Durante uma das reuniões de orientação financeira que conduzo para um grupo que buscou auxílio, estávamos falando sobre a mudança de governo, as perspectivas sobre futuro da economia e as consequências para a sociedade nos próximos anos. E, entre uma fala e outra, surgiu uma afirmação que me chamou muito a atenção: “Eu não me preocupo com economia, governo… e nem faço reserva. Se houver alguma necessidade, eu uso um dos meus cinco cartões de crédito.”
Eu ouvi e, de imediato, me veio à mente um vídeo que circula nas redes sociais que diz mais ou menos assim: “Se eu ganho R$ 2.000 e tenho um cartão com limite de R$ 5.000, na verdade, eu tenho R$ 7.000 para gastar”.
Então eu respirei, entendi que isso é consequência da falta de orientação financeira e que, por esse motivo, ele veio buscar ajuda. Procurei uma forma sincera, porém tranquila de contrapor tal afirmação sem ofendê-lo ou afastá-lo das reuniões. Afinal, afastado, ele não ajudará em nada e eu não conseguirei uma mudança de visão. Pior: permitirei que esse tipo de pensamento encontre mais ouvidos.
Então resolvi argumentar: “Verdade que tendo cinco cartões, realmente, você conseguirá, no momento, resolver uma questão financeira. Mas como pretende pagar essa conta?”
Tenho certeza de que todos já parcelaram ou conhecem alguém que precisou parcelar a compra de algum produto ou serviço alguma vez na vida. Isso é normal, principalmente quando se trata da aquisição de bens duráveis, como geladeira, fogão, micro-ondas e televisores.
A maioria da população brasileira usa o parcelamento do cartão de crédito para esse fim, mesmo porque, sem a facilidade do parcelamento sem juros, dificilmente uma pessoa que tem remuneração de um salário mínimo conseguiria comprar uma geladeira ou um televisor que custam muito mais que os cerca de R$ 1.300 brutos que recebem no fim do mês. Nesse aspecto, o parcelamento é instrumento de inclusão social, de acesso e melhoria da autoestima do trabalhador que pode equipar sua casa com o mínimo de conforto.
O uso do cartão de créditos por si só não é nenhum problema e pode, inclusive, ser uma grande vantagem, já que, além do parcelamento, existem muitos pacotes de benefícios como acúmulo de milhas (compra de passagens aéreas) e cashback (devolução em dinheiro de parte do valor pago entre outros. O perigo está no acúmulo de créditos, que dá a falsa sensação de riqueza e poder de compra, e na falta de controle dos gastos.
Vamos lá, vou tentar explicar algumas coisas desta relação ‘consumidor x cartão de crédito’ que podem ajudar na tomada de decisões daqui para frente.
Primeiro: o limite do cartão não é seu salário, ele não é seu. Entendeu? Esse limite do cartão de crédito – assim como o cheque especial do banco – nada mais é que uma linha de crédito pré-aprovada que você pode usar durante um período “sem juros”, desde que, no dia do vencimento da fatura, você tenha o dinheiro para pagar. Caso não tenha, você acabou de contratar o empréstimo mais caro no universo. A armadilha perfeita!!!
Segundo: compra parcelada é apenas uma divisão do valor total e não uma redução do valor. Ou seja, se você comprou alguma coisa de R$ 1.000 em 10 vezes. Você vai pagar R$ 100 durante os próximos dez meses. O que você fez, na verdade, foi uma antecipação do seu salário, entendeu? Não! Peraí… se você se compromete a pagar R$ 100 pelos próximos dez meses, isso significa que do salário que você ainda vai receber, com R$ 100 você já não pode mais contar.
Terceiro: fazer muitas compras parceladas pode ser um risco porque as parcelas se somam e você vai ter que pagar o somatório do mês no dia do vencimento.
Exemplo: Em janeiro, você comprou uma geladeira de R$ 2.000, em 10 vezes. Serão dez parcelas de R$ 200, de fevereiro até novembro. Em fevereiro, você comprou um micro-ondas de R$ 1.000, também em 10 vezes. Neste caso, serão dez parcelas de R$ 100 de março até dezembro.
Como base neste exemplo, perceba que, do mês de março até o mês de novembro, você já terá comprometido o valor de R$ 300 que é a soma dos R$ 200 da geladeira e os R$ 100 do micro-ondas. E por aí vai…
Quarto: mesmo pagando em dia as faturas, o seu limite de crédito diminui à medida que você vai fazendo compras parceladas. Se seu limite é de R$ 2.000 e você tem R$ 1.000,00 em compras parceladas, a sua linha de crédito caiu pela metade e vai voltar a crescer à medida que você for pagando as parcelas. Já notou isso? É por isso que muitas pessoas possuem mais de um cartão de crédito.
Acho que já deu para entender a mensagem, né, meu povo? Não existe crime nenhum em ter cartão de crédito e usá-lo, desde que saibamos o que estamos fazendo e que se tenha o mínimo de controle dos gastos. Uma planilha, uma caderneta, um caderno ou até mesmo anotar no calendário os valores e a duração das parcelas. Crédito não é salário, é apenas um empréstimo e muito do caro. Fique ligado!
Caso a coisa já tenha saído do controle, minha sugestão é buscar uma forma de negociar a dívida o mais rápido possível, ligar para a operadora do cartão e solicitar o parcelamento da dívida ou para o banco onde você tem conta (talvez os juros sejam mais baixos) e dar um fim no cartão. Isso mesmo. Quebrar o danado em pedacinhos, até as coisas voltarem ao normal.
E aí, você também tem cinco cartões?
Sensacional, neste discurso o ponto fulcral foi bem colocado a necessidade de ter uma boa educação financeira.
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Cartões de crédito
Uma verdadeira Bola de Neve pra quem não sabe utilizar
Amigo, ja caí nessa armadilha do cartão de crédito mal administrado por mim. Hoje pago tudo a vista se possivel
Vou ter que me organizar baseado nesse artigo parabéns!
Parabéns bem esclarecido…
Parabéns pelo texto. Concordo que o cartão de crédito é uma armadilha perigosa.