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Criatividade e engajamento digital são pautados durante evento em Salvador

Foto: ABMP

Entender o novo cenário digital da publicidade e como despertar o interesse do público com relação aos seus próprios contratantes em potencial. Essa foi a base de todas as perguntas respondidas na manhã desta quinta-feira (8), no Cineteatro Dois de Julho, nas instalações do Instituto de Radiodifusão da Bahia (Irdeb), em Salvador.

Com uma vasta programação voltada para profissionais da área de publicidade, propaganda, empreendedorismo digital,  jornalismo e influência, o evento “Criatividade em Pauta” foi marcado por posicionamentos de humanização das estratégias de marcas publicitárias quando o assunto é alcançar a tão sonhada alta performance em métricas de engajamento do algoritmo estabelecidos nas redes sociais.

“A gente consegue entender a inteligência artificial, hoje, como um encurtador entre a ideia que a gente tem na cabeça e a realização. Mas você precisa ter a ideia na cabeça. E pra fazer com que a Inteligência Artificial possa entregar algo relevante, novo, criativo, original, é importante que o seu repertório e a sua capacidade de ler o mundo e a sua empatia importem bastante. Então a gente enxerga a I.A. como a ferramenta que faz com que você tenha mais poder para gerar mais impacto. O talento humano é potencializado. Ele não é substituído”, enfatizou Lucas Reis, presidente da Associação Baiana do Mercado Publicitário (ABMP).

O marketing digital nunca cresceu tanto e, com ele, aumentou também a demanda por profissionais altamente especializados. Mas encontrar pessoas confiáveis, com experiência real no digital e disponíveis para projetos sob demanda ainda é um desafio para empreendedores, infoprodutores, agências, experts e pequenos negócios digitais.

Foto: ABMP

Para Lucas Reis, que também é Phd em Comunicação e fundador e CEO da Zygon AdTech, com a chegada da tecnologia, foi visto acontecer em várias indústrias do Brasil que saímos de atividades mais operacionais e pudemos gerar impacto em atividades que surgiram por conta do fator tecnológico e a utilização de talentos para geração de impacto junto à sociedade.

Perguntado pelo Portal Umbu sobre como ele enxerga o mercado publicitário enquanto engajamento real e o algoritmo enquanto ferramenta antirracista em 2025, o gestor da  ABMP disse:

“Acredito que tem que ser antirracista porque a Bahia  é um estado majoritariamente negro. A gente tem mantido essa pauta e continuamos lutando para que ser negro seja o normal, o comum e padrão na Bahia. É uma luta que não vai se encerrar em 2025, mas o segundo semestre tem uma data/mês importante que é o Novembro Negro. Então a gente acaba tendo um mês que traz mais visibilidade pra essa pauta e que esse tema, engajamento antirracista, não seja só no mês de novembro”, finalizou Reis.

Marcos Pantera, morador do Subúrbio Ferroviário, no bairro de Ilha Amarela, trabalha com publicidade, é formado em Comunicação e teve como expectativa no evento expandir conhecimento, trocar informações e fazer networking,  já que, para Pantera, é sabido que os produtores de conteúdo tem uma identidade e o pertencimento da negritude e espaços como o “Criatividade em Pauta “. Com essa ligação com a negritude, com a favela, com o movimento periférico, é possível proporcionar oportunidades que o povo negro precisa.

Foto: Patrícia Bernardes

“Acredito ser importante tanto fazer esse link de estar trazendo os comunicadores e influenciadores para dentro de painéis como estes, tal qual abordar temas como negritude, o poder do preto, do racismo para que possamos ficar inteirados, ficar ligado nas formas de se defender. Eventos como  esses são espaços de defesa também e de reconhecimento. Quando vemos pessoas como nós, a gente tem publicamente uma defesa, um pertencimento, um acolhimento”, enfatizou Marcos.

O comunicador atua desde 2017 com o “Papo de Favela”, que é um grupo focado na comunicação periférica, nas boas notícias, por entender que a grande mídia hoje atua “na lama”, segundo o próprio comunicador. Com o projeto, ele pretende resgatar estes indivíduos com notícias boas, voltadas para educação, cultura, para o que é nosso de fato também.

Durante o “Criatividade em Pauta”, a tecnologia disruptiva  na área da economia criativa foi debatida em seu primeiro momento como um pensamento de segundo ordem, segundo Lucas Reis. Citando como exemplo a pandemia, o presidente da ABPM indagou “o que acontece depois que algo de tamanha proporção acontece” enfatizando que existe uma lacuna de execução entre tempo, dinheiro e resolução. Reis também citou que ferramentas oferecidas como Lovable, Genspark, Faunaflora, Copilot não devem confundir o conceito real entre o talento humano por trás da ferramenta. Para Lucas, repertório, estratégia, empatia e dados são habilidades necessárias para um cenário de mudança do momento atual para a mentalidade coerente do que é o futuro. Usar o conhecimento próprio como diferencial.

Já Gustavo Pinho apresentou o impacto digital em formato de estatística, gerado  de forma gratuita nas plataformas digitais da TV pública, iniciada pela TVE e denominada como a “casa do futebol baiano”. Em constante ascensão, o case do campeonato baiano com campanhas premiadas e destacando que, para ser de todos, a campanha do futebol baiano tinha que falar em todos os multimeios, com placas e jingles em cada município sede dos times de esportes participantes do Campeonato Baiano ao longo dos anos. Pinho mostrou que, com a cobertura do “Baianão 2025” e a transmissão de todas as 51 partidas do campeonato e as 12 partidas para o Brasil inteiro, a TVE  iniciou uma nova forma de inserir seus pacotes gráficos para dar maior visibilidade ao patrocinador junto a sua marca.

Foto: ABMP

A infraestrutura criada pela TVE, com uma equipe de mais de 100 pessoas , recuperou o prestígio dos campeonatos estaduais no Brasil, a partir da Bahia. Picos de audiência, transmissões ao vivo e recordes de visualizações em suas redes sociais como Instagram e Youtube. Um aumento de 140% de crescimento em relação a 2024.

Favela Digital e Engajada

Debatendo a cultura digital de favela no painel “Ideias que nascem da quebrada: a força criativa das comunidades”, o evento “Criatividade em Pauta” teve também como palestrantes os debatedores Márcio Lima, presidente regional da Central Única das Favelas da Bahia (CUFA-Ba) e Priscila Mércia, relações públicas e professora da ESPM .

“Quando falamos de cultura de favela, sabemos que somos sempre invisibilizados e sem dar as devidas credenciais, os devidos créditos no ‘botar luz’ no que são essas formas de comportamento e o que é a favela criativa como um todo. Uma estrutura negada o tempo inteiro. Uma espécie de ‘gourmetização’ da cultura da favela”, lembrou Priscila Mércia. Para a professora da ESPM, erros primários com relação a construção de identidade através de apropriação cultural são vistos a olho nu. “Peças teatrais, composições musicais, roteiros de cinema, marcas, patrocinadores se negarem a mostrar como o contexto histórico é são originados é inadmissível”.

Com a presença da mediadora Cristina Chaves, presidente do Grupo de Mídia da Bahia e coordenadora de mídia da agência Engenho, Márcio Lima da CUFA-Ba, lembrou a todos da plateia que o nome ‘favela’ era chamado de aglomerado subnormal e só após a parceria com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é que se retornou o nome de favela.

Foto: ABMP

“Como a juventude é vista dentro das favelas? É sobre acesso, é sobre falta. E o desenvolvimento da solução para que o todo seja resolvido dentro dessa escassez. Entender o afro-negócio é entender que essa juventude está crescendo nesse lugar de falta e ainda falta de acesso à educação, formações para sair do local de frustração e desespero. Quando a gente pensa nessa juventude, a gente entende essa dinâmica perversa a esse real acesso”, explicou Priscila Mércia.

Com essa a visão da juventude dentro da favela , o presidente da CUFA disse: “A gente ainda não conseguiu alcançar esses jovens diante, por exemplo, do projeto Favela Filmes da CUFA-Ba. Nossos jovens estão morrendo e hoje a maioria dos jovens vivos, são meninas. Mãe-solo não é só o fato de ser mãe-solteira. São mães que fazem o ‘corre’ para manter não só os seus filhos como também os seus maridos, companheiros”, finalizou Márcio Lima.

Priscila Mércia apresentou o dado de que são mais de 10 milhões de mulheres que empreendem e são mães-solo, sem apoio e numa realidade estatística de medo da escassez. Para a relações públicas, são as mulheres que mais estudam, as que mais quitam suas dívidas e pagam as suas contas, porém, as mais invisibilizadas.

O valor das marcas em tempos de engajamento e algoritmo

No painel “Quem é você na fila do feed? Posicionamento de marca em tempos de algoritmos”, as publicitárias Mirtes Santa Rosa, sócia-diretora da Umbu Comunicação & Cultura e Portal Umbu, Juliana Montenegro, da Agência Leiaute, junto com Camila Passos, do Sebrae, levantaram os debates do efeitos colaterais de ficar “nichando” os clientes e caindo em bolhas onde as marcas são colocadas.

Foto: Patrícia Bernardes

“A marca precisa ir além da venda no nosso país. A importância de se falar de um para um. Nós também falamos sobre construção de propósito. Falar sobre identidade real. Que fale sobre cultura”, disse Juliana Montenegro.

Já Mirtes Santa Rosa deixou claro que não se mede competência profissional através do algoritmo. “Eu acredito que nós, publicitários, trabalhamos com dados e isso não quer dizer que somos insuportáveis. Acho que essa é a principal dificuldade para nós quando o assunto é algoritmo”.

“Esse mundo digital que está posto é diferente no posicionamento das marcas de seus clientes. Não adianta se posicionar como performance. O resultado é o like ou a contratação do meu cliente? Não é sobre posicionar a marca para causar. Criativo é todo mundo que trabalha numa agência. Não é só um funcionário de um setor de criação que é criativo. Como eu vou trabalhar nesse mercado? Pra dar certo eu tenho que ir às ruas, conhecer as pessoas, buscar o IBGE e por aí vai. É uma luta diária para que possamos valorizar quem somos. Se posicionar enquanto fomentadores de cultura criativa”, enfatizou.

Finalizando as atividades da manhã do evento, o case da agência publicitária Morya emocionou a todos relembrando as suas campanhas publicitárias premiadas como o vídeo “Naquela Mesa”, que ganhou o Prêmio Profissionais do Ano, em novembro de 2021.

“A expectativa para esse evento é que a Morya continue compartilhando as informações sobre as atualizações do mercado, encontrado vários cases que são legais aqui na Bahia, tendo Janaína Santana como diretora de atendimento da nossa empresa e entendendo como o mercado está se comportando com relação a chegada da Inteligência Artificial. Estamos nessa expectativa de entender como Salvador está diante dessa nova ferramenta e como usar ela a favor da nossa criatividade”, vibrou Aline Diniz.

Foto: Patrícia Bernardes

Dialogando sobre qual o conceito real do que é criatividade, Lucas de Ouro, CEO da agência Criativo Processo e membro do Clube de Criação da Bahia , falou da importância dessa alta performance do processo de criar e estabelecer cada vez mais novos clientes.

“A criatividade é descobrir o desconhecido. Criar é existir, sentir prazer e se divertir no durante. Curtir o processo. Mostrar o processo de criação é divertido, mas mostrar o óbvio é também importante”, finalizou o criador de campanhas publicitárias como a “Love is colorful” – O Amor é colorido, marca da empresa do pó colorido biodegradável, Zim Color.

Promovido pela Associação Baiana do Mercado Publicitário (ABMP), através do Scream Festival, em parceria com o Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB), o evento busca ampliar repertórios e fomentar reflexões sobre o presente e o futuro da criatividade em tempos de tecnologia e dados.

Texto por: Patrícia Bernardes – jornalista, redatora, mobilizadora de projetos de Impacto Social em Educação, Letramento e Cultura Identitária e colaboradora do Portal UMBU

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