“Eu não anoto o valor das minhas contas e não olho diariamente o saldo do banco ou a fatura online do cartão de crédito porque tenho medo do que vou ver!”
Essa semana me deparei com esta afirmação e foquei meus pensamentos em buscar entender de onde vem esse medo que aflige boa parte da população economicamente ativa do país e que, na minha opinião, contribui em muito para piorar o cenário de endividamento e empobrecimento do povo.
A primeira coisa que me veio à cabeça foi a falta de orientação financeira desde a infância e a forma que a Matemática é apresentada às nossas crianças nas escolas, tendo que decorar fórmulas e tabelas sem entender para que serve na vida cotidiana. Talvez essa seja uma das causas ou parte da causa de tanto medo dos números e, por consequência, o medo de anotar e acompanhar os gastos que contraímos no cartão.
Observe que anotar os valores em uma planilha eletrônica ou em um papel nos remete aos números, somas, subtrações, percentual, regras, cálculos etc. Enfim, tudo o que tínhamos dificuldades na escola (a maioria das pessoas) e que traz à tona o medo do erro e fracasso (nota baixa) que antigamente era acompanhada de reclamações, decepção e punições dos pais.
Outra coisa que me veio à mente quase que de imediato foi a questão da inclusão e aceitação no meio: ninguém quer ser diferente ou ficar por baixo. Todos nós fomos ensinados a competir, a vencer, a ser melhor que alguém. E, se não conseguimos ser esse melhor, temos que garantir ou mostrar que não somos o pior, né? Para isso, faço de tudo, até mesmo me endividar para ter ou viver as mesmas experiências que todos com quem convivo têm e vivem ou, em casos extremos, mentir e fantasiar histórias para justificar a ausência ou a falta de condições. Já parou para pensar nisso? A escola dos filhos é um grande exemplo disso. Quem já não fez aquele esforço para colocar seu filho naquele passeio ou festinha que a escola está promovendo e que TODAS as crianças vão?
Também me veio à cabeça a questão da autoestima, o medo de olhar as contas e ver que não pode realizar o desejo naquele momento e se sentir fracassado, diminuído e impotente.
Tudo isso é verdade e acaba sendo jogado na nossa cara quando anotamos e controlamos nossos gastos. A Matemática é fria e não possui sentimentos. Você pode até ser criativo e inventar uma desculpa, mas no fundo vai saber que está errado cada vez que olhar as anotações. Nós temos medo mesmo é da verdade. Simples assim!
Agora que aceitamos a verdade, se já sabemos do que temos medo, podemos fazer a nossa escolha. Continuar fugindo ou usar a cabeça para desenvolver estratégias e se liberar. Isso mesmo, ser livre para viver uma vida sem medo.
O segredo é desconstruir e desconstruir essa ideia de vergonha ou de fracasso. Nem sempre estamos prontos ou preparados para atender os estímulos de consumo do mundo ou até mesmo, nem queremos fazer aquele passeio que todo mundo na internet diz que é bom ou ir no restaurante de comida escandinava que está na moda que o povo do trabalho diz que é maravilhoso (nem sei onde fica a Escandinávia). E isso nem de longe é motivo de vergonha.
Outra coisa que temos que ter na cabeça que vergonha mesmo é roubar, trapacear e enganar quem confiou em você. Não ter condições de comprar uma roupa hoje ou ter que se planejar para ir em um determinado restaurante, não tem problema nenhum. Se você não sabe, quase todo mundo à sua volta faz isso (planeja), só não te diz. Ter consciência e controle de suas contas e se planejar é um sinal claro de autocontrole (liberdade) e evolução econômica.
Outra dica, nada de ir na onda da mídia que diz que fulano da TV foi em tal lugar ou que sicrano da revista está usando isso ou aquilo. A maioria das pessoas famosas ou ricas de verdade não gastam dinheiro pagando restaurantes ou usando coisas da moda. Nem precisam, eles são convidados ou patrocinados para frequentar esses ambientes ou usar determinado item como forma de promoção da franquia, marca ou grife. Vai dizer que nunca ouviu falar do pagamento com “@”? Estamos na era dos influencers.
Para finalizar esse banho de realidade e acabar com esse medo, minha sugestão é colocar na cabeça de uma vez por todas que contas, boletos, prestações e coisas afins são resultados das nossas escolhas e, por isso, somos nós quem devemos ter o controle de toda e qualquer situação que possa surgir.
E por isso é tão importante anotar cada gasto e acompanhar o saldo da conta bancária ou dos custos do cartão de crédito para que tenhamos a oportunidade de escolher fazer agora ou planejar para o próximo mês e, principalmente, não meter os pés pelas mãos e cair na armadilha do endividamento. Ninguém consegue planejar nada sem informação! Projetar e “planejar” sem informação é sonho ou desejo e fazer sem saber como pagar, é irresponsabilidade.
Temos muito mais motivos para agradecer do que sentir medo ou se envergonhar quando recebemos uma conta para pagar. Parece ironia, mas é verdade. Banco não dá crédito ou cartão para quem é quebrado. Os prestadores cortam logo o serviço se perceber que você quebrou.
Então, levante a cabeça, tome o controle das suas contas, anote cada aquisição e faça suas escolhas de forma consciente. Se planeje!!!!! Se ainda não entendeu, então imagine um futuro onde você não pode escolher ou decidir nada da sua vida e ainda depende de outros para suas necessidades mais básicas.
Tenho certeza que você vai até sorrir quando a fatura ou boleto chegar e você pagar sem sustos. Vai ter a certeza que faz a escolha certa e que a vida sem medo é muito mais próspera e feliz.
Foto: Drazen Zigic/Freepik
Concordo, o consumo sem necessidade e sem controle é um enorme problema.
Educação financeira é imprescindível na vida do ser humano.
O texto é um verdadeiro alerta e demonstra que vivemos em um ciclo vicioso e precisamos romper esse elo para ter equilíbrio financeiro
O cartão de crédito é a armadilha que nos trás a ilusão de que podemos gastar vivendo momentos e esquecendo de pensar que no final do mês a conta chega, e em alguns momentos gastamos mais do que recebemos. Esse texto é um choque de realidade.