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Leituras no Parque reafirma letramento sustentável em sua primeira edição

Foto: Cella Figueiredo

O Projeto “Leituras no Parque”, realizado nos dias 07 e 08 de dezembro, das 08h às 17h,  em Salvador, reafirmou  que a experiência da leitura e da literatura não tem idade. O Parque da Cidade, localizado no bairro do Itaigara, se transformou em um cenário encantado de criatividade, fantasia, ações de sustentabilidade e autoconhecimento, dança e poesia urbana em meio à imensa área verde já conhecida pelas famílias baianas que frequentam o local.

Idealizado pela Umbu Comunicação & Cultura , com apoio do Governo do Estado da Bahia e da Embasa, o projeto promoveu encontros de gerações a cada atividade desenvolvida gratuitamente. Ações como o “Acordo, Corpo!” e o  “Momento Ativamente”, proporcionaram  apresentações musicais, contação de histórias, oficinas de escrita criativa, diálogos com autores literários e teatro infantojuvenil de forma que crianças, jovens e adultos pudessem experienciar a arte como forma de letramento sustentável. 

Raí Santana | Foto: Cella Figueiredo

“É um privilégio para mim, como artista e como educador, participar de um trabalho desse, muito lindo. Inclusive, esse é o objetivo de fazer as atividades ao ar livre. Dessa forma, os pais também têm a oportunidade de participar. É como eu costumo dizer: criança canta música de criança, brinca com brincadeira de criança. Desejo que a próxima edição seja tão linda e incrível como a primeira e que muito mais pessoas possam participar”, vibrou o multiartista e gestor cultural Raí Santana. 

Transformando o Parque da Cidade em uma grande biblioteca criativa, quem também marcou presença na primeira edição do Leituras no Parque foi o escritor Edgard Abbehusen que bateu um papo com os participantes da sua oficina criativa. 

Edgard Abbehusen | Foto: Cella Figueiredo

“Eu acho que a literatura tem que ocupar esses espaços mesmo, os parques, as praças públicas. Acho muito importante essa proposta da gente ocupar o Parque da Cidade com um projeto tão bacana. Esse parque que já pulsa criatividade e alegria, felicidade em pleno coração da cidade de Salvador. Trazer um projeto como esse que une música, literatura e livros em plena praça pública é ‘ouro’. É essencial”, disse o escritor cachoeirense que reafirmou que todo mês deveria ter uma edição do Leituras no Parque pois é isso que torna os livros e a literatura acessíveis. 

Redescobrir a experiência do livro, da leitura e da literatura ainda é uma realidade já que apenas 52% da população brasileira tem acesso a este bem cultural, segundo o Instituto Pró Livro. A falta de estímulo, de estrutura, fatores sociais e políticos podem ser algumas das causas. As neurodiversidades já diagnosticadas na população brasileira  também são apontadas como possíveis causas de restrição ao acesso à leitura e o desenvolvimento cognitivo já que   além da falta de dinheiro, tempo, costume e formação eficiente em Língua Portuguesa se tornam barreiras para o estímulo à leitura no Brasil. O analfabetismo, a lentidão na leitura, a ausência de concentração suficiente para ler e a não compreensão da maior parte do que foi lido, são alguns dos  entraves   para acesso aos livros. 

Marcos Costa, conhecido como Spray Cabuloso, já promove arte e educação já faz  25 anos buscando proporcionar às pessoas o acesso à arte compartilhando seus desenhos pelos murais da cidade de Salvador . 

Spray Cabuloso | | Foto: Cella Figueiredo

“Desenvolvo a minha linha de trabalho chamada Afro Graffiti onde eu busco que crianças , jovens e adultos se identifiquem, se vejam nos murais e se sintam pertencentes a cidade através do graffiti. Nesta primeira edição do  projeto Leituras no Parque eu trouxe uma oficina e um workshop de graffiti onde a gente trabalhou com uma parte de letras e uma parte de personagens e finalizando com  uma pintura coletiva”, finalizou o arte educador que disse ter sido interessante trazer a cultura do graffiti por Parque da Cidade passando para as crianças técnicas de criatividade num momento de interação e aprendizado. A arte urbana, o graffiti, tem esse poder de dialogar com as pessoas sobre diversos temas e a gente traz pra nossa realidade de Salvador, de Bahia e de diáspora sendo a nossa arte veículo de protestos e de expressões que dialoguem com nossos propósitos tanto enquanto movimento negro quanto movimento social. 

Em 2023, o Brasil ficou em 52º lugar no ranking internacional de acesso à leitura. O estudo foi desenvolvido pela IEA (Associação Internacional para a Avaliação de Conquistas Educacionais), que conduziu análises com crianças do 4º ano do ensino fundamental em 57 países e foi divulgada em maio de 2023.  O Brasil ficou atrás de Albânia (513), Cazaquistão (504), Azerbaijão (440), Uzbequistão (437) e Kosovo (421) .

Para Rose Bombom, de 42 anos, natural de Salvador , estilista e baiana de acarajé, o “Leituras no Parque”  é transformador na vida de crianças e adolescentes que estão se perdendo no mundo das drogas e da violência. “É positivo para nós, comunidade negra em Salvador”, finalizou.

Trazendo protagonismo, acolhimento e potência nas rimas, as cantoras do Slam das Minas, Nega Faya e Ludmila Singa enfatizaram a importância que a poesia fala esteja ocupando todos os espaços, ressaltando que estar no Parque da Cidade em pleno domingo, dia do descanso do trabalhador 6×1 em sua escala de trabalho, possa ter proporcionado um pouco de poesia para as crianças, os jovens e as famílias presentes na área verde das instalações do projeto. 

A escritora e diretora teatral  Cássia Valle trouxe o seu Bonde da Calu  e seu Mini-Recital para o palco aberto no Parque da Cidade. 

Cássia Valle | Foto: Cella Figueiredo

“Falar sobre literatura infantojuvenil para crianças neste projeto ,aqui no Parque da Cidade , é abrir um portal da imaginação. Nosso povo preto é literário”, finalizou a multiartista que celebra em 2024 os 7 anos de fundação do grupo infantil de Teatro Bonde da Calu que se tornou Instituto Calu Brincante neste mês de Dezembro. 

Para Elton Sales, empresário de produção  audiovisual da empresa 42 Polegadas em Salvador, ações como a da Umbu Comunicação & Cultura afirma como é importante o trabalhar com arte, com educação e promover o estímulo coletivo e gratuito de pessoas que durante a semana trabalham de forma árdua e no final de semana podem fazer suas ideais e seus pensamentos em projetos como o Leituras no Parque .

Banda Aiyê | Foto: Cella Figueiredo

Celebrando o Jubileu de Ouro do Bloco Afro Ilê Ayiê, a Banda Aiyê também se fez presente no encerramento da primeira edição do projeto Leituras no Parque. O cantor Jaoci Ojubara falou da felicidade em estar em projetos sociais que proporcionam cultura e identidade racial para as famílias da comunidade do entorno do Parque da Cidade. 

 *Texto produzido por Patrícia Bernardes Sousa, jornalista e mobilizadora de Projetos de Impacto Social na Bahia.

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