
Pobre não tem um minuto de paz mesmo. Até para correr tem que gastar! Antes era apenas calçar a conga, vestir o abadá do carnaval do ano passado e sair correndo. Agora a impressão é que até para correr na esteira de casa o “atleta doméstico” precisa vestir a roupa do Flash da DC Comic.
Eu tenho certeza que você tem um amigo, parente ou um conhecido que foi abduzido pelos ETs do planeta das corridas e resolveu ser o embaixador das maratonas. Verdadeiros militantes da corrida que não deixam mais ninguém em paz e só sossegam quando, finalmente, você resolve fazer a inscrição em uma das milhares corridas de rua que acontecem praticamente todos os finais de semana.
Pessoalmente, eu não tenho nada contra a prática da corrida. Na verdade, pratico e recomendo a prática por entender os benefícios da atividade física e o estímulo cardiovascular, sem contar com benefício para saúde mental. Corridas salvam vidas!
Mas uma coisa é contratar um profissional para te orientar e se inscrever em uma corrida ou outra. O profissional te ensina a correr e respirar melhor sem contar que vai te alertar e prevenir que você se machuque. Outra coisa completamente diferente é quando você, que foi picado pelo mosquito da corrida, resolve se equipar como se fosse um ultra maratonista ou tentar ter desempenhos semelhantes aos atletas profissionais que ganham a vida correndo. Eles são profissionais e você é apenas o “amostradinho” que resolveu correr. Bota isso na sua cabeça!
Faço esse alerta porque, se você não tomar cuidado, em muito pouco tempo vai perceber que sua conta bancária está diminuindo na mesma velocidade que o seu PACE tá melhorando.
Lembre-se que tudo no Brasil vira moda e, em seguida, vira um negócio onde alguns ganham dinheiro e muitos outros pagam. Essa febre de corridas de rua passou a ser um negócio lucrativo e é você, meu jovem atleta, quem vai pagar essa conta e alimentar todo esse nicho de mercado que vai do vestuário até a alimentação “especializada” para corredores.
Tudo isso por conta do PACE, que nada mais é que o tempo gasto para percorrer 1 km. O cara que popularizou este termo e, de alguma forma, colocou na cabeça do corredor normal que este indicador é importante ou até mesmo imprescindível, tem que ganhar um prêmio Nobel de publicidade ou ser indiciado por crime contra a economia popular.
Não é possível uma coisa desta. Graças a esse tal PACE que você vê o povo na rua parecendo os modelos das propagandas das marcas de equipamentos esportivos. É uma tal de short térmico ou de compressão com bolso para celular, camisa com tecnologia para melhorar o resfriamento do corpo, óculos com lente polarizada, fone de ouvido da NASA, boné com filtro UV e até os tais dos manguitos. Isso mesmo, manguitos! Uma espécie de manga de camisa falsa que serve para diminuir o atrito com o ar.
Isso tudo sem falar dos super tênis que precisam ser adequados ao seu peso, altura, tipo de piso, distância e velocidade. E para medir a velocidade tem que ter os relógios de James Bond que parecem mais um comunicador dos trajes espaciais dada a quantidade de sensores e informações que ele processa. É uma tal de medir sinais vitais, oxigenação do sangue, grau de estresse, distância, além de controlar a música e atender o telefone. Sem uma dessas, nem adianta que não vai ter PACE certo.
O problema é que com isso, a prática de corrida, que desde do início dos tempos foi considerada uma das atividades físicas mais simples e completa para o corpo humano, começou a se tornar proibitiva dado o tanto de investimento que associaram a prática da corrida. Chegou ao ponto que as pessoas comuns que não tem condições de comprar estes itens passarem a ficar com vergonha de praticar sua corrida, principalmente aos finais de semana quando ocorrem as corridas de rua.
Você, corredor, já parou para calcular o quanto você gasta por mês para financiar essa prática? Não vou dizer nunca que você tem que parar de fazer a atividade ou que investir na sua saúde e autoestima é ruim. Não é ruim mesmo! É uma coisa muito boa. O alerta aqui é sobre os excessos. Até que ponto vale você virar um Ícaro e correr na velocidade do vento se ao final do mês vai sofrer para honrar os seus compromissos.
Então me deixe correr com meu tênis do dia a dia e com a camisa velha do guarda-roupa mesmo. E vou falar mais: você que quer correr, vá e corra, mesmo porque vai te fazer muito bem, mas só não entre nessa maluquice de sair comprando metade do shopping com a promessa de melhorar sei lá o quê.
Lembre-se que você não é atleta profissional, não recebe patrocínio e que a rua é pública. Você pode correr onde bem quiser e bem entender sem que tenha que parecer dublê do Bolt.
OPINIÃO
O texto que você terminou de ler apresenta ideias e opiniões da pessoa autora da coluna, que as expressa a partir de sua visão de mundo e da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Umbu.
Exatamente, cada lida um aprendizado. Deixamos de entender o real benefício de uma caminhada, para atender o nosso ego, com o flash e roupas caras!
Muito bem colocado!
Muito bom, Del! Engraçado como eu estava comentando isso com meus amigos. Participei de “pipoca” no Circuito das Estações, não porque não tive como comprar o kit ou algo do tipo, mas porque não tinha me programado pra ir, de fato. Um amigo fanático me fez entrar no clima e fui. Corri de graça, com a mesma liberdade dos que pagaram seus R$ 89,00 (que diga-se de passagem um valor absurdo) e entrei na vibe dos demais, até sendo fotografada tão quanto os demais. De fato, o mundo das corridas de rua, virou um negócio lucrativo e modismo. O que está na moda, se torna viral. Nada contra, inclusive esse ano participarei de uma delas, com o kit em mãos, mas entrar num compromisso financeiro apenas pra sustentar a moda, não vale a pena! Amei a matéria, show!!!
Parabéns pela matéria! Adorei! Corrida e caminhada são os exercícios mais democratas que existem e menos competitivos – você compete com você, vence suas barreiras, quebra seus recordes. Melhorar o “pace” é o desejo de todos que praticam a corrida, é termômetro de superação, de sua dedicação e foco, é recompensador mas esse fashionismo tira um pouco da poesia e da simplicidade que é correr!
Eta lasqueira no caminho da feira! Já ia correr!