Rapaz, pense em uma coisa chique, é andar de avião. Imagine aí: pegar um avião saindo de Salvador e, em duas horas, já estar em São Paulo, comendo um sanduíche de mortadela no Mercadão ou no Rio, tomando um mate gelado e comendo o Biscoito Globo na praia de Copacabana. Pense aí! E ainda vai dar tempo de voltar e chegar em casa antes do engarrafamento do Iguatemi. Isso é coisa de bacana, não é? Mas coisa de bacana mesmo é ter acesso às tais das salas VIP nos aeroportos. Aí sim, você tá por cima da carne seca.
Para quem ainda não sabe o que são essas tais salas VIP, elas são espaços na área de embarque nos maiores aeroportos onde você pode esperar o seu voo com todo conforto e mordomia, comer e beber à vontade e até tomar banho, caso queira, sem pagar um centavo! Pelo menos, não na hora de pegar as coisas.
Isso sim que é mordomia de verdade! Pense aí: você tomar um banho enquanto espera o avião. Já imaginou isso?
Agora é aquela coisa, só entra quem pode. Falei “quem pode” e não “quem quer”. Falo isso porque apesar de algumas salas permitirem que você pague a bagatela de R$300 para ter acesso, se for credenciado ou associado de algum clube ou associação, a maioria só permite entrar quem tem um determinado tipo de cartão de crédito.
Essa diferenciação e, de certa forma, segregação, não acontece só nas salas VIPs dos aeroportos não. Existe no Carnaval, com seus camarotes para convidados ou espaços dentro do próprio camarote, nos hotéis, litoral, clubes, salas de cinema e por aí vai. Todos esses locais possuem um espaço para convidados. Precisa ter uma forma de separar os espaços das pessoas ditas ‘importantes’ dos pobres mortais.
É, filho, até quando o pobre acha que ficou rico, inventam uma coisa mais exclusiva para acabar com a alegria do filho de Deus.
De um modo geral, esses acessos são ofertados pelos bancos quando você aceita pagar para ter os cartões de crédito platina, infinito, black, prime ou sei lá mais qual, que normalmente cobram uma taxa mensal de mais de R$100 só para ter o cartão e exigem um consumo mínimo por mês, ou quando você é uma pessoa pública que representa ou pode representar algum tipo de poder de decisão na sociedade.
Não desanime, para você que não possui esse tipo de cartão, não é pessoa pública com poder de influência ou não faz parte de algum tipo de sociedade para ter esses benefícios gratuitos, existe uma opção, basta ter o montante de R$150 mil em investimento em algum banco. Aí pai, neste caso, o banco nem espera você pedir, ele mesmo vai enviar para o seu endereço um cartão Black Primer TOP das Galáxias, para que você tenha acesso a esses espaços sem te cobrar nadinha e, de bônus, não vai nem mesmo exigir o consumo mínimo mensal.
Resumindo, qualquer que seja o lugar e qualquer que seja o seu padrão de vida, sempre terá um ambiente mais exclusivo para diferenciar as pessoas. Então filhote, deixe de loucura e pare de se comparar com os outros e reclamar da vida que tem achando que a do outro é melhor. Viva e comemore o que você tem.
É claro que todo mundo gostaria de ter acesso a uma dessas salas e não ter de pagar R$8,00 na água ou R$30,00 em uma porção com cinco pães de queijo. Mas acredite, é muito melhor comemorar o fato de não ter que ficar quase dois dias dentro de um ônibus para chegar em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Vá por mim, a sala de espera dos mortais é bem melhor!
Filho, pelo amor de Deus, deixe de ficar se comparando ou medindo sua vida com o que os outros fazem ou dizem porque, por mais que você ache que tem alguma coisa, sempre terá algum lugar em que o seu dinheiro não dará acesso. E dê um viva a esses espaços porque eles servem para lembrar aos “amostradinhos” que possuem algum dinheiro acumulado ou herdado, de que devem ter cuidado e tratar todos com respeito, porque sempre haverá alguém com mais dinheiro e mais acesso. Eles farão questão de lembrá-los que todos estão sujeitos a serem tratados como diferença e segregação.
OPINIÃO
O texto que você terminou de ler apresenta ideias e opiniões da pessoa autora da coluna, que as expressa a partir de sua visão de mundo e da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Umbu.
Interessante interpretação de que é ter é poder. Parabéns.
Pura verdade , devemos aproveitar e valorizar o que está ao nosso alcance.
Num país de tantas desigualdades, o cidadão é tratado de acordo a conta bancária, e não ter dinheiro, ou não ter o patrimônio que imagina ser necessário para o bem estar, faz com que nunca esteja bem, querendo mais e mais, não valorizando o que tem, e como resultado, surgem os transtornos emocionais por conta do que o mercado dita que você precisa ter.