Pesquisa mapeia variações de temperatura na capital e alerta para o impacto desigual das mudanças climáticas

Uma pesquisa inédita que traça mapas de calor na área urbana de Salvador revelou que a diferença de temperatura máxima, durante o período da tarde, considerado o horário de pico pode chegar a 6,5ºC entre os bairros da capital baiana. A variação extrema evidencia que o calor não atinge todos da mesma forma, impactando com mais força as populações negras e periféricas.
Os dados mostram que bairros com maior cobertura vegetal, próximos a áreas verdes ou corpos d’água, apresentam temperaturas mais amenas, beneficiando-se de microclimas naturais que atenuam o calor.
Em contrapartida, regiões densamente urbanizadas, com pouca presença de árvores e grande quantidade de asfalto e concreto, registram as maiores temperaturas. Essas áreas, em sua maioria, coincidem com territórios de população majoritariamente negra e historicamente negligenciada pelo poder público.
O estudo faz parte da campanha “Observatório do Calor (Heat Watch Campaign)”, coordenado pelo professor Paulo Zangalli Júnior, do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A iniciativa conta com o apoio da Prefeitura de Salvador, através da Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Resiliência e Bem-Estar e Proteção Animal (Secis), da Defesa Civil de Salvador (Codesal) e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), dos Estados Unidos.
A pesquisa reforça que o calor extremo deve ser entendido como um desastre natural, e que seus impactos são distribuídos de forma desigual entre pessoas e territórios. Comunidades negras, que vivem em bairros com menos acesso a recursos, infraestrutura verde e serviços básicos, estão mais expostas aos riscos associados ao aumento das temperaturas como agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares, além do impacto direto na qualidade de vida.
O recorte racial, embora nem sempre explicitado nas políticas públicas, é inevitável: os bairros mais vulneráveis à formação de ilhas de calor concentram uma maioria negra que enfrenta, além das altas temperaturas, outras camadas de desigualdade socioambiental.
Em nota, a Prefeitura de Salvador afirmou que “o enfrentamento ao aumento das temperaturas, intensificado pelas mudanças climáticas, exige uma atuação técnica, coordenada e contínua”, e destacou que já estão em curso ações que demonstram o compromisso da gestão municipal com a construção de uma cidade mais resiliente, sustentável e justa para todos.