OMS estima que cerca de 300 milhões de pessoas sofram da doença no mundo

Em abril de 2024, a cantora e ex-BBB Linn da Quebrada anunciou uma pausa na carreira para tratar uma depressão. A artista disse, por meio de comunicado, que para realizar suas atividades profissionais precisava estar “com saúde física e mental em dia”. Na ocasião, os shows que a cantora realizaria precisaram ser cancelados. Dois meses depois, em junho, foi noticiado que a artista havia sido internada em uma clínica de reabilitação para cuidar de sua saúde mental.
“Tô fazendo o que eu sinto que é o melhor pra mim nesse momento. Tratando de uma depressão. Tratando de um momento que eu percebi que eu precisava cuidar da minha saúde mental pra poder voltar pra vocês da melhor maneira possível para poder voltar a trabalhar com mais consciência de quem eu sou, mais consciência de quem eu gostaria de ser nesse momento”, afirmou a cantora em comunicado.
A doença enfrentada por Linn da Quebrada tem se mostrado cada vez mais presente no cotidiano das pessoas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 300 milhões de pessoas sofram da doença no mundo. No Brasil esse cenário é ainda mais alarmante, isso porque, entre os países da América Latina é o que apresenta as taxas mais elevadas de índices de depressão.
Uma pesquisa feita por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Chile e publicada no The Lancet, mostra que em média, cerca de 12% das pessoas na América Latina apresentarão a doença ao longo da vida, enquanto no Brasil esse número chega a 17%.
Para entender o que é a depressão e quando é necessário procurar ajuda, nossa reportagem conversou com a psicóloga clínica Maria Milena dos Santos.
“O transtorno depressivo é uma psicopatologia que pode ser dividida em subgrupos, possuindo características próprias para cada grupo específico, como a duração, etiologia – a partir do quê se originou/desenvolveu – e momento específico. A depressão maior, sendo a mais comum, pode ser entendida enquanto um estado de humor deprimido, triste, em que há baixo ou nenhum interesse, desejo ou vontade que interfere diretamente na dinâmica daquele sujeito”, explica Maria Milena.
De acordo com a psicóloga, o DSM-V, sigla do manual que padroniza os critérios de diagnósticos dos transtornos que afetam a mente, a depressão tem alguns sintomas que são comuns como humor triste, sensação de vazio, irritação constante, alterações somáticas no corpo e cognitivas. “É importante ressaltar que o diagnóstico não é a combinação dos sintomas. O indivíduo ali presente, com sua história, experiências, formas de estar no mundo precisa ser incluído e analisado a partir desse contexto”.
Sentir angústia e tristeza é um processo inerente ao ser humano, passar por fases meio “bad trip” também. No entanto, é preciso saber o momento exato em que é preciso ligar o alerta e buscar ajuda.
“É sempre importante trazer a angústia e a tristeza como emoções que fazem parte da vida, visto que tem funções importantes para o psiquismo. Contudo, quando essa tristeza e angústia são percebidas em um ponto de intensidade que não há mais desejo e pulsão de vida para fazer atividades mínimas do dia-a-dia ou que antes traziam um certo prazer, as vendo com apatia ou precisando de extrema energia para executá-las, pode ser um sinal de que se deve buscar ajuda especializada para que se possa compreender o caso clínico”, analisa Maria Milena.
Frustração
Segundo informações do jornal Correio Braziliense, o agravamento da depressão de Linn da Quebrada foi motivada pela frustração da artista com a falta de oportunidades profissionais após sua participação no Big Brother Brasil em 2022.
“É interessante compreender os pormenores que envolvem a frustração nesse caso específico de Linn, pois se pararmos para refletir, o fato dela ser travesti e negra, pode ter influenciado na baixa de oportunidades pós-reality. Não é novidade que algumas pessoas com características específicas podem ter mais oportunidades do que outras e isso escancara não só o racismo, como a LGBTQIAP+fobia e papéis de gênero, e que apesar de se discutir mais abertamente sobre isso, dos esforços, ainda assim vivemos em um país extremamente conservador”, reflete a psicóloga.
Pesquisando sobre o assunto, é fácil se deparar com frases do tipo ”A depressão é o mal do século” e com o aumento no número de casos, essa percepção de que a doença está mais presente na sociedade, fica mais intensa. Para Maria Milena, é na atualidade que, tanto profissionais como as pessoas, têm encontrado mais abertura para discutir sobre o assunto.
“Acredito que a depressão tem sido um tema mais discutido neste século, os profissionais especializados estão tendo mais espaço para comentar a importância da saúde mental. Além disso, há uma tendência das pessoas na busca por entendimento das suas próprias emoções, do que vem sentindo, da forma em que isso se apresenta na sua vida e o que significa para a sua existência. Isso faz com que mais pessoas tenham acesso às informações através do Google, de redes sociais e busquem profissionais capacitados para a construção do diagnóstico clínico”, afirma.

Se por um lado a internet pode ser uma aliada para dividir experiências sobre saúde mental ou até mesmo buscar informação. Por outro, o uso excessivo de telas pode piorar a saúde mental em idosos, adultos, adolescente e crianças, a conclusão é de uma pesquisa feita pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). De acordo com o estudo, sintomas de estresse, depressão e ansiedade foram observados nas pessoas que utilizam aparelhos como celular e computador com muita frequência.
“De fato, o uso de telas pode acabar intensificando e causando agravamento em casos de depressão, mas também de ansiedade. A forma que fazemos o uso das redes sociais demarcando uma ‘vida perfeita ou ideal’ pode trazer a sensação de inadequação, insuficiência, fracasso, além de frustração. Acredito que o entendimento individual e coletivo da forma em que o uso desenfreado das redes sociais podem trazer dados, pode ser o pontapé inicial para o processo de desenvolvimento de uma relação mais funcional”, diz.
Para desenvolver uma relação saudável com esses aparelhos, Maria Milena aconselha algumas mudanças no comportamento, como: “reduzir o uso das telas em momentos antes de dormir, não fazer refeições enquanto assistem ou deslizam a tela do feed, acompanhar perfis mais coerentes com quem você é e também que se apresentam de forma mais real ao nosso próprio cotidiano, podem ser movimentos que contribuam significativamente para o uso mais adequado das telas”.
Tratamento
Vale ressaltar que o diagnóstico da depressão e de outras transtornos, é complexo e envolve profissionais especializados em identificar a doença. “A construção de um diagnóstico é complexa, precisa de tempo, cuidado, responsabilidade, ética e profissionais aptos para tal função. Por isso, os profissionais mais adequados para a busca são os psicólogos e psiquiatras, ambos podem trabalhar em conjunto para a construção desse possível diagnóstico. Lembrando que não são todas as suspeitas que se concretizam em uma psicopatologia. A classificação é importante, mas temos que ter cuidado para não patologizar a vida”, explica.
Sobre os locais que oferecem tratamento e suporte para pessoas que necessitem cuidar da saúde mental. Maria Milena cita duas instituições que oferecem tratamento gratuitamente para a sociedade.
“Alguns lugares disponibilizam tratamento e suporte gratuito, como é a rede de atenção psicossocial, para os casos graves e persistentes e a rede de atenção básica. Além de algumas faculdades federais, como a UFBA, e privadas, como a UNIJORGE, que oferecem o suporte clínico para sujeitos que estão em vulnerabilidades socioeconômicas e que precisam desse acompanhamento”, conclui.
Que conteúdo maravilhoso!! Parabéns a todos.
A psicóloga foi maravilhosa em sua fala.
Concordo!
Matéria muito importante, com falas extremamente assertivas!
Parabéns.
Todos nós precisamos ficar atentos aos sinais. Os nossos e dos que estão a nossa volta.