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Portal UMBU

Cineasta baiana está entre os selecionados na América Latina para participar de maratona cinematográfica em Florianópolis

Agnes Aguirre foi uma das 30 selecionadas na América Latina para participar do Projeto Rally Panvision

Natural de Salvador, Aguirre é formada em Cinema e Audiovisual pelo Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge). Foto: Festival Muído

Ser uma profissional da sétima arte requer muitas habilidades. Faz parte do cotidiano de cineastas a confecção de roteiro, a criação do plano de produção, a gravação, a montagem e a edição de uma obra cinematográfica. O ofício parece ainda mais trabalhoso tendo apenas 100 horas para conseguir realizar todas essas etapas e, ao final, exibir um curta-metragem.

É esse o desafio que cerca de 30 realizadores do audiovisual aceitaram ao se inscreverem para participar do Projeto Rally Panvision, uma maratona cinematográfica do Festival Internacional de Cinema Florianópolis Audiovisual Mercosul.

Entre os selecionados na América Latina para participar da competição, está a cineasta baiana, Agnes Aguirre. Do dia 5 a 11 de setembro, ela terá a oportunidade de participar do projeto. Aos 22 anos, a filha de dona Cecília e neta de dona Gislâine, comemora a conquista.

O Rally Panvision conta com uma série de atividades integrativas, onde oferece a oportunidade de jovens realizadores do audiovisual experienciar o meio profissional em uma semana intensiva marcada por conexões, mentorias e trabalho.

Natural de Salvador, Aguirre é formada em Cinema e Audiovisual pelo Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge). Em entrevista ao repórter Jadson Luigi, do Portal Umbu, a cineasta conta sobre sua formação, as expectativas para participar da maratona cinematográfica e os próximos projetos.

Durante a graduação, Agnes teve o seu primeiro contato com a produção audiovisual, através do “Núcleo Audiovisual”. Como monitora do núcleo profissionalizante, a jovem teve a oportunidade de vivenciar o dia a dia da profissão e experimentar as diversas áreas de atuação que o Cinema proporciona. “Ainda na faculdade, participei por dois anos do núcleo de produção audiovisual, sob coordenação do professor Leonardo Bião. E posso afirmar que essas tardes de produção de conteúdo para os canais da instituição foram cruciais para o meu desenvolvimento enquanto profissional!”, explica.

Do “Núcleo”, Agnes conseguiu um estágio na produtora de cinema Araçá Filmes, que tem em seu portfólio títulos como o clipe “They Don’t Care About Us”, de Michael Jackson, que foi gravado no Pelourinho; e os longas: “Capitães de Areia”, de Cecilia Amado, e “Tieta”, de Cacá Diegues.

“Como estagiária eu desenvolvi atividades de inscrição dos projetos da produtora em editais de produção e iniciativas de co-produção/desenvolvimento nacionais e internacionais. E é por aí que venho construindo minha jornada no cinema independente”, diz Agnes.

Foi na produção que ela encontrou o seu lugar na profissão e onde segue buscando aprimorar seus conhecimentos e habilidades. “Na segunda semana de setembro já começam minhas aulas no curso de Produção Executiva ofertado pela Academia Internacional de Cinema (AIC). E em dezembro acontecerá o 1º Festival Os Filmes Que Eu Não Vi, idealizado por Sol Moraes, e que faço assistência de produção”.

A Maratona

Foi através da sua chefe, a proprietária da Araçá Filmes, Sol Moraes, que Agnes ficou sabendo do Projeto Rally Panvision. “Me pareceu uma oportunidade de ouro. Então, corri para fazer minha inscrição”, conta. O prazo para realizar o cadastro para participar da maratona terminou em 31 de julho, o resultado dos selecionados para o projeto foi divulgado no dia 5 de agosto.

O Rally Panvision é voltado para jovens entre 18 e 30 anos, residentes nos países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Venezuela e Bolívia) e seus associados falantes de espanhol (Chile, Colômbia, Equador e Peru). Os 30 selecionados terão direito a hospedagem em quarto coletivo, refeições durante os dias da maratona, e nesta edição, será oferecida ajuda de custo para o transporte, equivalente a 50% do valor da passagem da sua cidade de origem até o Festival, que é realizado.

Na manhã desta quinta-feira (5), Agnes deixa a capital baiana rumo a Florianópolis. “Chegarei de avião por volta de meio-dia e terei a tarde para me acomodar”, conta. Na sexta-feira (6) ocorre a abertura da 6ª edição do Projeto Rally Panvision. Neste dia, o tema da edição será divulgado e os 30 participantes deverão formar grupos de trabalho. A partir daí, as 100h de maratona para produzir o curta-metragem começa.

“Vai ser babado! Até então, tenho me preparado psicologicamente pensando no frio que passarei por lá e no espanhol que colocarei para jogo! Brincadeiras à parte, estive pensando muito em quais documentos nos podem ser úteis – como planilhas de produção, autorizações de uso de imagem, som e locação -, livros para fundamentação teórica do projeto e baterias extras, claro!”, revela Agnes.

“Como contaremos com o auxílio de profissionais convidados da área por meio de palestra formativas, fico muito mais confiante. Por fim, pensar que os filmes serão exibidos na Mostra Competitiva Projeto Rally Panvision, na Cerimônia de Encerramento e Premiação do FAM 2024, me dá um frio na barriga danado!”, complementa.

Agnes Aguirre no set do curta-metragem Tigrezza, com direção de Vinícius Eliziário. Foto: João Lima (@joaozeras)

Segundo o regulamento do projeto, no ato da inscrição, o participante deve informar qual das seis áreas deseja atuar. São elas: direção, edição (montagem), produção, som (captação e edição), direção de fotografia (operação de câmera) e atuação. A criação do roteiro será realizada de forma coletiva.

“A minha área de escolha foi justamente a produção. Pensar em formas de viabilizar o projeto tem sido o que mais me empolga e gera interesse! Além do mais, todo o aprendizado que venho tendo com Sol [Moraes] me faz ver e entender cada vez mais a produção como crucial para uma produtiva realização cinematográfica e para o desenvolvimento de uma indústria cinematográfica autossustentável no país”, explica a cineasta.

“Graças a ela [Sol Moraes], tenho começado a aprender como atua a produção em todas as fases do projeto, desde a compreensão do roteiro para desenho de seu orçamento, o desenvolvimento de um plano de produção, estudo de diferentes mercados para captação em fundos nacionais e internacionais, seguido de uma produção que busca envolver e incentivar o território em que ocorrerão as gravações do filme. E, já em sua fase final, no estudo de comercialização do projeto audiovisual e quais serão as possíveis janelas de exportação para a obra”, continua.

Tempo

Questionada se já havia produzido uma obra cinematográfica em tão pouco tempo, como é a proposta do Projeto Rally Panvision, Agnes disse que é a primeira vez. Segundo ela, na faculdade, as produções eram tocadas ao longo do semestre.

“Quando se trata de um projeto de curta maior, com verba de edital, o tempo de viabilização acaba sendo ainda mais longo, considerando que é necessário desenvolver o projeto, inscrevê-lo no edital, esperar o resultado de seleção e só depois da assinatura do termo de compromisso, é que se começa a pré-produção. Além do mais, o tempo estipulado para realização do trabalho é normalmente o período de um ano”, explica.

Sobre a sensação de produzir o curta-metragem em tão pouco tempo, Aguirre revela: “Meu frio na barriga não poderia ser maior. Acredito que o processo de realização no Rally será extremamente intenso, as dinâmicas serão outras e a forma como viveremos o projeto, me parece, que será de forma a que esse filme seja tudo o que enxerguemos e que pensamos ao longo dessas 100 horas”.

Com as 100 horas contínuas de maratona, fazer a gestão do tempo para otimizar os processos, é um desafio que está posto. “Adoraria ter uma resposta, mas será na improvisação. Acredito que para além das funções de produção, um dos meus objetivos, é promover um bom diálogo entre todos da equipe, de forma que seja possível trabalhar de forma sintonizada, aproveitando melhor o tempo e resultando em uma produção significativa para todos. Afinal, é sempre colocado, no filme que fazemos, muito de nós, de nossas crenças, desejos e motivações”, analisa.

Nesta edição, a organização do Festival Internacional de Cinema Florianópolis Audiovisual Mercosul vai priorizar grupos minorizados: mulheres, pessoas negras, indígenas, de comunidades tradicionais (inclusive de terreiros e quilombos), populações nômades e povos ciganos, pessoas LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência e integrantes de outros grupos em situação de vulnerabilidade e sub-representação na sociedade.

Questionada sobre a importância dessas iniciativas para o fomento da diversidade no audiovisual, Aguirre analisa: “Acredito que a inclusão das minorias em iniciativas do setor audiovisual ou em quaisquer setores do mercado de trabalho seja de extrema importância para a correção dos paradigmas de nossa sociedade, tendo em vista que, como ocorre atualmente, ao não se destrinchar os planos de combate à discriminação e a desigualdade social em ações práticas com etapas e metas a serem atingidas, os engessa nos níveis de intenção e inação, alastrando, em consequência, indeterminadamente esse cenário prejudicial a grande parcela da população, como colocado por Mário Theodoro em ‘Os dois níveis do racismo institucional’ e por Sueli Carneiro em ‘Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil’. Sendo, portanto, a única maneira de provocar intencionalmente uma mudança”.

Outros projetos

Recentemente, a cineasta vem fazendo um giro pelo Nordeste para exibir seu documentário “Àquela Saudade” em festivais de cinema. No curta-metragem, Aguirre atuou como diretora, diretora de fotografia e montadora. A recepção do trabalho tem sido excelente e já rendeu o prêmio de participação no DiaLab – plataforma internacional voltada ao desenvolvimento de carreiras, consultoria de projetos e networking para profissionais negros do audiovisual – através da 7ª Mostra Lugar de Mulher É No Cinema (2024).

Em ´Àquela Saudade´ Agnes retratou a vida da avó, Gislâine Protásio. Fotografia still: Agnes Aguirre

“’Àquela Saudade’ é um filme de 15 minutos que conta sobre a vida de uma senhora negra e pobre do interior da Bahia que precisou batalhar muito para ajudar sua família e todos os seus 10 irmãos, um cenário recorrente em nosso país que apresenta Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) antagônicos entre sua população branca e negra. E, em meio a essa preocupação, precisou também entender como os paradigmas de nossa sociedade classista e racista dificultavam seu acesso ao ambiente acadêmico e profissional. Essa senhora se chama Gislâine Protásio, mas eu tenho a honra de chamar de vó”, conta Agnes.

“Essa experiência tem sido de muitas descobertas por serem muitas ‘primeiras vezes’. E, ao mesmo tempo, fico muito feliz pela receptividade e inclusão de novos realizadores em mostras e festivais de cinema pelo país. Além do mais, os encontros com outros realizadores têm sido muito significativos e encorajadores para mim. Fico feliz por ter escolhido essa área e por estar construindo minha jornada no audiovisual nacional. Já me formei na faculdade, não me restam dúvidas que minha formação enquanto realizadora cinematográfica está só começando!”, conclui.

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