
Por mais que eu não queira criticar o sistema econômico baseado no consumo a qualquer custo ou de alguma forma demonizar a relação cartão de crédito e consumidor – até porque sei que esta suposta facilitação econômica tem o seu valor e muitas vezes se torna fundamental para o desenvolvimento social, acesso ao estudo e para aquisição de itens de básicos e de conforto para as pessoas -, não tenho como me isentar de fazer comentários e críticas quando percebo a angústia das pessoas por não entender para onde está indo o dinheiro depois de um mês inteiro de trabalho duro.
Resolvi escrever esse texto depois que percebi que, em nove em cada dez consultas ou solicitação de orientação que recebo, a afirmação é: “Eu não sei para onde o dinheiro está indo, eu não faço nada e mesmo assim estou sempre sem dinheiro”.
Em outra oportunidade eu escrevi sobre os mecanismos psicológico no fornecimento do crédito, que, na minha opinião, é de uma perversidade sem tamanho, uma vez que atua no subconsciente de uma população fragilizada, não educada financeiramente e refém do financiamento. Entenda, a compra com o cartão é fácil, é rápida e não gera nenhum impacto imediato no bolso consumidor.
Neste lance de usar o cartão de crédito, o nosso consumidor não precisa tirar o seu rico dinheirinho da carteira ou bolsa, não precisa conferir se o troco está correto, a transação é sempre simples, fácil e cada vez mais rápidas. Tudo isso para que a vítima não tenha tempo de racionalizar e julgar se esse gasto é ou não correto ou necessário e sem gerar nenhum tipo de memória mecânica.
O outro fator que é imbatível e a possibilidade de parcelamento. Gente, isso é a verdadeira arapuca para nosso passarinho assalariado. Quando compramos parcelado a nossa mente só lembre o valor das parcelas e não mais o valor final da compra ou o tempo de parcelamento.
Quando juntamos todos esses detalhes e as técnicas cada dia mais avançadas de vendas, o que temos é um resultado incrível para que financia esse sistema. O gasto fica invisível.
Sim, depois da compra é como se esse gasto nunca tivesse existido, pois não gerou nenhuma lembrança mecânica ou impacto imediato e assim você vai vivendo e consumindo durante todo o mês, gastando aos pedacinhos, sem perceber o buraco que está cavando e cultivando a impressão de que sempre tem dinheiro, pois você está passando o cartão e a compra está sendo aprovada. Aí, você continua comprando sem limites, sem critérios e sem consciência. Neste cenário de dinheiro ilimitado, tudo passa a ser uma grande oportunidade.
Faça um exercício do seu próprio comportamento e veja se acontece com você aquela coisa de pedir hamburger gourmet em dia de semana, no outro dia pedir aquela pizza à noite durante a semana sem motivo aparente. E tem ainda aquela ida no estádio ver o jogo do seu time e já se vai mais um dinheirinho com a gelada, o sanduba ou espetinho e, no final de semana, vem o passeio ao shopping, onde tudo que você ver nas vitrines parece ser uma oportunidade incrível e feita para você. E aí, é ou não é bem assim?
Mas uma hora a conta chega, parceiro! Chega e chega direitinho e gostoso no final do mês. Cada pedacinho invisível que você foi acumulando sem perceber, no final no mês se juntam e se transformam na fatura do seu lindo cartãozinho. Nessa hora, não tem mais jeito: tem que pagar na data ou a coisa só vai piorar, porque os juros do nosso amigo cartão black plus das galáxias são daquele jeitão.
Entendeu agora porque eu critico tanto o tal do cartão? Não pelo cartão. O cartão é uma ferramenta importantíssima e ajuda muito para quem sabe usar. As regras do uso e dos juros estão aí para qualquer um ver e, em tese, entra nessa quem quer.
Ao meu ver, a questão está na permissão de práticas de financiamento deste tipo em uma sociedade que infelizmente não teve nenhum tipo de educação financeira nas escolas. A maioria da população cresce sem o mínimo de senso crítico, percepção de limites financeiros, que é hiper estimulada ao consumo e que vai chegar na vida adulta frágil, sem entender nada ou o mínimo de economia doméstica ou finanças.
Essa é a verdadeira receita para a riqueza de quem tem para emprestar e a porta do precipício para aqueles que não entendem o jogo. O nosso jovem adulto vai ser jogado em uma verdadeira selva econômica, onde quem manda é a força financeira, ou seja, o mais forte é aquele consegue fazer com que o dinheiro migre do bolso dos outros para sua conta o mais rápido e na maior quantidade possível. Vale assistir o filme Lobo de Wall Street.
Agora, adivinha que é o elo fraco desta corrente ou a base da cadeia alimentar nesta floresta?
Então, meus peixinhos dourados ou esquilinhos fofos, já passou da hora de ficar esperto e usar um pouquinho do juízo para entender a regra do jogo e aprender como sobreviver nesta selva que a sociedade capitalista. Todos vão querer sobreviver e enriquecer!
Sei que um texto rápido como esse não vai te ensinar tudo sobre economia, finanças ou comportamento socio econômico, mas a minha esperança é que ao menos crie um incomodo e que faça você se mover e buscar uma forma de ao menos não ser uma presa fácil neste jogo.
A minha sugestão é entender logo que não existe almoço grátis e que você só vai prosperar se entender que precisa controlar os seus custos e planejar os seus gastos e passar a consumir com consciência. Consumir com base em sua realidade atual, anotar e acompanhar as parcelas caso tenha comprado parcelado e planejar a sua vida.
Sim, para viver tem que ter planejamento!
Esse negócio de deixar a vida me levar só funciona na música de meu amigo Zeca ou no máximo para aqueles que são herdeiros e não sabem de onde vem o dinheiro que gasta.
Dito tudo isso, eu te deixo uma pergunta meus amiguinhos:
Você vai tomar conta da sua vida ou vai deixar o cartão de crédito usar a capa de invisibilidade do Harry Potter e continuar brincando e fazendo o que quiser com o seu destino?
Forte abraço e até a próxima!
O cartao faz parte da máquina de consumo.
Parabéns pelo texto .
Infelizmente a falta de controle e conhecimento financeiro levam pessoas despercebidas e não só a buscarem refúgio ao cartão de crédito, quando na verdade o valor gasto durante o mês é superior ao seu ganho no final do mês.
cartão black plus das galáxias Kkkkkkk
O cartão, faz você enxergar que ainda tem grana disponível pra gastar. Você, pensa paguei as contas o salário já foi, porém o cartão ta ae, então ainda tenho dinheiro pra comprar aquela pizza ou então fazer a festa na lojinha de blusinhas.
O cartão, deve ser válido para compras de valor alto, exemplo comprar uma televisão, uma geladeira. Para gastos pequenos te atrapalha mais do que ajuda.
Como sempre um texto que nos traz a reflexão, atenção e cuidado com o planejamento financeiro.
Com a quase extinção do dinheiro em espécie, muita gente perdeu a noção do que realmente gasta. O dinheiro virou apenas um número na tela: saldo. Hoje, compramos com um simples toque no celular, no cartão ou até no relógio — o dinheiro se tornou quase um fantasma na rotina da maioria das pessoas. Achei esse texto muito interessante e vou compartilhá-lo. Confesso que tenho aprendido, muitas vezes pela dor, a importância de ter uma organização financeira melhor.
Excelente reflexão. O texto escancara de forma clara e leve como o uso inconsciente do cartão de crédito pode se transformar em uma armadilha silenciosa.
cartão de crédito, embora seja uma ferramenta prática e muitas vezes necessária, pode se transformar em um grande vilão das finanças pessoais quando usado de forma inconsciente. O trecho apresentado ilustra com clareza como o consumo por impulso e a facilidade oferecida pelas operadoras criam um ambiente propício ao endividamento silencioso.
Ilusão da Facilidade
A conveniência de não precisar mexer na carteira ou calcular o troco retira do consumidor a percepção real de gasto. O processo se torna tão automático que não há tempo para o julgamento racional, e a compra é feita sem reflexão. Essa ausência de contato físico com o dinheiro enfraquece a noção de perda — afinal, o dinheiro não “saiu da mão”.