A morte de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, aos 88 anos, aconteceu longe do hospital em que passou 38 dias internado para tratar uma pneumonia. Foi em sua residência, a Casa de Santa Marta, nesta segunda-feira (21), horas depois do domingo de Páscoa, que o santo padre faleceu, após um acidente vascular cerebral (AVC) e um colapso cardiorrespiratório.
Argentino, Francisco foi o primeiro latino-americano a ser eleito Papa, assim como também o primeiro jesuíta. Em 12 anos de papado, ele canonizou mais de 900 santos, entre eles Santa Dulce dos Pobres, a primeira mulher brasileira canonizada pela Igreja Católica.
O pontífice teve papel fundamental no endurecimento da punição a abusadores sexuais e pedófilos na Igreja. Em mais de uma oportunidade, ele lamentou e pediu perdão às vítimas de abusos sexuais por integrantes da Igreja e expulsou religiosos de seus cargos. Francisco criou, em 2019, a cúpula de proteção de crianças e adolescentes e determinou a suspensão do segredo pontifício sobre crimes de abuso sexual cometidos por integrantes do clero.
Com um legado de tolerância religiosa, seu trabalho se voltou para o mundo além da Europa e da América do Norte. O Brasil foi o primeiro país, entre os 65 visitados, a receber Francisco, ainda em 2013, para a Jornada Mundial da Juventude. No ano seguinte, em visita à Terra Santa, na Palestina, ele visitou locais sagrados para muçulmanos, cristãos e judeus, e pediu que todas as religiões buscassem a paz, pedindo ainda que a solução de dois estados, para israelenses e palestinos, não ficasse apenas no sonho.
Sri Lanka, Filipinas, Cuba, Quênia e Uganda. também foram visitados. Foi o primeiro Papa a estar em uma zona de guerra na era moderna quando, em meio à guerra civil, visitou a República Centro-Africana.
Foi o primeiro líder da Igreja Católica a se reunir com o Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa desde a separação dos dois ramos do cristianismo, quase mil anos antes. Em Lesbos, na Grécia, ofereceu asilo a três famílias de refugiados que voltaram no avião com ele para o Vaticano.
O Papa defendeu a minoria muçulmana rohingya, perseguida por nacionalistas budistas em Mianmar e Bangladesh. Visitou Chile, Peru, Emirados Árabes Unidos e Iraque, sendo o primeiro Papa a estar no berço da religião islâmica.
República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste, Singapura e a ilha de Córsega, na França, foram suas últimas visitas.
Com perfil acolhedor, o Papa Francisco se mostrou mais liberal que seus antecessores, prezando pela inclusão de minorias e por uma mudança social da instituição religiosa. Defendeu uma postura de atenção aos pobres, refugiados e à crise ambiental, da mesma forma que propôs discussões por respeito e participação de mulheres, divorciados e pessoas LGBTQIA+ na religião.
Os ritos fúnebres devem se estender por nove dias, seguindo orientações expressas por ele no testamento. A missa do funeral do papa Francisco foi confirmada para sábado (26), às 10h (5h em Brasília), na praça de São Pedro. O caixão será levado na manhã desta quarta-feira (23) para a basílica, onde, depois de cerimônias internas, terá início a visitação dos fiéis.
Após os rituais do velório e sepultamento do papa, o Vaticano passa por um período de luto de nove dias, quando convoca o Colégio Cardinalício. Os cardeais ficam instalados na Casa Santa Marta. É o mesmo local onde Jorge Mario Bergoglio decidiu viver, ao renunciar ao apartamento papal no Palácio Apostólico.
Conclave
Com o falecimento do pontífice, quem assume provisoriamente a administração da Santa Sé é o cardeal camerlengo Kevin Joseph Farrell. Ele será também o responsável pela organização do conclave, procedimento secreto que elegerá o novo santo padre na Capela Sistina, Vaticano.
Antes da votação propriamente, ocorrem as reuniões gerais em que todos os cardeais participam e discutem os problemas da igreja e do mundo atual. A partir dali, começa-se a delinear perfis que possam assumir o papel de bispo de Roma, de papa.
Para a segunda parte, a votação na Capela Sistina, participam apenas os cardeais com menos de 80 anos. O número máximo de cardeais eleitores é estabelecido em 120, embora atualmente haja 135 com direito a voto – e, como no passado, podem ser concedidas exceções. Normalmente, o novo papa é escolhido entre cardeais que estão na capela, mas nada impede que alguém que está fora seja eleito.
No dia do conclave, da votação a portas fechadas, os cardeais dirigem-se à Basílica de São Pedro para a missa presidida pelo decano do Colégio Cardinalício, que atualmente é o italiano Giovanni Battista Re.
Em seguida, eles seguem em procissão para a Capela Sistina, preparada com bancos para as votações e o fogareiro onde serão queimadas as cédulas e anotações. Nesse momento, é proibido o uso de dispositivos eletrônicos ou qualquer contato com o exterior.
Se a eleição começar no período da tarde, o primeiro dia terá apenas um processo de votação. Já os seguintes terão até quatro votações, sendo duas de manhã e duas a tarde. O conclave mais longo da história demorou 33 meses, quase três anos, para eleger Beato Gregório X como papa, em 1271.
Cada cardeal escreve o nome do escolhido em um papel retangular e deposita em uma urna. Após a sessão, dois apuradores abrem os papéis e leem silenciosamente os nomes, enquanto um terceiro os pronuncia em voz alta. As cédulas são furadas, amarradas umas às outras e queimadas no fogareiro.
Se ninguém atinge a maioria qualificada de pelo menos dois terços dos votos, é adicionada uma substância que tinge a fumaça de preto. Caso haja um eleito, o decano pergunta se ele aceita o cargo e qual o nome escolhido para exercer o pontificado. Francisco foi o nome escolhido por Jorge Mario Bergoglio para seu pontificado, em referência a São Francisco de Assis.
Caso o cardeal escolhido aceite o cargo, as cédulas são queimadas com um aditivo branco, mostrando ao mundo que um novo papa foi eleito. Na sequência, há o anúncio com a famosa frase “habemus papam” – temos papa – na Basílica de São Pedro. Por fim, o papa aparece para dar sua primeira bênção.
Com informações de Jornal Nacional e Agência Brasil
