Jornalista negro fez fama no início do século XX como autor de um estilo pioneiro na imprensa carioca
A 22ª edição da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, vai homenagear o cronista João do Rio. O jornalista negro, que fez fama no início do século XX como autor de um estilo pioneiro na imprensa carioca, será celebrado no evento que acontece de 9 a 13 de outubro.
Segundo o diretor artístico da festa, Mauro Munhoz, o homenageado mudou a maneira de fazer jornalismo no Brasil ao entender o ofício como literatura. O autor quis transformar sua profissão em arte, para Munhoz, e “desempenhou um papel crucial ao documentar a vida urbana do Rio de Janeiro com uma perspectiva única e detalhada”
Ana Lima Cecilio, curadora desta edição da Flip, destaca a intenção de homenagear um cronista, autor de um “gênero totalmente brasileiro”, e diz que João do Rio era uma figura cheia de contradições que ajudam a “explicar o Brasil”.
“Por um lado, era fascinado por Paris, por outro, subia o morro do Rio de Janeiro com muito gosto, da mesma forma que o Rio era uma cidade dividida entre a fome de progresso e o convívio com sua formação”, aponta a livreira.
João do Rio é o quarto escritor negro homenageado pela Flip desde sua criação em 2003, depois de Maria Firmina dos Reis, Lima Barreto e Machado de Assis.
Nascido de pai branco e mãe negra como Paulo Barreto em 1881, João do Rio trabalhou sob outros pseudônimos e foi alçado a uma vaga na Academia Brasileira de Letras aos 29 anos, quando já era popular na imprensa da cidade.
O cronista da “belle époque carioca” publicou 25 livros —entre eles “A Alma Encantadora das Ruas”, de 1908, e “Dentro da Noite”, de 1910 —e mais de 2.500 textos em jornais e revistas.
A obra do autor está em domínio público e tem antologias recentes na Carambaia e na José Olympio, selo da Record, com publicações também pela Companhia de Bolso, Martin Claret e UFMG, entre outras.
João do Rio morreu na mesma cidade em que nasceu, após um ataque cardíaco. O que lembra outra contradição: era tão admirado que arrastou uma multidão de estimadas 100 mil pessoas em seu velório, mas hoje seu nome segue quase esquecido —algo que a Flip deve mudar.
O anúncio do homenageado acontece a quatro meses da festa, e a falta de antecedência nas divulgações da Flip 2024, como a definição da data em que o evento aconteceria, tem gerado queixas de editores.
Ainda não há nenhum autor confirmado publicamente na programação, que será comandada por Cecilio após três anos de curadorias coletivas.
Fonte: Folha de S. Paulo