Voltada para jovens, adultos e idosos, a EJA é uma política específica de educação baseada no pensamento do educador brasileiro, Paulo Freire
Quando o assistente administrativo Elio da Silva chegou em Salvador, precisou se dedicar exclusivamente ao trabalho. Natural de Feira de Santana, na época, Elio morava de aluguel e, sem uma profissão definida, trabalhou como pedreiro em construções. Foi somente em 2017 que, estabilizado financeiramente, conseguiu concluir o ensino médio, através do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA).
Assim como a história de Elio, milhares de brasileiros decidem deixar os estudos para trabalhar. Após alguns anos, em busca de melhores oportunidades de emprego, regressam à sala de aula em busca de conhecimento. Uma alternativa para concluir os estudos, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma política de estado criada pelo Governo Federal que atravessa todos os níveis da Educação Básica no Brasil.
Voltada para jovens, adultos e idosos, a EJA é uma política específica de educação baseada no pensamento do educador brasileiro, Paulo Freire. Na Bahia, a EJA se consolidou no ano de 2009. A política está presente nos 27 territórios de identidade do estado.
Para Carla Nogueira, Coordenadora da Educação de Jovens e Adultos da Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC), a EJA é uma política que leva em conta as experiências de cada indivíduo. “A EJA no estado da Bahia se vincula a essa educação popular, que é um conceito de educação de adultos, que emerge dos movimentos sociais. A EJA é uma política que utiliza uma metodologia de educação e conceitos próprios, que vai colocar esse sujeito no centro da questão”, explica Carla.
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De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, feita pelo IBGE em 2022, dos jovens de 18 a 24 anos, cerca de 36% das pessoas brancas estavam estudando, enquanto pretos e pardos o número caiu para 26,2%. Nessa faixa etária, entre os brancos que frequentavam a escola, 29,2% cursaram o ensino superior, ante 15,3% dos indivíduos de cor preta ou parda. Além disso, 70,9% dos pretos e pardos nessa idade não estudavam nem tinham concluído o nível superior, enquanto entre os brancos este percentual foi de 57,3%.
Ainda segundo a PNAD Contínua, a taxa de analfabetismo, no Brasil, recuou de 6,1% para 5,6% em 2022. A região Nordeste apresentou a taxa mais alta com 11,7%, já o Sudeste, registrou os menores números, cerca de 3%. No grupo dos idosos (60 anos ou mais) a diferença entre as taxas era ainda maior: 32,5% para o Nordeste e 8,8% para o Sudeste.
Das 9,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais de idade que não sabiam ler e escrever, 59,4% (5,3 milhões) viviam no Nordeste e 54,1% (5,2 milhões) tinham 60 anos ou mais.
Para reduzir as dificuldades no acesso à educação, a SEC tem apostado na comunicação, como uma ferramenta para atrair esses indivíduos novamente para a sala de aula. “Um dos maiores desafios da EJA é a redução do analfabetismo ou do analfabetismo funcional”, afirma Carla.
Os baianos interessados em retomar os estudos contam com duas opções para obter os certificados de conclusão do ensino fundamental ou médio. A SEC promove a Comissão Permanente de Avaliação (CPA), uma política de certificação estadual. Diferente do ENCCEJA que ocorre anualmente, a CPA é realizada mensalmente.“Muitas pessoas não têm conhecimento da CPA, acredito que esse seja um dos desafios, comunicar melhor, reforçar essa política”, diz a Coordenadora.
Em Salvador, existem 3 unidades certificadoras: o Colégio Central da Bahia, localizado em Nazaré; o Colégio Estadual Duque de Caxias, na Liberdade, e o Colégio Estadual Governador Roberto Santos, no Cabula. Os interessados em realizar a CPA, devem agendar o exame de certificação, através do endereço eletrônico: https://cpadigital.educacao.ba.gov.br/
Perfil
As razões que levam uma pessoa a deixar a escola são muitas, no entanto, a necessidade de se dedicar exclusivamente ao trabalho é a maioria dos relatos, há também deslocamento de uma região para outra, gravidez antecipada, etc.
“Há mulheres que, depois de criar os filhos e sustentar a família, retornam à escola para realizar o sonho de concluir o ensino médio. Logo, a EJA é o caminho para esses sujeitos que não tiveram a oportunidade de finalizar seus estudos. Muitos voltam para a sala de aula, que é um espaço potente de aprendizagem e socialização.”, relata a Coordenadora.
A PNAD Contínua traça ainda um retrato interessante sobre os jovens Nem Nem – não estudam e não trabalham. De acordo com os dados, cerca de 18,3% dos jovens de 14 a 29 anos não concluíram o ensino médio, seja por abandono ou por nunca terem frequentado a escola. A necessidade de trabalhar foi a principal justificativa dos jovens com 14 a 29 anos de idade para abandonarem a escola, motivo informado por 40,2% neste grupo etário.
Entre as 49 milhões de pessoas de 15 a 29 anos de idade no Brasil, 20,0% não estavam ocupadas nem estudando, 15,7% estavam ocupadas e estudando, 25,2% não estavam ocupadas, porém estudavam e 39,1% estavam ocupadas e não estudavam.
Após superar tantas adversidades, regressar a uma sala de aula pode ser um desafio para jovens, adultos e idosos, isso porque, muitos estudantes precisam conciliar os estudos com o trabalho. “Pegar uma jornada diária de 8 horas, na época eu trabalhava no Centro Administrativo da Bahia e ir para o colégio à noite foi um desafio, mas, graças a minha rede de apoio eu não desisti”, relata Elio.
Falta de concentração e jornada dupla são pedras no caminho dos estudantes da EJA, mas, com atenção, as adversidades podem ser superadas. “O desafio é, após um dia de trabalho, ir para a escola, ter disposição, por isso a EJA passa por alguns conceitos fundamentais, com uma formação adequada de professores, onde esses profissionais devem lidar com o estudante EJA de maneira singular e mais sensível”, finaliza Carla.