Tiradentes foi morto como mártir da Inconfidência Mineira, conspiração que reivindicava a emancipação do Brasil de Portugal

Apesar de ter caído em pleno domingo, o feriado de Tiradentes, rememorado neste dia 21 de abril, homenageia Joaquim José da Silva Xavier, um personagem chave da chamada Inconfidência Mineira, um movimento separatista da elite socioeconômica da então capitania de Minas Gerais, em 1789.
Natural de Minas Gerais, Joaquim, conhecido como Tiradentes, foi um ativista político, dentista, tropeiro, minerador, comerciante e militar. Um dos principais articuladores da revolta que reivindicava a emancipação do Brasil de Portugal.
Segundo educadores, Tiradentes participou da Conjuração Mineira como propagandista, sendo designado a angariar apoiadores para a causa. Após ser preso pelas autoridades, a Coroa portuguesa determinou a execução de Joaquim Xavier, ocorrida em 21 de abril de 1792. A data, anos mais tarde, foi reconhecida como marco para homenageá-lo por meio do Decreto nº 155-B, de 14 de janeiro de 1890, durante o governo provisório de Deodoro da Fonseca.
Conspiração
A situação é que, no auge da tensão entre a elite mineira e Portugal, entre 1788 e 1789, a Capitania de Minas era comandada pelo governo do Visconde de Barbacena. A crise atingiu seu ponto máximo por causa da política fiscal da Coroa portuguesa, momento em que Tiradentes e outros cidadãos – como poetas, religiosos, intelectuais, militares e mineiros – se reuniram contra o governo do Visconde de Barbacena.
O objetivo da conspiração era se livrar da pressão econômica portuguesa e, inspirados nos ideais iluministas, os inconfidentes organizaram instituir uma república constitucional em Minas Gerais.
Entre os projetos deles estavam:
Proclamação de uma república aos moldes dos Estados Unidos;
Realização de eleições anuais;
Incentivo à instalação de manufaturas como forma de diversificar a produção econômica das Minas Gerais;
Formação de uma milícia nacional composta pelos próprios cidadãos das Minas Gerais.

No entanto, a conspiração não vingou. Joaquim Silvério dos Reis delatou os inconfidentes ao governo de Barbacena, acreditando que teria suas dívidas perdoadas pela Coroa. Após a delação, os envolvidos foram condenados pelo crime de Lesa Majestade – crime de traição contra a sua majestade – e condenados ao degredo – exílio como punição de crime grave -. Tiradentes, considerado o líder do movimento, foi o único a assumir a culpa e recebeu a pena de morte na forca.
Povo x Elite
Apenas 46 anos depois da morte de Tiradentes, no século XIX, Salvador também promoveu a sua própria insurreição. Diferente da Mineira, a Revolta dos Malês não contava com mentores da elite na defesa de suas pautas. Foram cerca de 600 pessoas escravizadas que foram às ruas por sua própria liberação, tanto dos grilhões, como de sua fé.

Conhecido pela grande adesão de africanos muçulmanos e inspirado na Revolução Haitiana de 1804, o movimento foi executado no dia 25 de janeiro de 1835, na chamada Noite da Glória, que celebra a revelação do Corão a Maomé. Os objetivos eram ambiciosos: acabar com a imposição do catolicismo, abolir o regime escravocrata, tomar o império e fundar uma república islâmica no nordeste do Brasil.
Como já era esperado, os participantes do ato não receberam como pena o degredo. A punição dada foi de extrema violência, 70 negros mortos no conflito e outros que perderam suas vidas na tentativa de fugir nadando.
Houve açoitamentos, deportações para localidades distantes no Brasil e na África, além de prisões. Pacífico Licutan, um dos nomes da Revolta, recebeu 1.200 chibatadas, falecendo em 11 de fevereiro do mesmo ano.
O ato deixou o império em alerta e logo os escravizados africanos foram submetidos à repressão abusiva, violência e colocados sob vigilância constante.
Sem juízo de valor, as diferenças são provocativas. Qual dos dois movimentos realmente veio do povo? Haveria razões para celebrar o mártir da elite, retratado recorrentemente como o Cristo, ou seria necessário refletir com mais cuidado a respeito do sofrimento a que foi submetido o povo preto que, armado do que tinha à mão, reivindicou sua liberdade? O que se destaca é: um foi feito pelo e para o povo, o outro tinha como bandeira a defesa de interesses econômicos de poucos.
Com informações de Politize, Mundo Educação e Brasil Escola.
Amei o texto. Gostaria de saber um pouco mais sobre o negro africano Calafate nesse episódio