
Fundado em 2017 por Alan Rangel, professor e doutor em Ciências Sociais, junto a colegas da Universidade Federal da Bahia, o portal Soteroprosa nasceu com a proposta de produzir conteúdo acessível, capaz de dialogar tanto com o público acadêmico quanto com leitores do dia a dia. Um dos maiores e mais antigos sites independentes em atividade de Salvador, o portal passou por algumas mudanças ao longo do tempo e planeja novidades.
“A ideia era sair do conteúdo academicista, mais engessado, e oferecer textos que qualquer pessoa pudesse compreender, sem abrir mão de aprofundamentos para quem quisesse ir além”, explica Rangel. Segundo ele, desde o início houve a preocupação de reunir pessoas de áreas distintas para enriquecer o debate, como a abordagem do futebol com pitadas de filosofia. “Já tivemos colaboradores de pedagogia, letras, psicologia, música, ciências naturais. Sempre buscamos pluralidade de olhares e de perfis. A gente consegue abarcar desde análises acadêmicas até resenhas de livros, séries e peças de teatro”.
Karla Fontoura, escritora, redatora e hoje diretora-executiva no site, chegou ao projeto de forma inusitada. “Na Bahia a gente chama de ousadia”, brincou. “Normalmente eles convidavam os autores, mas eu simplesmente achei o site, gostei e perguntei se podia entrar. Fiz uma entrevista, publiquei três textos de teste e fiquei”, lembra. Sua estreia trouxe pautas como maternidade e gênero, que se somaram a outras frentes de debate do Soteroprosa. “Isso é o legal daqui: a gente vai agregando pluralidades, novas perspectivas”. Hoje, 15 colunistas escrevem para o portal.
Durante a pandemia, o grupo ampliou a atuação, incorporando novos formatos de mídia. “Nós investimos em Spotify, lives no YouTube e no Instagram, e abrimos espaço para material literário porque muitos dos nossos colunistas também escrevem prosa, crônica e poesia”, relata Karla. Entre as transmissões, ela destaca as lives conduzidas pela colunista Áurea, de Paulo Afonso, sobre a experiência universitária. “Ela conversou, por exemplo, sobre o que é ser uma mulher negra no ambiente acadêmico, convidando outras mulheres negras para refletir sobre isso”. Entre convidados das transmissões, figuram nomes como Maria Marighella, Lazzo Matumbi, Sarajane, Alan Miranda e Aladilce Souza.
No campo dos podcasts, a variedade de pautas é marca registrada. Karla cita como exemplo um episódio que discutiu o caso “Piada é Crime?”, envolvendo o comediante Léo Lins. “Tivemos convidados com visões completamente diferentes: uma atriz trouxe a perspectiva artística, uma advogada explicou o lado jurídico, e colunistas debateram sobre liberdade de expressão e limites do humor. Essa pluralidade é muito rica”.
Do acervo do site, que já ultrapassa 1.460 textos, também surgiram dois livros, sendo um em 2019 e outro entre 2022 e 2023, que reuniram artigos autorais sobre temas contemporâneos. Agora, no ano em que chega aos oito anos de atividade, o portal se prepara para um novo passo: a criação da Editora Soteroprosa.
“Como é tudo voluntário, a gente não tem recurso financeiro. A editora vem para resolver dois pontos: gerar receita e abrir espaço para escritores baianos publicarem seus trabalhos dentro da nossa linha editorial”, explica Karla. “Vamos começar com e-books, com possibilidade de livros físicos no futuro. Queremos que o selo seja reconhecido, que possa participar de eventos literários e investir em divulgação. Nossa causa é fortalecer a literatura e o pensamento crítico produzido aqui”.

Rangel ressalta que o projeto também preservará os valores do portal. “Não queremos ser apenas mais uma editora. O que publicarmos vai ter caráter educativo, reflexivo e opinativo, sempre ligado a questões democráticas e de direitos humanos. É por isso que a gente está estruturando tudo com cuidado para que a primeira publicação já mostre a que viemos”.
Outro projeto que anima a equipe é o Soterobola, iniciativa proposta pela colunista Jacqueline Gama. A ideia é transformar o debate que já acontecia espontaneamente nas reuniões do grupo, muitas vezes durante jogos, em um programa fixo no YouTube. “Vai ser uma live depois de partidas selecionadas, com foco no futebol do Nordeste, mas também cobrindo o cenário nacional”, explica Karla.
A proposta é discutir o esporte para além das quatro linhas. “A gente quer discutir futebol além das quatro linhas. Queremos falar de questões como feminismo, pautas LGBTQ+, política, economia do futebol e desigualdade de recursos entre regiões. É um espaço para analisar o jogo, mas também o contexto social e cultural que o cerca”, detalha Rangel. “E o diferencial é que, em vez de jornalistas esportivos ou ex-jogadores, teremos acadêmicos, professores, filósofos, historiadores, geógrafos, cientistas políticos. Vai ser uma coisa muito sui generis, particular com pessoas com formações acadêmicas diferentes da área de comunicação”.
O projeto pode ser uma forma de alcançar novos públicos usando o amor do brasileiro pelo futebol como atrativo para participar de debates sobre investimento no esporte no Nordeste, economia e política internacional.
Apesar de todos os desafios, como a falta de patrocínio e o trabalho integralmente voluntário, o Soteroprosa já colhe reconhecimento: textos do portal têm sido usados como referência em provas universitárias e em debates acadêmicos. O texto “O certo a ser feito: as marcas do utilitarismo no nosso dia-a-dia”, do colunista Carlos Henrique Cardoso, por exemplo, já foi utilizado em uma prova do Instituto Federal (IF) do Pará.
Para 2025, o objetivo é fortalecer a presença digital, ampliar a produção audiovisual e consolidar a participação na cena literária baiana. “A gente quer discutir, se aprofundar sobre temas diversos que você vai concordar, você vai discordar, mas a gente está ali para colocar o nosso local. Então a gente vai usar o máximo que a gente tem para mostrar”, conclui Karla.
Sou um dos colunistas. Tenho muito orgulho de fazer parte desse time!
Muito orgulho de nosso trabalho.