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Portal UMBU

“Se não existe, eu crio”, diz a escritora e jornalista Roberta Gurriti sobre a ausência de narrativas pretas na literatura

Em entrevista ao portal Umbu, Roberta Gurriti fala sobre o início da sua carreira, a ausência de pessoas pretas na literatura e a representatividade destes na imprensa

Quando começou a escrever, a jornalista Roberta Gurriti tinha apenas 14 anos. Na época, ela utilizava a plataforma Wattpad, um espaço onde é possível ler e escrever histórias, para publicar suas fanfics, narrativas ficcionais confeccionadas e divulgadas por fãs. De lá para cá, a literatura se tornou cada vez mais presente na vida da jornalista e o hobby de adolescente virou profissão.

Atualmente, Roberta assina uma coluna no site da Capricho, onde escreve sobre livros, comportamento e entretenimento. Em seu Instagram, a jornalista ainda produz conteúdos para os seus seguidores sobre o universo da literatura. Em entrevista ao repórter Jadson Luigi, do Portal Umbu, Roberta Gurriti fala sobre o início da sua carreira, a ausência de pessoas pretas na literatura e a representatividade destes na imprensa. Boa leitura!

“Eu estava na oitava série ainda quando eu decidi publicar fanfics. Desde então, dei uma pausa até que voltei a escrever e, no ano passado, idealizei uma antologia de Natal, onde tinha seis histórias de autores pretos, contando comigo. Foi incrível essa experiência”, diz.

‘6 Desejos de Natal’ é uma antologia que reúne vários autores, sendo cinco mulheres e um homem. A proposta da obra é fugir do estereótipo criado pelos filmes norte-americanos, tradicionalmente protagonizados por personagens brancos. A antologia foi publicada pela Se Liga Editora e reúne textos dos autores Day Borges, Maria Ferreira, Karoline Dias, Karine Ribeiro e Matheus Lima.

“Acho que é basicamente o que a gente [leitores negros] precisava, porque se você pesquisar sobre romances, ele [o gênero] é majoritariamente escrito por mulheres, mas a gente ainda não tem, em comparação com mulheres brancas, muitas mulheres pretas publicadas no mercado. Isso tem mudado bastante. Mas é preciso percorrer um caminho ainda”, explica.

“Eu iria escrever sozinha, mas eu vi a necessidade de ter mais histórias pretas envolvendo o Natal, que é a minha época favorita do ano no mundo. Quando fui procurar livros com temáticas de Natal com autoras pretas e personagens pretos para colocar em um post, tive uma dificuldade imensa com a pesquisa e existem muito menos do que eu gostaria. Então, tenho muito um lema comigo que é: se não existe [uma história], eu crio”, conta.

Se expressando desde muito cedo, através da criação de histórias, Roberta acredita que já nasceu comunicadora. “Se eu te disser que eu já nasci assim, vai ser muito fantasioso, né? Mas eu acho que os vídeos que tenho de seis, oito e 10 anos, eles comprovam que sempre quis isso para minha vida”, revela.

Roberta conta que, desde criança, já escrevia contos e roteiros. Mas a comunicação não ficou restrita só à escrita e Gurriti criou um canal de vídeos no YouTube. Na plataforma, a jornalista aproveitou para explorar o universo da Barbie no formato de novelas.

A reportagem do Portal Umbu perguntou a Roberta sobre como ela se sente ocupando um espaço como colunista na revista Capricho. O título já foi alvo de críticas por reforçar a estética branca em suas publicações.

“É muito importante e é de uma responsabilidade imensa, porque quando a gente recebe mensagens são ‘nossa, você é minha inspiração’, ‘você está onde eu sempre sonhei chegar’. Então receber esse retorno é muito emocionante. Eu não sei quanto tempo demorou para a Capricho ter uma pessoa preta na matéria de capa, mas sei que são muitos anos”, diz.

“Já atuei em outras revistas, mas hoje trabalho como jornalista na Capricho, ganhando, escrevendo matérias sobre a cultura preta, etc. Numa revista que sempre foi meu sonho e uma meta de carreira”, declara.

Novos projetos

Em abril de 2023, Roberta promoveu uma iniciativa interessante ao idealizar o Squad de Creators Pretos de Literatura e Entretenimento na agência Tambor Biz_. “Hoje sou agenciada e agente”._ Segundo Roberta, a iniciativa vem como resposta a uma onda de racismo ocorrida no bookinstagram (criação de conteúdo literário feito no Instagram).

“Eu sou muito do ‘o que é que eu tenho e o que é que eu posso compartilhar para ajudar outras pessoas como eu’. Então, falei com o Vitor, que é agente da Tambor Biz, de criar um squad para pessoas pretas que fale sobre literatura preta, que é o meu nicho, com o objetivo de dar oportunidade para que elas trabalhem com as marcas”, explica.

Quando conversamos com Roberta, ela estava desenvolvendo um novo livro que segue com a proposta de resgatar o protagonismo negro.

“É um livro em que estou imensamente realizada, pois, vai ser meu primeiro romance solo, a minha estreia. É um romance com protagonismo negro, que se passa na Bahia, onde o Oscar [a premiação de filmes] vai acontecer pela primeira vez aqui em Salvador”, revela.

“Essa protagonista tem o sonho de trabalhar com entretenimento e vai fazer o corre dela para estar neste espaço. Em meio a isso, ela vai conhecer um ator que é muito badalado em Hollywood que virá para Salvador e por causa de uma coisa muito específica, eles vão se conhecer e o romance vai desenrolar”, conta.

Sobre o livro, Roberta diz que transfere muitos dos seus sonhos, pensamentos e aspirações para a personagem. “Claro que uma coisa e outra, é ficção, mas empresto muita coisa minha para a personagem. O livro tem muito de Salvador também”, antecipa.

De acordo com a autora, a meta é lançar o trabalho durante a Bienal do Livro da Bahia que, nesta edição, será realizada entre os dias 26 de abril a 1° de maio.

Foto: Divulgação/Tambor.Biz

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