Número já supera o total de procedimentos registrados em todo o ano passado, quando foram computados 25 procedimentos.
No Dia Nacional da Doação de Órgãos, transcorrido na última quarta-feira (27), Salvador também teve motivos para comemorar e se orgulhar. Isso porque, através do serviço de captação de córneas instalado nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), administradas pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), 54 doações do órgão já foram realizadas até este mês, beneficiando 108 pessoas para que pudessem voltar a enxergar. O número já supera o total de procedimentos registrados em todo o ano passado, quando foram computados 25 procedimentos.
Visão sensível:
Pouco antes de morrer, Raimunda da Conceição Rocha, de 62 anos, durante uma conversa informal com a filha Raulene Conceição, técnica de enfermagem, de 46 anos, manifestou sua compreensão sobre o tema e seu espírito de solidariedade.
“Lembro que ela se interessou pelo assunto, começou a tirar dúvidas e se colocou à disposição para ajudar o próximo, melhorar a qualidade de vida de outras pessoas. Quando a assistente social da UPA San Martin me perguntou sobre a possibilidade, conversei com meus familiares e, dentro de um consenso, autorizamos a realização do procedimento após seu falecimento”, explica Raulene.
A trabalhadora da saúde afirma que também é doadora de sangue e entende que é fundamental, tanto quanto doar, dialogar com quem convive com uma situação similar a dela, quando um ente querido está “próximo de partir”. “É muito clara a importância da valorização da vida através da doação e, ainda que seja só um órgão, é uma grande ação para quem recebe”, destacou.
Gestão que incentiva:
Atualmente, a fila de espera na Bahia por uma córnea contabiliza mais de mil pessoas que aguardam em torno de 17 meses pela doação. Chama atenção ainda a taxa de negativa familiar, que é igual ou superior a 60%.
Considerando a importância do tema, a Secretaria Municipal da Saúde tem promovido uma série de sensibilizações junto aos profissionais das UPAs, como o alinhamento feito com o Banco de Olhos da Bahia para capacitar médicos, enfermeiros e assistentes sociais na abordagem sobre o tema junto a pacientes e familiares assistidos. Isso porque, para que ocorram as doações, são fundamentais a generosidade e solidariedade das pessoas, além do trabalho efetivo da equipe envolvida.
A vice-prefeita e secretária da Saúde, Ana Paula Matos, destaca a importância da ação pioneira na rede municipal. “Essa nossa sensibilização serve para propagar informações sobre um programa tão importante já existente, mas sem ampla adesão. Apenas o familiar pode autorizar a retirada das córneas, mas muitos desconhecem o tema ou como proceder. Nosso objetivo, então, é destacar que a doação é um ato humanitário, um gesto nobre de amor ao próximo. E queles que desejam se tornar um doador, podem se manifestar em vida. A adesão dos familiares também é de extrema importância para a doação”, pontuou.
Sem custos:
A doação não acarreta nenhum gasto para a família do doador, bem como não interfere na estética do concessor para o funeral, de acordo com a tradição de cada família.
Os transplantes permitem que pessoas com alguma deficiência visual por problemas de córnea recuperem a visão. Durante um transplante de córnea, o botão (ou disco) central da córnea opacificada (embaçada) é trocado por um botão central de uma córnea saudável. Esta cirurgia pode recuperar a visão em mais de 90% dos casos de pessoas que têm alguma deficiência visual, por problemas de córnea.
Qualquer indivíduo, entre dois e 70 anos, pode ser doador. Diante de uma notificação de potencial doador é feita uma triagem, através de aplicação de questionário junto aos familiares, revisão de histórico médico e exames de sangue para definir se há alguma contraindicação à doação. Vale lembrar que as córneas podem ser preservadas por até 14 dias após a sua retirada.