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Especial Dia da Televisão: Fenômeno das sete, ‘Vai na Fé’ encerra seu ciclo com representações femininas importantes para a teledramaturgia brasileira

Produção abriu espaço para o protagonismo negro, fortaleceu a representação afro-feminina e alcançou recorde significativo para a Globo

Comemorando hoje o Dia da Televisão, era impossível não relatar a novela mais falada atualmente, que chega ao fim justamente nessa data com uma marca importante para o cenário brasileiro. Obra de Rosane Svartman, “Vai na Fé” tornou-se o maior faturamento da história da Globo, superando a clássica novela das sete “Cheias de Charme”. As empreguetes deram lugar à religiosidade e ao protagonismo negro, fortalecendo as representações que, sem dúvidas, foram de extrema importância para se tornar a número um. 

A trama acontece no bairro de Piedade, na cidade do Rio de Janeiro, onde a sua personagem principal Sol, interpretada pela fenomenal Sheron Menezzes, passa a juventude frequentando bailes funk,  um marco importante dos anos 2000. É nesse local que ela conhece Ben (Samuel de Assis) e Theo (Emílio Dantas), que mais tarde se envolvem em inúmeros conflitos envolvendo a advogada Lumiar (Carolina Dieckmann).

Escrevendo sua própria narrativa, a protagonista tem o sonho de se tornar uma artista reconhecida, mas para isso ultrapassou diversas barreiras incluindo a violência sexual que acomete diversas mulheres, em especial as negras, na atualidade. O seu sonho se torna real, mas ainda assim, vemos a personagem de Sheron Menezzes duvidar de sua própria capacidade e merecimento, colocando em prova o seu potencial. A dificuldade de se entender como merecedora do sucesso é um dos temas que abraça a realidade de diversas Solanges, intensificando a identificação com a protagonista. 

A família de Sol é composta 100% por pessoas negras: Che Moais interpreta Carlão, marido da protagonista; Manu Estevão vive Duda, filha mais nova do casal; além de Bella Campos, que dá vida a Jennifer, também protagonista da trama e primeira integrante da família a ingressar no curso superior. Entre outros atores negros estrelando na trama tivemos, Mc Cabelinho interpretando o personagem Hugo, Jean Paulo Campos como Yuri, Elisa Lucinda vivendo Marlene, Clara Moneke como Kate,Carla Cristina Cardoso interpretando Bruna, Orlando Caldeira vivendo a Antony Verão, Jonathan Haagensen como Orfeu, Tati Vilela como Naira e Clara Serrão dando vida à personagem Bella.

Longe de Piedade, a obra incrível que reuniu grandes nomes da TV brasileira adentrou cada lar de forma significativa, afinal todo grande fenômeno tem algo em comum com a realidade particular de cada. Cheia de otimismo e religiosidade, a criação de Rosane Svartman foi reconfortante um cenário conturbado como o que o Brasil esteve, seja na polarização política, em que o ódio marcou até famílias, seja na crise econômica ou mesmo na pandemia, em que milhares morreram e outros milhões sofreram com as sequelas da Covid-19. 

Se ver feliz dentro de uma sociedade difícil foi um tema que a trama trouxe de forma bem delicada, principalmente por trazer o elenco para mais perto. Tendo 70% de seu elenco formado por pessoas negras, se enxergar em Sol – negra, evangélica, periférica -, que passa por diversos problemas reais, mas precisa levantar cedo para pôr o pão de cada dia na mesa. Foi uma tarefa fácil, a escolha da personagem retrata uma mulher típica brasileira, guerreira.

Esses espaços ocupados são óbvios por sermos um país negro, mas é um grande avanço para nós, que vivemos as mazelas reais de não se sentir representado. Isso, nada mais é que o resultado de muita luta da população negra e tenho certeza que há diversas Solanges, Kates, Jennifers, Brunas, Marlenes, Nairas e Bellas em cada uma de nós que faz da trilha sonora da telenovela valer:

“Com muita coragem, a gente tá de pé, a gente segue em frente. De cabeça erguida e sonhos pra viver, nada segura a gente, ninguém segura a gente. Foco, respeito, paz e esperança essa é a missão. Pelos meus, peço força, saúde, na vida, muita proteção. E é desse jeito que vai ser: o Sol, pra gente, sempre vai nascer. Não importa o que acontecer, nossa voz vai ecoar, o brilho iluminar em todo canto, em todo lugar”.

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