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O que levar na bagagem

Foto: Freepik


Foi num almoço que Malu, uma brasileira que conheci na USF, me alertou: o mais estranho foi decidir o que levar. Nos encontramos poucos dias depois dos furacões Milton e Helene atingirem Tampa, a cidade onde ambas vivemos. Ela falava do momento em que decidimos sair de casa para um lugar mais seguro e das escolhas que precisamos fazer enquanto acompanhávamos o noticiário assustador e tentávamos responder às mensagens de amigos e familiares tão ou mais alarmados que nós. O que levar na despedida da casa que talvez você não veja mais? Quando se espera um furacão categoria 5, a gente se despede de muitas certezas e da ilusão de estar no controle.

Nessa virada do ano, fiquei pensando no que escolher para levar comigo em 2025. Em um mundo acelerado, em que a tela do celular é o disfarce do descanso que não temos, em que o vídeo do gatinho fofo é quase uma anestesia para os nossos próprios problemas, o que faz seus olhos brilharem?

Quem te deu a mão nas travessias que precisou enfrentar em 2024? Pensei nas pessoas que tornaram meus dias melhores, às vezes só com um sorriso. Gentileza. Leveza. Afeto. Quero levá-los comigo debaixo do braço. Lembrei das amigas que me ajudam a enxergar minha melhor versão, mesmo quando minha visão parece embaçada.

Se a gente pudesse deixar para trás toda a bagagem que não nos faz bem, aquele peso que parece puxar para baixo, o que seria? Que neste novo ano, a gente tenha clareza para escolher bem com o quê e com quem queremos seguir.

Voltando aos furacões, saímos de casa com documentos, poucas roupas, água, alguma comida, a ração de Maya. Minha mãe, que estava nos visitando no período, teve estômago até para preparar uma feijoada. A chuva já tinha começado a cair quando partimos. No carro, além de nós, as coisas arrumadas aos 45 minutos do segundo tempo e, claro, a feijoada.

Não foi fácil lidar com uma das portas que um desastre natural escancara: não estamos no controle de tudo. Mas serviu para abrir um pouco as janelas que mostram aquilo que – em meio a tantas telas – parece cada vez mais difícil de se ver. Que nessa nova volta da Terra ao redor do Sol, a gente possa enxergar o que é mesmo importante. E ser capaz de, no meio das urgências nossas de cada dia, dedicar mais tempo para o que nos faz únicos. Que a gente tenha coragem de ver e de ser quem a gente nasceu para ser.

Dá para se viver sem muitas coisas materiais, mas viver sem encontrar o que nos traz sentido é dirigir eternamente no piloto automático, sem prestar atenção no caminho. Sem ver que, às vezes, mais importante do que mirar no alvo – aquele sonho ou a meta que queremos alcançar – o aprendizado, a beleza e a alegria estão no meio da caminhada. Afinal, a gente quer construir o melhor futuro possível, mas no presente é que se vive. 

OPINIÃO

O texto que você terminou de ler apresenta ideias e opiniões da pessoa autora da coluna, que as expressa a partir de sua visão de mundo e da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Umbu.

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Beatriz Solera
Beatriz Solera
5 meses atrás

Perfeito Adriana. Seu texto faz com que a gente pare pra pensar o que realmente é importante nesses momentos difíceis. Eu levaria somente o que é importante para meu coração.

Fernanda Carvalho
Fernanda Carvalho
5 meses atrás

Nunca deixe de levar na bagagem sonhos e a amorosidade que te define. Sucesso, Drica!

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