Autor e influencer literário baiano, Deko traz para a mídia assuntos da comunidade LGBTQIAPN+ e da infância
Deko Lipe é soteropolitano, publicitário, escritor, criador de conteúdo literário no Primeira Orelha. Ele é autor de “Meus pais e eu” e “O brincoder de Pepe”, seu primeiro livro infantil lançado em 2022 pela Ligadinho (Se Liga Editorial).
Em entrevista ao Portal Umbu, Deko contou que, por causa da universidade, acabou se afastando da literatura. Foi ao se dar conta do acontecimento que surgiu a ideia de fundar o Primeira Orelha.
“Numa fila de sessão de autógrafos , conheci um grupo de pessoas que me incentivaram bastante a continuar lendo a série da autora e que era pra criar algo para internet, que eu era muito descontraído e tal… e foi em 25 de março de 2018, no almoço do aniversário de uma amiga, que pensei no nome Primeira Orelha. Não havia nenhum registro nas redes sociais, e assim surgiu o projeto”, revela Deko.
Ele conta que a iniciativa surgiu para ‘desencalhar’ livros que tinha e nunca leu, entretanto, apesar de, em geral, essas obras eram sempre romances heterossexuais. Ao estabelecer contatos com outras pessoas, ele confessou ter descoberto histórias com protagonistas LGBTQIAPN+ e escritos por pessoas da sua comunidade.
“A partir daí, decidi ir afunilando minhas leituras, me dediquei mais a obras protagonizadas e escritas por pessoas da minha comunidade”, completa.
E, assim, juntando o útil ao agradável, Deko, movido por trazer maior notoriedade para comunidade, lança em 2022 o seu primeiro livro infantil com temática LGBTQIAPN+ “O brincoder de Pepe”.
“Eu sempre fui amante e completamente encantado com essa vertente da literatura [infantil]. Daí, me questionei sobre o porquê de não juntar dois universos que tanto insistem em nos distanciar? Então, tornei esse espaço um lugar de acolhimento e diversidade para todas as idades. Um faz-de-conta que inclui”, disse.
Ao longo desses cinco anos de Primeira Orelha, o influenciador literário conquistou diversos espaços na cena da literatura. No ano passado, Deko mediou uma das principais mesas da Bienal do Livro da Bahia 2022, a da Paula Pimenta (autora das sagas Minha Vida Fora De Série e Fazendo Meu Filme), com a atriz Bela Fernandes (intérprete da personagem Fanny na adaptação cinematográfica de Fazendo Meu Filme).
Sobre isso, ele explica que nunca imaginou estar nesses ambientes por sempre estar à margem. Entretanto, agora, ele protagoniza um dos principais perfis soteropolitanos quando o assunto é literatura e representatividade.
“Poder falar livre e abertamente sobre o que tenho produzido e sendo quem sou, sem precisar me esconder é libertador. Tenho me orgulhado bastante de ser essa voz, porém sempre buscando trazer mais dos meus”, conta.
”Paula Pimenta é uma referencia de uma juventude. O convite para essa mediação causou ‘leves surtos e tênis’“, brincou. “Foi um turbilhão de emoções. Fiquei contente em saber que ela tem tido um olhar mais atento à como incluir outras existências além da cis, hetero e branca em suas obras, como o seu próprio público tem cobrado, e isso foi visto nas participações das leitoras dela na Bienal”, continuou.
Além deste feito, Deko também participou do bate-papo com Clara Alves, autora de Conectadas e Romance Real (livros da comunidade LGBTQIAPN+), que figuraram no ranking de mais vendidos da Amazon Brasil, na Livraria LDM, em novembro de 2022.
”Clarinha é um fenômeno e estar com ela é sempre um honra para mim. Além de uma amiga querida, ela tem dado voz onde jamais poderíamos imaginar alcançar. Nosso bate-papo na livraria foi mais uma confirmação de que podemos ocupar os lugares que desejamos e que nossas histórias podem ecoar entre tantas pessoas jovens, como foi o caso do encontro na LDM. A livraria lotada, adolescentes emocionadas em ter essa oportunidade de escutar alguém tão gigante como ela. É sempre uma alegria poder falar sobre nossa literatura”, confessou Deko.
Celebração do Orgulho LGBTQIAPN+
Neste mês de junho é comemorado o Orgulho da Comunidade LGBTQIAPN+. O mês foi escolhido por causa dos eventos históricos ocorridos em 28 de junho de 1969, conhecidos como a Rebelião de Stonewall, em Nova York. Esses acontecimentos marcaram o início do movimento pelos direitos e visibilidade da comunidade LGBTQIAPN+.
Sobre o mês, Deko comentou que ele “serve para lembrar e mostrar que estamos aqui além dele [do mês]”, ou seja, que os gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, queers, não-binários, trangêneros e demais, não publicam apenas na celebração.
“Estamos cansados de ser marginalizados e não sermos vistos. Agora estamos no topo das listas dos mais vendidos, estamos sendo traduzidos, estamos lotando espaços, estamos no lugar que merecemos. A resposta disso está neste público, que já nasceu se encontrando e também cansado dos clichês apenas cis, hetero. Acredito que, cada jovem que nos consome é um passo que damos e um armário que nunca mais voltaremos”, confessou o escritor.
“Quero acreditar que um dia esse mês será apenas para enfatizar a importância do respeito à nossa comunidade. Lembrando sempre que, para hoje estarmos aqui, precisou de uma mulher trans negra (Marsha P. Johnson) e uma mulher trans latina (Sylvia Rivera) estarem lado a lado, pela nossa libertação e os nossos direitos. Sem elas, não poderíamos estar escrevendo nossas histórias, consumindo nossos livros e nem ocupando nossos espaços. Espero que a literatura feita e protagonizada por pessoas LGBTQIAPN+ continue salvando vidas. Assim como me salva todo dia”, finalizou Deko.