Artista e o curador da exposição, Paulo Rufino, falaram sobre mostra em entrevista ao Portal Umbu
Como o griô, que guarda a memória dos que vieram antes, a exposição “Ecos dos Orixás: Unindo Mundos através da Arte e do Diálogo”, evoca a ancestralidade e a espiritualidade para promover a mensagem da iluminação. Idealizada pelo cientista Paulo Rufino e pelo pintor Ed Ribeiro, e produzida por Foteini Foteinaki, a mostra será aberta nesta quarta-feira (12), na Galeria 59 Rue de Rivoli, em Paris, França, onde fica até dia 24 de junho.
Os brasileiros vivem há mais de 10 anos na Europa e, em entrevista ao Portal Umbu, contaram como a relação de amizade entre eles levou à criação da exposição: “Nos conhecemos em meados de 2016, em Londres. Na época, eu morava lá, era engenheiro e gerenciava uma equipe na área de tecnologia e telecomunicações. Uma amiga em comum nos apresentou, conheci ele e a obra dele”, contou Rufino, que preparava uma exposição para o ano seguinte.
O cientista relembrou que o amigo estava se recuperando de um acidente vascular cerebral (AVC) na época do encontro, mas que ambos se uniram para o desenvolvimento da mostra. “A arte dele foi abraçada, foi reconhecida. Desde então a gente trabalhamos juntos, pela sensibilidade da obra dele, que é uma obra rica e também uma obra única porque é uma forma de pintar com uma técnica desenvolvida por ele. E traz além de tudo, um resgate muito importante da religiosidade, da cultura e da ancestralidade africana no Brasil que é o culto dos orixás, que é tão forte na Bahia, que foi o porto de chegada para onde foram trazidos, de forma compulsória, os nossos ancestrais, mas também é o ponto de partida da construção da identidade do brasileiro”.
“O brasileiro não tem como ser brasileiro se ele negar ou tentar apagar a existência da construção do país pelos africanos e pelos povos originários. É essa exposição que a gente tem pensado”, comentou Paulo.
Conhecido como “pintor dos Orixás”, Ed Ribeiro evidenciou a antiga relação com o axé. O artista relembrou que sempre pintava orixás em suas casas e que, durante o período em que trabalhou no mundo empresarial, pediu às divindades, como último pedido, que pudesse viver da arte. “Não demorou muito, bateu na minha porta a energia e a luz para eu começar a pintar”, disse Ed, relembrando a dificuldade para divulgar e comercializar suas obras no começo da nova jornada, no início dos anos 2000, até que pudesse se firmar e a criação de sua técnica de pintura com derramamento de tinta.
Idealizada por Ed Ribeiro, a técnica consiste em derramar a tinta de maneira fluida numa superfície horizontal. A criação concedeu ao pintor baiano reconhecimentos internacionais pela inovação do método inovador e premiações ao redor do mundo. Agora, prestes a abrir uma exposição na Rue de Rivoli, uma das ruas mais famosas de Paris, às vésperas das Olímpiadas, o artista celebra: “Eu digo sempre que ganhei de presente o local e a época pré-olímpica. Então eu tive todas essas bênçãos dos Orixás”.
Depois da França, a mostra ‘’Ecos dos Orixás’’ estará entre os dias 13 de julho e 30 de agosto em Portugal. No Brasil, as obras de Ed Ribeiro desembarcam em 3 de agosto, em Niterói, Rio de Janeiro, onde fica até 28 de setembro.
Reunindo elementos multiculturais do Brasil, a exposição trará ainda fotografias de Stéphane Munnier, uma instalação de Humberto Macêdo e composições musicais de Altay Veloso, cuja obra “Ballet des Orishas” servirá de pano de fundo musical para acompanhar as obras de arte visuais.
A mostra também trará diálogos com profissionais de diversas áreas, como a professora de história do Brasil e da África e de português Samille Possidonio; a psicóloga clínica Valéria Sardenberg, certificada em terapia focada nas emoções, além de ser especialista em simbolismo na análise Junguiana; e Julio Cesa Cesano, primeiro diplomata afrodescendente do Uruguai.
O evento terá o lançamento em francês do livro ‘’Glorya y Tormento’’, do autor Jorge Jury e com ilustração de Ed Ribeiro, que apresenta a história do jogador negro que fez o primeiro gol nos Jogos Olímpicos de Paris de 1924.