
A realização do 16º Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas da Bahia na última semana, no bairro de Periperi, em Salvador, foi um dos pontos iniciais para os festejos do São João no estado. Entre os espectadores, a deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) marcou presença e destacou, em entrevista ao Portal Umbu, a importância da valorização da cultura popular como instrumento de geração de renda, inclusão social e preservação das tradições nordestinas.
Em sua passagem pelo evento que reuniu quadrilhas juninas de diversas cidades baianas, como Camaçari, Salvador, Paulo Afonso, Alagoinhas e Santo Antônio de Jesus, a parlamentar exaltou os impactos sociais e econômicos das festas juninas no estado.
Segundo Lídice, as quadrilhas representam muito mais do que um espetáculo artístico. “A minha expectativa é que essa festa cresça cada vez mais, inclua um número maior de vencedores que vêm do interior já classificados para essa disputa final e que isso gere cada vez mais renda para nossa população e oportunidade para nossa juventude”, afirmou. Ela explicou que cada apresentação envolve uma cadeia produtiva que vai do vestuário à contratação de dançarinos, músicos e artesãos. “Tudo isso é gente que está ganhando o seu pão de cada dia para viabilizar essa festa”, reforçou.
A deputada defendeu o investimento público na cultura como estratégia de desenvolvimento. “Isso é centrar na economia criativa. A economia criativa se junta com o empreendedorismo popular, que resulta na movimentação da economia com grandes potencialidades”, destacou. Para ela, quando o Governo do Estado destina recursos para eventos juninos, está garantindo sustento a centenas de famílias envolvidas com o ciclo de festas.
Ela citou ainda uma pesquisa do Observatório de Economia Criativa da Universidade Federal da Bahia, que apontou o São João como um período de impacto nas vendas semelhante ao do Natal. “É por isso que a gente precisa entender: quando as pessoas reclamam da festa, elas não sabem que essa festa gera emprego e renda para a população do nosso estado”.
Outro ponto levantado por Lídice foi o protagonismo das mulheres na economia popular, especialmente em regiões como o Subúrbio Ferroviário de Salvador. “O sustentáculo dessa economia popular no Brasil são as mulheres. Mulheres jovens, adultas e idosas”, afirmou. A parlamentar lembrou que, em festas como o Carnaval e o São João, é comum ver mulheres trabalhando de forma autônoma: vendendo picolé, água, cerveja ou coletando materiais recicláveis. “Isso é uma economia popular, informal, que agora está recebendo o nome de empreendedorismo. Mas não podemos nos iludir com isso, é importante compreender o valor dessa economia e investir mais nela”.
Lídice também fez menção à economia verde e à sustentabilidade como vertentes que devem ser incentivadas dentro das comunidades. Ela citou o exemplo de um bazar no Subúrbio Ferroviário que revende roupas usadas e mencionou modelos internacionais, como o da Alemanha, onde pais alugam roupas de bebê por períodos específicos. “Isso é sustentabilidade ambiental, que é o que nós precisamos começar a fazer. O Brasil é um país pobre, que precisa tanto, e ainda desperdiça água, não colabora com o meio ambiente e até desvaloriza os seus recursos humanos”, disse.
Ao tratar do papel do Estado na manutenção da cultura, Lídice ressaltou que o apoio às quadrilhas juninas precisa ir além dos meses de junho. “Esse espetáculo começa agora em junho, mas as pessoas trabalham durante todo o ano”, observou. Ela defende que o governo estimule a atividade tanto no ambiente escolar quanto por meio de políticas públicas específicas, especialmente dentro da Secretaria de Cultura. “É preciso viabilizar o transporte do interior para a capital, garantir alimentação e condições mínimas para que o participar seja o mais leve possível para a economia de cada um”.
Para a deputada, o investimento na cultura junina também é um caminho para proteger a juventude. “Isso é acesso à cultura também. É fazer com que essas crianças e jovens não se desvirtuem do seu caminho. Ao invés do menino ou da menina ficar perdendo tempo ou sendo levado para caminhos tortuosos, ele pode estar treinando para participar de uma quadrilha de São João”.
Lídice encerrou destacando que a festa de São João é uma das expressões culturais mais importantes do país e que precisa ser preservada com responsabilidade e compromisso.
Pontuando que há muitas cidades no Brasil em que já não se celebra o São João, ela alertou para a necessidade de preservar suas tradições, para que a festa continue sendo de forró e de São João e não apenas mais um evento qualquer.
Segundo ela, já foi proposta ao Conselho do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) a inclusão da festa como patrimônio cultural brasileiro. “Mas para o processo de tombamento, a festa precisa ter uma comida própria do período junino, uma bebida, uma roupa e características específicas como a apresentação de uma quadrilha”, concluiu.