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Prêmio Bahia Aplaude 2025 exalta força do teatro independente baiano

Foto: Iracema Chequer/Vane Casaes

Com uma plateia lotada de fazedores de cultura da Bahia e do Brasil, a 30ª edição do Prêmio Bahia Aplaude reafirmou a força da cena do teatro independente na noite desta quinta (29), nas instalações do Teatro Sesc Casa do Comércio.

Em uma noite histórica e cercada de homenagens aos que lutam pela cultura nos palcos do Brasil e do mundo, nomes como Thiago Romero, Jarbas Bittencourt, Ângela Daltro, Kátia Leal, Paulo Henrique Alcântara, Liz Novais, Filêmon Cafezeiro e Elísio Lopes Jr. mostraram o tão conhecido jargão musical “O que é que a baiana tem”, cantado pela atriz e cantora teatral luso-brasileira, Carmem Miranda, mostrando que a Bahia tem “o molho”.

“Vivemos a expectativa dessa noite de gala para o teatro na Bahia. Aguardar todas as personalidades, os indicados, os premiados dos anos anteriores e as homenagens, nos garante que todos que passaram e passarão por aqui ficarão bastante surpresos com o processo desse evento preparado especialmente para receber essa classe. Estamos aqui muito felizes e agradecidos por mais esse ano desse prêmio que renova a esperança no teatro baiano. Estamos precisando dessa força, dessa energia, desse resultado para que tenhamos melhores públicos e que o teatro volte a se renovar como antigamente”, vibrou Dalmo Peres, gestor da Caderno 2 Produções, sobre a edição que celebra a resistência do teatro baiano e que tem a assinatura de roteiro e direção artística de Ridson Reis, direção musical de Jarbas Bittencourt e coreografia de Arismar Adoté.

A presidente da Funarte, Maria Marighella, também marcou presença no tapete vermelho da premiação de 2025 do teatro baiano. Criada em 1975, a Fundação Nacional de Artes – Funarte é o órgão do Governo Federal Brasileiro que tem como missão promover e incentivar a produção, a prática e o desenvolvimento das artes no país.

“Trinta anos desse prêmio que celebra o teatro baiano. Primeiro a gente tem que falar que nós somos teatro baiano, que Wagner Moura, o primeiro ator brasileiro a ganhar um prêmio em Cannes, é teatro baiano. A gente precisa celebrar esse chão, essa terra que é de criação, de criatividade, de intenção, de linguagem e de subjetividade. São trinta anos celebrando o teatro baiano. A cada edição ela fala de um tempo. Todo tempo é um horizonte. Todo tempo é uma mirada para uma cena. Estamos falando de teatro baiano, mas também podemos falar dessa cena conjugada no plural”, reforçou a gestora da Funarte.

Foto: Iracema Chequer/Vane Casaes

Para Marighella, cada edição do prêmio é um panorama dessa “coisa gigante” chamada teatro, que “nos faz mergulhar não só no que os atores e fazedores de teatro conquistaram, mas sobretudo naquilo que ainda é necessário alcançar”. Atriz, ela afirma que todo espetáculo deve ser celebrado e que o teatro é um fazer imenso, “uma luta imensa para se colocar em cena, mas ao mesmo tempo o teatro se completa no outro. Ele se completa com o seu próprio público e ele se conta e se divulga a cada apresentação”.

Vencedora da categoria performance com a peça “Noiva”, a atriz Ângela Daltro trouxe toda a sua família para a 30ª edição do Bahia Aplaude. Emocionada, a atriz entrou no tapete vermelho ao lado da sua mãe, Margarida Sousa, professora de magistério, e sua filha, já contando a sua jornada de resistência nas três gerações de mulheres da sua família. Com vinte anos de carreira no teatro baiano, a artista faz questão de levar toda a sua família ao teatro tanto nas suas apresentações como nas suas indicações a premiações.

“É uma honra, para mim, estar presente nesse momento histórico. Sou uma mulher negra e tenho consciência de todos que abriram caminho para que eu pudesse me fazer presente aqui neste momento falando de um assunto atual e necessário que é a violência contra a mulher. A gente debate tanto sobre essa situação que deveria acabar e não deveria nem existir já que é a mulher que pariu toda essa sociedade”, exaltou Ângela Daltro.

Trazendo o tema “Central dos Sonhos: o show começa aqui”, o espetáculo de premiação levou a plateia ao túnel do tempo em homenagens que levaram ao palco nomes que são referências dos fazedores de cultura e mobilizadores das artes como Yumara Rodrigues, Antônio Godi, Carlos Pitta, Ery, Wanda Chase, Augusto Conceição, Wilson D’Argolo, Edy Star e Franco Barreto.

Chase, baiana de 27 anos, é estudante de teatro e operadora de telemarketing, apaixonada por premiações de teatro, conheceu o Prêmio Bahia Aplaude pela primeira vez a convite da atriz e articuladora de cultura Vadinha Moura e estava encantada.

Foto: Iracema Chequer/Vane Casaes

“Estou encantada. Sou muito apaixonada por isso tudo. Eu acho que são premiações muito importantes. Valorizar nossos artistas baianos é sensacional. Estou sem palavras. Eu já me emocionei muito aqui pois eu sinto como se estivesse vivendo um sonho”, vibrou a jovem estudante do Curso Técnico de Teatro do Instituto Central Isaias Alves – ICEIA, dizendo ainda que eventos como o Bahia Aplaude 2025 deveriam acontecer em mais espaços e que a Bahia pode falar ainda mais de arte para crianças, adolescentes e jovens.

A escritora, professora e produtora cultural Regina Luz, mãe de Larissa Luz indicada como Melhor Atriz por sua atuação na peça Torto Arado, falou ao Portal Umbu sobre a emoção do momento e suas expectativas.

“Só em estar aqui, a peça Torto Arado ter sido indicada e minha filha ter sido indicada também, já é muito, já é um sinal de que as coisas estão mudando e estão melhores. Minha expectativa é que a arte vença, que a arte seja contemplada sempre. Esse é um espaço grandioso e é claro que eu quero que minha filha ganhe em todas as premiações que ela venha a ser indicada e que Torto Arado ganhe como melhor peça, estarei sempre presente para torcer por isso. E caso não ganhe, é nossa Bahia que está ganhando. É nossa vitória sempre”, vibrou Regina Luz. Enquanto produtora cultural e escritora, a fomentadora de cultura e letramento acadêmico na Bahia também exaltou a esperança citando a filósofa afro-americana Patricia Hill Collins e afirmando estar se sentindo bem feliz diante da atual cena preta do teatro do Brasil.

O diretor e escritor Elísio Lopes Jr, ganhador da categoria Espetáculo Adulto, falou da importância da 30ª edição do Bahia Aplaude e sobre a sua premiação num espetáculo que une 22 profissionais em cena, sendo seis músicos e dezesseis atores, todos com vasta experiência em suas áreas de atuação.

“É a noite do nosso teatro. É a noite dos nossos artistas. Por mais que você tenha que escolher um em cada categoria, o mais importante que a gente vive aqui é o encontro e a nossa percepção que a nossa produção está viva, está pulsante e é de qualidade e que a gente mesmo indo e vindo de pandemia, indo e vindo governos, a gente continua fazendo arte. As vozes daqui são múltiplas e precisam ser ouvidas em todo Brasil”, afirmou.

O diretor falou que foi um desafio adaptar “Torto Arado” para os palcos por ser uma obra-prima. Apesar das dificuldades e medos, com o respeito de Itamar Jr., a liberdade total em criar e com carinho que a equipe tem pela obra, ela se tornou o que todos estão vendo: um espetáculo em cena que traduz o livro.

Afirmando que a resistência é amplificadora do teatro baiano, Jorge Washington, que é ator, afro-chef e membro da Comissão Julgadora do Bahia Aplaude 2025, falou sobre a importância da 30ª edição do Prêmio Bahia Aplaude 2025 para a cena preta da Bahia.

Foto: Iracema Chequer/Vane Casaes

“Eu tive a honra e o prazer de ser membro da Comissão Julgadora esse ano. Então é a presença preta, é o corpo preto olhando, observando e entendendo essa cena. Por incrível que pareça, essa é a edição que tem mais atores e atrizes pretos nas categorias. É um olhar diferenciado mesmo e muito bom”, disse ele.

O espetáculo “Mucunã: do fio à raiz” levou ao palco as lágrimas de vitória de Filêmon Cafezeiro e Liz Novais como vencedores da categoria Revelação do Prêmio Aplaude 2025. Agradecendo a sua ancestralidade, os compositores da peça agradeceram e falaram da emoção que é levar aos palcos da Bahia a sua própria identidade ancestral através das suas narrativas textuais.

“Eu fico muito feliz por conta desse prêmio. Durante muito tempo projetos de artistas negros não conseguiam ser alcançados nestas categorias para indicações e hoje a gente entende que boa parte da produção baiana é oriunda do teatro negro. Só reforça a nossa potência de fazer teatro. Nosso discurso e nosso corpo falando. Endossa a nossa capacidade de construir relações com o público de identificação, de histórias que comovem e que arrebatam. Então ‘Mucunã: do fio à raiz’, que é um espetáculo que eu estou e faço parte, é reflexo dessa conexão, desse trabalho, da ancestralidade e de convocar as zonas que não são centrais. As periferias, as massas às margens de Salvador e assim a gente conseguir uma história diferente do Teatro Negro Baiano”, afirmou Novais.

Os espetáculos “Infinito”, vencedor da categoria Espetáculo Infantojuvenil 2025, e “Candomblé da Barroquinha”, tendo como melhor direção o ator Thiago Romero, deixaram à mostra a potência dos novos protagonistas de cultura e artes cênicas independentes nos palcos da Bahia e do Brasil.

Confira os Vencedores do Prêmio Bahia Aplaude 2025

Categoria ESPETÁCULO ADULTO: Torto Arado

Indicados: Candomblé da Barroquinha, Hoje é dia de Rock, Homem é Homem, Os dias lindos de Celina Bonsucesso, Torto Arado.

Categoria ESPETÁCULO INFANTOJUVENIL: Infinito

Indicados: Casa Barriga, Infinito, Meninas contam a Independência.

Categoria PERFORMANCE: Noiva

Indicados: Ex-passo, Noiva.

Categoria DIREÇÃO: Thiago Romero (Candomblé da Barroquinha)

Indicados: Caio Rodrigo e Pedro Benevides (Homem é Homem), Daniel Marques (Hoje é dia de Rock), Elísio Lopes Júnior (Torto Arado), Márcio Meirelles (Sr. Oculto), Thiago Romero (Candomblé da Barroquinha).

Categoria ATOR: Diogo Lopes Filho (Torto Arado)

Indicados: Diogo Lopes Filho (Torto Arado), João Vitor Sobral (Hoje é dia de Rock), Leandro Santolli (Chame Gente), Lúcio Tranchesi (Homem é Homem), Mano Leone (Hoje é dia de Rock).

Categoria ATRIZ: Kátia Leal (Os dias lindos de Celina Bonsucesso)

Indicados: Ella Nascimento (Felebé, felebé! Meu amigo é meu dinheiro), Larissa Luz (Torto Arado), Kátia Leal (Os dias lindos de Celina Bonsucesso), Sibele Lélis (Flor d’água, mulher do rio), Vika Mennezes (Mukunã: do fio à raiz).

Categoria TEXTO: Paulo Henrique Alcântara (Os dias lindos de Celina Bonsucesso)

Indicados: Aldri Anunciação, Fábio Espírito Santo e Elísio Lopes Júnior (Torto Arado), Daniel Arcades (Candomblé da Barroquinha), Gildon Oliveira (Nó), Mônica Santana (Sr. Oculto), Paulo Henrique Alcântara (Os dias lindos de Celina Bonsucesso).

Categoria REVELAÇÃO: Filêmon Cafezeiro e Liz Novais (Mukunã: do fio à raiz)

Indicados: Caio Rodrigo e Pedro Benevides (cenografia de Homem é Homem), Danilo Cairo e Leandro Santolli (texto de Chame Gente), Filêmon Cafezeiro e Liz Novais (composição de Mukunã: do fio à raiz), Mafá Santos (sonoplastia de Bicho de duas patas), Rodrigo Queiroz (direção de Casa Lamentos).

Categoria ESPECIAL: Jarbas Bittencourt (Torto Arado)

Indicados: Guilherme Hunder (figurinos de Infinito e Monocontos), Jarbas Bittencourt (direção musical e composição de Torto Arado), Luciano Salvador Bahia (direção musical e arranjos de O Mar de Caymmi), Sibele Lélis (composição e trilha sonora de Flor d’água, mulher do rio), Thiago Romero (direção de arte de Candomblé da Barroquinha).

O Prêmio Bahia Aplaude 2025 tem como objetivo fortalecer a cadeia criativa do teatro, dando possibilidade de agregar outras marcas que acreditam no grande potencial transformador da arte, assim como a Braskem, forte impulsionadora do teatro baiano.A Braskem é uma empresa petroquímica global, orientada para o ser humano, com olhar para o futuro, que cultiva relacionamentos sólidos e gera valor para todos. O Fazcultura é o Programa Estadual de Incentivo ao Patrocínio Cultural da Bahia, instituído pela Lei Nº 7.015/1996, executado pela Secretaria de Cultura – SecultBa em parceria com a Secretaria da Fazenda – Sefaz.

Texto por: Patrícia Bernardes Sousa – jornalista, redatora, colunista, mobilizadora de projetos de Impacto Social em Educação, Letramento e Cultura Identitária e repórter colaboradora do Portal Umbu.

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