bloco preparou uma surpresa para os espectadores: um carro para homenagear essa trajetória, com a presença da estilista Dete Lima, vestindo a rainha do bloco, Débora Mariano
A noite desta sexta-feira (9) foi marcada por uma beleza singular que apenas os blocos afro são capazes de proporcionar aos foliões. Um misto de ancestralidade, força e representatividade tomou conta do Campo Grande de maneira única. No auge de seus 25 anos de trajetória, o Cortejo Afro homenageou o Ilê Aiyê e a história de outros blocos afro.
Sob o tema “Meio século de Blocos Afro. Ahh… Se não fosse o Ilê Aiyê!”, o bloco preparou uma surpresa para os espectadores: um carro para homenagear essa trajetória, com a presença da estilista Dete Lima, vestindo a rainha do bloco, Débora Mariano. Dete Lima é também uma das diretoras e fundadoras do Ilê Aiyê, em 1974.
O presidente do Cortejo Afro, Alberto Pitta, compartilha a inspiração por trás da noite e seu significado para todos os presentes: “A inspiração para o tema do carnaval de 2024 foi o Ilê Aiyê, os 50 anos da criação do Bloco Afro, meio século de existência do Ilê. Essa é a principal inspiração do Cortejo. Por outro lado, junto com o Ilê, todos os blocos ancestrais estão celebrando meio século de resistência”, afirma Alberto.
Alberto Pitta explica que para homenagear o Ilê Aiyê o bloco convidou Dete Lima, que foi quem inventou a estética afro-baiana de vestimenta. “A surpresa para esta noite é esse belíssimo carro consagrado a Omulu, velho ancestral que simboliza muito o Ilê Aiyê, que foi fundado dentro de um terreiro de candomblé”, conclui. Mãe Hilda Jitolu, líder espiritual do Ilê Aiyê, e mãe de Dete Lima, era consagrada a Omolú.
A estilista das deusas e uma das figuras mais importantes do Curuzu, Dete Lima afirma que é uma grande felicidade ver o resultado do trabalho do Cortejo e que nada é mais belo do que ver a continuidade do bloco: “É de uma importância sem tamanho poder ser homenageada por um bloco que eu vi se transformar no que é hoje. O Ilê abriu portas, e hoje eu me sinto lisonjeada por poder estar aqui e vivenciar essa ancestralidade evidente”, afirma Dete.
A rainha do Cortejo Afro deste ano, Débora Mariano, relata que este dia será memorável em sua vida. Afinal, não são todos os dias que Dete Lima pode vesti-la: “Para mim, foi uma emoção absoluta quando recebi o convite de Pitta, é de uma reverência sem tamanho poder ver a história dos blocos e celebrar os 50 anos de trajetória e resistência do nosso povo. Dete é uma inspiração, é uma rainha, e sem dúvidas esse momento não será esquecido por mim”.
No circuito, os foliões vibravam com o desfile, a felicidade era evidente, e não havia nada mais belo do que a ancestralidade latente presente naquela sexta-feira.
O artesão e associado Antônio Jorge chamou a atenção pelos acessórios da sua fantasia feitos por ele mesmo. Ele vibra pelos 50 anos dos blocos afro e afirma que é uma felicidade imensa poder comemorar a existência de um lugar que resiste incansavelmente todos os dias: “Estou feliz por poder estar aqui, poder fazer minha fantasia e vir aqui na avenida mostrar minha felicidade ao celebrar os cinco séculos de trajetória. Portanto, viva o Ilê, que abriu caminhos, viva o Muzenza do Reggae, o Malê Debalê e todos os blocos que resistem diariamente”, declarou.
“O bloco já está na rua, mas precisamos ser visto”, acentua a ialorixá Elizabeth de Jesus, que cuida de um terreiro no Subúrbio Ferroviário de Salvador. A líder religiosa destaca que é muito importante para os povos de terreiro esse desfile no carnaval de Salvador.
“Isso traz uma resistência, e nós precisamos disso, pois ainda estamos afundados em uma intolerância religiosa. O povo de santo vem sofrendo com muito preconceito”, denunciou. Mãe Elizabeth ainda destacou a musicalidade do desfile. “Trazer a música de terreiro para a rua mostra quem somos e a sociedade precisa entender e nos respeitar “, finaliza.
Carnaval Ouro Negro 2024 – O Carnaval da Bahia é Ouro Negro. Em 2024, foram investidos R$15 milhões para proporcionar o apoio a mais de 170 grupos dos segmentos afro, afoxé, samba, reggae e de índio. Só no carnaval de Salvador são mais de 100 entidades que desfilam nos circuitos oficiais da folia. Entre as entidades contempladas estão grupos tradicionais como o Olodum, Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy, Muzenza e Cortejo Afro. A SecultBA amplia sua parceria com blocos tão importantes com o intuito de preservar a tradição destes na folia soteropolitana e nas suas comunidades de origem, valorizando as nossas matrizes africanas.
Carnaval da Cultura – Comemorar, enaltecer e fortalecer os Blocos Afro em seus 50 anos de existência, contados a partir do nascimento do Ilê Aiyê, o pioneiro, é garantir que a festa também seja um lugar para que negras e negros baianos contem as suas narrativas e façam parte da história do mundo. Por isso, o tema do Carnaval da Bahia em 2024 é os 50 anos de Blocos Afro – Nossa Energia é Ancestral. Em cada circuito, em cada sorriso, em cada bloco desfilando as belezas do povo preto, em cada brilho pelas ladeiras do Pelô. É a folia animada, diversa e democrática do Carnaval e é também a preservação do patrimônio cultural, com o apoio ao carnaval tradicional dos mascarados de Maragojipe. O Carnaval da Cultura é promovido pelo Governo do Estado, “50 anos dos Blocos Afro – Carnaval da Bahia 2024 – Nossa Energia é Ancestral”.
Foto: André Frutuôso/SecultBA