Salvador é cantada em prosa e verso, tanto aqui quanto acolá, como a capital da cultura do país. Aqui, convivem, transitam e dialogam manifestações culturais de todas as matrizes e de todas as tribos.
De vez em quando acontece um arranca rabo, uma crítica mais acirrada, mas o normal é a convivência pacífica. Mas não há como negar que Salvador é um verdadeiro caldeirão cultural, graças a sua população.
Por isso mesmo, não se justifica a concentração espacial absurda dos equipamentos culturais públicos em nossa na cidade. Se observarmos com um pouquinho de atenção veremos que mais de 90% desses equipamentos culturais estão localizados em 8km de linha reta, que vai do bairro do Rio Vermelho ao Centro Histórico.
Fora daí, temos o Centro Cultural Plataforma, no Subúrbio Ferroviário, e a Casa da Música, na Lagoa do Abaeté. O resto, é um deserto.
O que resta para nossa juventude são as praias e os famosos paredões, quase sempre reprimidos violentamente pelos órgãos de segurança do estado e do município que consideram essas manifestações como coisa de vagabundos e traficantes.
Nos bairros de São Caetano, Pirajá, Valéria, Liberdade, considerados os mais populosos de Salvador, não há uma sala pública para o desenvolvimento de qualquer atividade de dança, teatro, música, audiovisual, nada.
Nesses bairros populares, o máximo que chega é o cercadinho para o campo de futebol e o jogo de camisas dado por algum vereador, ávido pelos votos da galera. Tudo tem que ser feito no meio da rua ou com a cessão de espaços das igrejas ou de empreendimentos privados.
É triste admitir, mas a concepção de cidade ainda vigente em Salvador, no que tange a equipamentos culturais públicos, é da década de 50 do século passado. Quando nesse trecho residia a elite política, econômica e social de Salvador. De lá para cá, muita coisa mudou. A cidade cresceu, o número de bairros se multiplicou e a população se decuplicou.
Mas na área de equipamentos culturais públicos, não mudou praticamente nada. A concepção continua a mesma. “É tudo nosso, nada deles”, deve pensar a classe média baiana.
Teatros, Museus, Galerias, Bibliotecas, Centros Culturais, Casa do Carnaval, da Música, das Histórias, tudo está concentrado nessa área. Parece absurdo e é! É como se não existisse vida cultural qualificada fora desse trecho.
Bairros como o de Cajazeiras, por exemplo, com uma população de quase um milhão de habitantes, considerado um dos maiores aglomerados da América Latina, com um centro econômico e comercial poderosíssimo, possuindo inclusive universidades, não possui um único equipamento cultural público, seja ele do governo federal, estadual ou municipal.
Cansei de ver e ouvir a juventude de Cajacity, bradar por meio das suas diversas entidades que seja instalado ao menos um Centro Cultural na área, para que pudessem desenvolver suas atividades artísticas com o mínimo de qualidade.
Lamentavelmente, sempre foram e continuam sendo, solenemente ignorados.
Enfim, esperemos que as nossas autoridades se sensibilizem com esse absurdo, levem a sério o mantra de que “Salvador é a capital da cultura” e materializem o discurso de democratização dos espaços culturais em Salvador, com a instalação dos mesmos, ao menos nos bairros mais populosos.
Toca a zabumba que a terra é nossa!
Opinião
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