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Criação do Ilê e combate ao racismo: neta de Mãe Hilda lança livro sobre a vida da ialorixá baiana

Obra é resultado da pesquisa de mestrado da jornalista Valéria Lima

Foto: Divulgação.

Pouca gente sabe, mas Mãe Hilda Jitolu (1923-2009) foi a primeira ialorixá a subir a Serra da Barriga, local que abrigou o Quilombo dos Palmares, em Alagoas. Na década de 1980, durante o movimento que buscava reconhecer o Dia Nacional da Consciência Negra, a líder religiosa fez rituais à memória de Zumbi dos Palmares, que liderou o maior quilombo do Brasil. Os detalhes sobre a história de Mãe Hilda, como sua contribuição para a fundação do bloco Ilê Aiyê, são contados em detalhes em um livro que será lançado na próxima segunda-feira (15).

A obra, intitulada ‘Mãe da Liberdade: A trajetória da Ialorixá Hilda Jitolu, matriarca do Ilê Aiyê’, é fruto da pesquisa de mestrado conduzida pela jornalista Valéria Lima, neta de Mãe Hilda. O desejo de compartilhar com o mundo os ensinamentos da líder religiosa surgiu quando Valéria estava na universidade.

“Estando muito perto, às vezes, é difícil enxergar a grandiosidade de quem está ao seu lado. Foi durante a minha graduação que tive oportunidade de compreender isso. Meu Trabalho de Conclusão de Curso foi um livro-reportagem sobre a história dela”, conta Valéria Lima. Mesmo assim, no processo de pesquisa do mestrado em Estudos Étnicos e Africanos, a neta de Mãe Hilda descobriu novos episódios da vida da matriarca da família.

A iniciação de Mãe Hilda no candomblé foi uma das surpresas. “São vários detalhes da vida da minha avó que nós não sabíamos. Apesar de o terreiro fundado por ela, o Axé Jitolu, ser da nação Jeje, ela foi iniciada na nação Angola. Ninguém da minha geração sabia o nome do pai de santo dela, por exemplo”, diz a autora do livro.

Assim como os ensinamentos de Mãe Hilda, que dedicou a vida ao combate ao preconceito religioso, os detalhes sobre sua vida têm a marca da oralidade. São poucos os documentos com informações sobre a passagem da ialorixá na terra, o que dificultou o trabalho de pesquisa, feito entre 2012 e 2014.

“Para construir essa história, eu encontrei com todos os quatro filhos dela, um de cada vez, para que eles contassem tudo o que sabiam sobre ela, desde a infância até os últimos momentos. A partir desse processo, resgatei detalhes, construí o roteiro da dissertação e comecei a fazer cruzamentos de informações ”, revela. Cada entrevista durou, em média, duas horas, e foi feita dentro do barracão do terreiro, na Liberdade.

Durante o processo da pesquisa, posteriormente transformada em livro, Valéria Lima teve ainda mais certeza sobre o principal legado de Mãe Hilda. “A missão de vida dela sempre foi combater o racismo. Com sua importante contribuição para a fundação do Ilê Aiyê, ela compreendeu que a música e a cultura são caminhos de luta”, diz. No decorrer de 216 páginas, a jornalista relata como se deu o apoio da ialorixá para a construção do primeiro bloco afro da Bahia.

“Ela não idealizou o Ilê, mas foi a maior incentivadora que impulsionou o bloco. Vovô do Ilê, filho de Mãe Hilda, era muito novo quando decidiu criar o bloco. Sem o apoio dela, ele nunca teria ido para frente”, ressalta. A líder religiosa sempre defendeu a importância dos estudos e, no final da década de 1980, fundou uma escola com seu nome dentro do terreiro, o que garantiu educação básica para crianças do Curuzu, em Salvador.

Os feitos de Mãe Hilda ao longo de seus 86 anos fizeram com que ela recebesse diversas homenagens, como o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, além da indicação ao Prêmio Nobel, em 2005. Depois de 15 anos da data do seu falecimento, Valéria Lima espera que a história da ialorixá inspire as próximas gerações.

Minha avó sempre dizia que o sonho dela era ser conhecida e respeitada. Se ela, sem acesso à educação, conseguiu transformar a vida dela e de tantas outras pessoas, imagine o que podemos fazer com o conhecimento e a caneta nas mãos? Nossa ideia é inspirar meninas e mulheres negras para que elas acreditem que também podem.”

O lançamento do livro será realizado no dia 15 de julho, em uma cerimônia especial para convidados, transmitida pelo canal oficial da TV Correio Nagô no Youtube. Após ser lançado, o livro estará disponível para download nos sites da Fundação Rosa Luxemburgo e do Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu, responsáveis pela transformação da pesquisa em livro.

Com informações do Jornal Correio.

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