual a autora relata seu cotidiano como moradora da antiga favela do Canindé, em São Paulo. Considerado um marco na escrita feminina brasileira, a obra aborda as dificuldades de Carolina, entre os anos 1955 e 1960, como o sofrimento a realidade na periferia, a angústia da penúria e a fome enquanto se divide como mãe e catadora de papel.
Em 2024, a obra foi transformada em peça teatral protagonizada pela atriz Cyda Moreno, que, em entrevista ao Portal Umbu à época, falou sobre a importância de contar as histórias de heroínas reais que, assim como Carolina Maria de Jesus, inspiram mulheres negras.
Corpo Desfeito

Relacionando extremismo religioso e opressão ao corpo feminino, Jarrid Arraes conta, em “Corpo Desfeito”, a história de Amanda, uma menina de 12 anos que mora sozinha com a avó desde a morte da mãe e do avô em uma cidade do interior do Ceará.
A protagonista enfrenta desafios cruéis e dolorosos pelas mãos daquela que devia ser seu porto seguro, enquanto experimenta o primeiro amor e o surgimento da força necessária para superar qualquer obstáculo.
A Cor Púrpura

Escrito por Alice Walker, “A Cor Púrpura” foi publicado pela primeira vez em 1982 e conta a história de Celie, mulher preta que vivendo nos Estados Unidos do começo do século XX, vivencia uma série de violências a partir do momento em que sua mãe morre e fica sob os desmandos do pai.
Guiada em uma jornada de autodescoberta, a mulher precisa driblar as violências de um casamento arranjado enquanto se apega à fé de que um dia reencontrará sua irmã, despejada por não aceitar as investidas de agressores, e os filhos que lhes foram tirados pouco depois do nascimento.
A obra inspirou dois filmes: um protagonizado por Whoopi Goldberg, em 1985 e outro protagonizado por Fantasia Barrino, em 2023. Há ainda uma adaptação para o teatro musical, lançado em 2005 e vencedor de 11 prêmios Tony, que teve montagens no Brasil a partir de 2019, com adaptação de Artur Xexéo.
Disque Jane

Dirigido por Phyllis Nagy e lançado em 2022, “Disque Jane” (Call Jane) acompanha o drama de Joy Griffin, personagem de Elizabeth Banks, uma dona de casa que descobre uma ameaça à sua vida: uma gravidez já em curso. Vivendo em plena década de 1960, a personagem se vê colocada contra a parede pelos médicos que se recusam a ajudá-la realizando interrompendo a gestação.
Desestabilizada quando a tão desejada gravidez passa a ser um risco de vida, Joy acaba se deparando com o grupo “Janes”, uma organização clandestina de mulheres que lhe dará uma alternativa mais segura e, no processo, mudará sua vida. Completam o elenco Sigourney Weaver, Kate Mara, Wunmi Mosaku e Chris Messina. O filme está disponível na Amazon Prime Video.
Kim Jiyoung, nascida em 1982

Escrito por Cho Nam-Joo e publicado em 2016, o livro narra a vida de Kim Ji-young, uma mulher de quase 30 anos que, depois de largar o emprego para cuidar da filha recém-nascida em tempo integral, passa se comportar de maneira diferente e personificar vozes de outras mulheres conhecidas ― vivas e mortas ―, como sua mãe e irmã mais velha, e as histórias de pessoas ligadas a elas.
Sob a vigilância constante dos homens ao seu redor, como o pai, o marido, professores e colegas de trabalho, Kim Jiyoung passa vociferar a resistência feminina na Coreia do SUl, tem sua vai contra os avanços da Coreia do Sul, expondo os impactos da desigualdade de gênero e o machismo na sociedade em que ela está inserida.
A obra inspirou um filme de mesmo nome, lançado em 2019, dirigido por Kim Do-young e estrelado por Jung Yu-mi, que interpreta a protagonista, e Gong Yoo.
Por um Feminismo Afro-Latino-Americano

Com organização de Flavia Rios e Márcia Lima, Por um feminismo afro-latino-americano reúne em um só volume um panorama amplo da obra desta pensadora tão múltipla quanto engajada. São textos produzidos durante um período efervescente que compreende quase duas décadas de história — de 1979 a 1994 — e que marca os anseios democráticos do Brasil e de outros países da América Latina e do Caribe.
Além dos ensaios já consagrados, fazem parte desse legado artigos de Lélia que saíram na imprensa, entrevistas antológicas, traduções inéditas e escritos dispersos, como a carta endereçada a Chacrinha, o Velho Guerreiro. O livro traz ainda uma introdução crítica e cronologia de vida e obra da autora.
Irreverente, interseccional, decolonial, polifônica, erudita e ao mesmo tempo popular, Lélia Gonzalez transitava da filosofia às ciências sociais, da psicanálise ao samba e aos terreiros de candomblé. Deu voz ao pretuguês, cunhou a categoria de amefricanidade, universalizou-se e tornou-se um ícone para o feminismo negro.
O Parque das Irmãs Magníficas

Escrito por Camila Sosa Villada e publicado em 2021, “O Parque das Irmãs Magníficas” apresenta a experiência da autora convivendo com um grupo de travestis na cidade de Córdoba, na Argentina, nos primeiros anos depois da transição. Na trama, Tia Encarna, uma travesti de 178 anos, encontra um bebê abandonado no meio da noite e decide adotá-lo, modificando para sempre sua vida e também a de suas amigas.
Baseada em sua chegada à cidade de Córdoba e no acolhimento recebido entre as travestis do Parque Sarmiento, a obra de Camila Sosa Villada é um rito de iniciação, um conto de fadas ou uma história de terror, o retrato de uma identidade de grupo, um manifesto explosivo onde convergem duas facetas da comunidade trans, as quais fascinam e repelem sociedades no mundo inteiro: a fúria travesti e a festa que há em ser travesti.
E eu não sou uma mulher?: Mulheres negras e feminismo

Sojourner Truth, mulher negra que havia sido escravizada e se tornou oradora depois de liberta em 1827, denunciou, em 1851, na Women’s Convention – no discurso que ficou conhecido como “Ain’t I a Woman” – que o ativismo de sufragistas e abolicionistas brancas e ricas excluía mulheres negras e pobres. A partir do discurso de Truth, que dá título ao livro, bell hooks discute o racismo e sexismo presentes no movimento pelos direitos civis e no feminista, desde o sufrágio até os anos 1970.
Além de examinar o impacto do sexismo nas mulheres negras durante a escravidão, a desvalorização da mulheridade negra, o sexismo dos homens brancos e negros, o racismo entre as feministas, os estereótipos atribuídos a mulheres negras, o imperialismo do patriarcado e o envolvimento da mulher negra com o feminismo, hooks pretende levar nosso pensamento além das suposições racistas e sexistas . O resultado é um trabalho revolucionário , um livro imprescindível, a ser lido por todas as pessoas que lutam para tornar o mundo um lugar livre de opressões de raça, cor, classe e gênero.
Menção honrosa: O Conto da Aia

Escrito por Margaret Atwood e publicado em 1985, “O Conto da Aia” acompanha Offred, uma aia da República de Gilead, um lugar onde as mulheres são proibidas de ler, trabalhar e manter amizades. Ela serve na casa do Comandante e de sua esposa, e sob a nova ordem social ela tem apenas um propósito: uma vez por mês, deve deitar-se de costas e rezar para que o Comandante a engravide, porque em uma época de declínio da natalidade, Offred e as outras aias têm valor apenas se forem férteis.
Em meio à opressão e do conservadorismo dominantes, Offred se recorda dos anos anteriores a Gilead, quando era uma mulher independente, com um emprego, uma família e um nome próprio. Hoje, suas lembranças e sua vontade de sobreviver são atos de rebeldia.
Popular por seu caráter profético, a obra de Atwood já foi adaptada para cinema, ópera, balé e uma premiada série de TV.