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Primeiro time de Daniel Alves, Bahia lança campanha contra a “Cultura do Estupro”

Iniciativa do tricolor acontece quando o futebol masculino está no centro de dois escândalos envolvendo estupros de mulheres

O Esporte Clube Bahia iniciou nesta sexta-feira (22), uma campanha contra a “cultura do estupro”. No vídeo publicado em suas redes sociais, o time tricolor convida o universo do futebol a entrar no debate. Na peça, uma mulher aparece deitada em uma banheira. Ela aparenta acordar desorientada sem saber onde está. Enquanto o narrador reproduz falas machistas, um homem vai enchendo o recipiente até afogá-la.

No vídeo, diversas falas e pensamentos machistas são despejados em cima de uma atriz que se encontra presa dentro de uma banheira suja. A cada frase dita, o nível d’água vai subindo enquanto ela luta para não sufocar. O que chama atenção, são frases comuns em rodas masculinas ou como parte do galanteio de homens para as mulheres.

“‘Deixe de besteira que um psiuzinho na rua não mata ninguém’. ‘Se não for para lavar, passar e cozinhar, para mim não serve’”, diz o narrador. “‘Rapaz, a novinha, poder ter a idade que for, dando mole para mim…’, ‘Mulher minha não se arruma para sair sozinha. Será mesmo que ela não quis?”, continua.

“Se você pensa e tem atitudes machistas, você alimenta uma cultura: a cultura do estupro”, afirma uma mulher na peça publicitária, que é encerrada com a frase “a culpa é sua, o corpo não”.

O Esporte Clube Bahia foi o primeiro time em que o jogador Daniel Alves atuou. Não é a primeira vez que o time se posiciona com campanhas de cunho racial para público externo, que vai além da sua torcida. Recentemente, o Bahia retirou do seu museu uma imagem de Daniel Alves, condenado a quatro anos e meio de prisão por agressão sexual.

O clube de Salvador está fazendo diversas ações convidando a comunidade do futebol para o debate contra a violência contra mulher. Assim, o mês de março está sendo visto como o mês para falar sobre o feminicídio.

A iniciativa do tricolor acontece quando o futebol masculino está no centro de dois escândalos envolvendo estupros de mulheres. Nesta semana, o jogador Robinho foi preso pelo crime de estupro coletivo na Itália, enquanto o jogador Daniel Alves foi condenado pelo crime de agressão sexual na Espanha. Relembre os casos:

Caso Daniel Alves

Em fevereiro, a Justiça da Espanha condenou o jogador baiano Daniel Alves a 4 anos e 6 meses de prisão pelo crime de estupro. Alves foi condenado pelo crime de agressão sexual contra uma jovem de 23 anos ocorrido na boate Sutton, em Barcelona, na Espanha.

Nesta quarta-feira (20), porém, o Tribunal na Espanha acatou um pedido de liberdade provisória feito pela defesa do jogador. No entanto, o atleta perdeu o prazo para pagar € 1 milhão (cerca de R$ 5,4 milhões) de fiança. Como não depositou a quantia dentro do prazo definido, seguirá detido na Espanha (ele tem cidadania brasileira e espanhola) até que seja definida uma nova data.

Ainda ontem (22), o Ministério Público Espanhol entrou com um recurso contra a concessão da liberdade provisória para o jogador. A promotoria argumenta que existe risco de fuga do condenado caso ele saia da prisão. O MP destacou que Daniel foi condenado a uma pena de prisão de quatro anos e seis meses.

Robinho

Na quarta-feira (20), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu por 9 votos a 2 pela prisão do ex-jogador Robinho em solo brasileiro pelo crime de estupro coletivo, cometido na Itália em 2013. Ele foi condenado a 9 anos de detenção.

Os ministros também formaram maioria pelo cumprimento imediato da pena. Este pedido agora vai para a Justiça Federal de Santos, que tratará de executá-lo.
Robinho e mais cinco amigos foram denunciados por estupro por uma mulher albanesa. O caso aconteceu no dia 22 de janeiro de 2013, na boate Sio Cafe, em Milão, na Itália. Até o momento, apenas ele e Ricardo Falco foram condenados.
Ontem (22), o jogador foi encaminhado para a a penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, a P2, em Tremembé (SP),

Silêncio

Durante todo o período em que Daniel Alves esteve preso na Espanha e ao longo do julgamento que o condenou pelo crime, chamou a atenção da sociedade, o pacto de silêncio da comunidade esportiva brasileira.

A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, questionou, nesta quinta-feira (21), o silêncio do mundo do futebol sobre as condenações por estupro de Robinho e Daniel Alves.

Leila está em Londres como chefe da delegação da seleção brasileira, que disputa um amistoso contra a Inglaterra no estádio de Wembley, no sábado (23).

“Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação, tenho que me posicionar sobre os casos do Robinho e Daniel Alves”, disse ao UOL.

“Isso é um tapa na cara de todas nós, mulheres, especialmente o caso do Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte”, complementou.

Repercussões 

As jogadoras da seleção brasileira, Ary Borges e Kerolin questionaram o silêncio de atletas do futebol masculino a respeito dos casos de Robinho e Daniel Alves. Após pronunciamento de Leila Pereira, presidente do Palmeiras, Ary Borges questionou se apenas mulheres falariam sobre os casos. A jogadora do Racing Louisville, dos EUA, ainda elogiou a postura da dirigente do Verdão.

“Ela [Leila] mostrou que é isso que pessoas em posições de impacto precisam fazer. Mas será que até quando apenas mulheres vão continuar se expondo, sozinhas a repudiar situações como essa, ou no caso, CRIME como estes?”, questiona Ary Borges, em seu perfil nas redes sociais.

Kerolin seguiu a linha da companheira de seleção e cobrou posicionamento de nomes influentes do futebol masculino. “Leila Pereira, gigante, como mulher se posicionou e digo mais, mostrou como pessoas que tem voz, espaço, influência poderiam se posicionar. Até quando só mulheres? Até quando mulheres irão continuar sofrendo esses e outros tipos de crimes e as pessoas que cometem sairão ilesas?”, disse a jogadora.

Somente após os pronunciamentos das jogadoras e de Leila Pereira, a CBF enfim manifestou posição acerca do caso. Em nota assinada pelo presidente Ednaldo Rodrigues, classifica as condenações dos jogadores como “um ponto final em um dos mais nefastos capítulos do futebol brasileiro”.

O dirigente diz que a CBF, seus dirigentes e membros da comissão técnica se solidarizam com as vítimas dos crimes cometidos por Daniel Alves e por Robinho. E disse ser “vergonhoso que um atleta se sinta confortável para cometer esse tipo de perversidade acreditando que aquilo que conquistou pelo esporte vá de alguma forma lhe blindar de qualquer punição”.

Foto: Reprodução/X

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