O encontro contou com a presença das coordenadoras do Instituto Odara, estudantes e coordenadoras da instituição de ensino
O Colégio Império do Saber foi palco de uma roda de conversas com mulheres pretas na manhã desta terça-feira (18), em Salvador.
Com o título “Julho das Pretas”, em referência ao mês em que se celebra o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o evento foi realizado no teatro do colégio.
O encontro contou com a presença das coordenadoras do Instituto Odara, estudantes e coordenadoras da instituição de ensino. Apesar do dia da Mulher Negra-Latino-Americana e Caribenha ser comemorado só no dia 25 de julho, fomentar esse diálogo sobre as questões das mulheres negras, tanto na sociedade como em espaços de produção do conhecimento, é um trabalho que precisa ser constante.

A data de 25 de julho foi escolhida devido ao 1° encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, realizado na República Dominicana, em 1992. O evento foi promovido com o objetivo de reunir essas mulheres e visibilizar os movimentos de luta contra o machismo e o racismo.
No Brasil, por meio da Lei 1.297 de 2014, também é comemorado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Assim como em 1992, hoje, mulheres negras ainda precisam lidar com duas mazelas sociais: o machismo e o racismo. Temas que fizeram parte da conversa que ocorreu nesta terça-feira. No encontro, as representantes do Instituto Odara, os corpos docente e discente do colégio conversaram sobre suas experiências de vida.
Convidado pelo Colégio Império do Saber, o Instituto Odara é uma organização negra e feminista, com sede em Salvador. Criado em 2010, o Instituto visa fomentar a autonomia e garantia dos direitos das mulheres negras, e combater as violências de raça e gênero sofridos por essa população. Um dos projetos do Instituto é o Julho das Pretas, que conta com uma agenda nacional.
Para Dai Costa, Coordenadora Pedagógica do Instituto Odara, é essencial levar o debate sobre identidade para o ambiente escolar.
“Tendo em vista a existência da lei 10.639, que garante o ensino da cultura afro, indígena e afro brasileira nas escolas, e a importância do Julho das pretas que é um projeto itinerante de ir as escolas, trocar, conversar com o corpo docente sobre a importância de identidade. Atualmente, passamos por um processo de reconhecimento enquanto mulheres negras e a escola é esse lugar de debate”, explica.
Diálogo
Quem também participou da roda de conversa foi a estudante do ensino médio, Beatriz Valverde. Segundo a jovem, esse momento de conversa é importante para identificar os avanços que as mulheres negras conquistaram nos últimos anos e os desafios que ainda precisam enfrentar.
“É necessário trazer conversas sobre as questões das mulheres negras e sobre a negritude, muitas pessoas não conhecem essas questões e compartilhando essas vivências, conseguimos propagar toda a nossa luta contra o racismo e o preconceito”, afirma Beatriz.

Motivada pela necessidade de abordar esses assuntos de maneira constante, a assistente social e orientadora do Colégio Império do Saber, Daiana Ribeiro, convidou o Instituto Odara para conversar com os estudantes da instituição.
Segundo a profissional, uma educação antirracista é o caminho para erradicar os preconceitos.
“Quando eu trago esse debate para a escola, é para mostrar para às meninas pretas a sua importância na sociedade. Fazer com que elas se fortaleçam cada vez mais. Trazer esse assunto, promove o respeito, desperta os gatilhos para que essas meninas se reconheçam como tal e usem seus cabelos crespos, tranças”, explica Daiana.
Produzir debates como esse, é como plantar sementes que dão frutos a curto e a longo prazo.
Questionada sobre o que deseja para as mulheres e meninas negras do futuro, Daiana respondeu: “Espero que a sociedade possa ter uma outra visão, que ela entenda que todos os espaços devem ser ocupados por mulheres negras, indígenas e brancas. Que não haja mais essa concorrência racial. É preciso ter uma outra visão. Espero que quando a minha filha chegar aos 20 anos, ela passe por um caminho diferente do meu. Quero um futuro para as mulheres negras mais dócil, com afetividade e sororidade”, conclui.