
Os visitantes da Casa do Benin, equipamento cultural gerido pela Fundação Gregório de Matos (FGM), vinculada à Prefeitura de Salvador, têm até este sábado (15), a partir das 9h, para conferir a exposição fotográfica “Zumvi – A Bahia em Festa e Resistência”, dos fotógrafos Lázaro Roberto e Jônatas Conceição. A mostra leva o público a explorar a capital baiana por meio de registros das festas populares, do teatro e do cotidiano.
A proposta da exposição é oferecer ao público um olhar plural sobre as festas populares baianas, explorando suas complexas dinâmicas sociais, culturais e políticas, especialmente sob a ótica da cultura negra. Com curadoria de Paulo Azeco, “Zumvi” também traz imagens de fotógrafos como Geremias Mendes e Raimundo Monteiro. Através das lentes dos fotógrafos, os visitantes são conduzidos por narrativas visuais que capturam momentos de celebração e resistência que apresentam uma Bahia rica e diversa em arte e cultura.
No mesmo dia em que a exposição se encerra, será lançado o livro ”No Rastro de Estela”, de Amanda Julieta. A obra, que mistura realidade e ficção, conta a história de uma mulher negra e lésbica que viveu em Salvador no início do século XX.
O lançamento acontece às 16h30 e contará com a presença da autora, além de um intérprete de Libras para garantir acessibilidade durante o bate-papo sobre literatura e memórias de mulheres negras. Também participa do encontro Rosinês Duarte, crítica textual e professora de Letras Vernáculas da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A Casa do Benin está localizada na Rua Padre Agostinho Gomes, 17, próximo ao Taboão, e a entrada é gratuita.
Inquietação
De acordo com a autora, a obra surgiu de uma inquietação sobre as lacunas da história e do desejo de recuperar narrativas apagadas pelo racismo e machismo estrutural. A trama acompanha os rastros de Estela, uma mulher que passou parte da vida internada em um hospital psiquiátrico.
“O livro nasce de uma inquietação com o passado, de um incômodo profundo com os silêncios e as ausências fabricadas pela história oficial no Brasil, sobretudo no que diz respeito às múltiplas formas de existência e resistência das mulheres negras”, afirma Julieta.
Ela diz que a pesquisa para compor a história foi dolorosa, mas necessária. “Nós sabemos o quanto essas instituições foram locais de terror, sobretudo para pessoas negras. Minha intenção era, desde o começo, contar uma história outra, de possibilidades de amor, de possibilidades de vida”, explica.
Mais do que revisitar um passado de violências, “No Rastro de Estela” provoca uma reflexão sobre como apagamentos históricos continuam na atualidade. “Eu tenho questionado quantas Estelas poderão ter existido sem que suas vidas tenham chegado ao nosso conhecimento”, pontua a autora.
Valorização da arte negra
Para Igor Tiago Gonçalves, gestor da Casa do Benin, o espaço segue consolidando sua posição como um dos principais centros de valorização e difusão das artes negras na Bahia. Ele afirma que o local tem se fortalecido como um quilombo artístico, de preservação e resistência, abrindo as portas para eventos que celebram a identidade e a memória da cultura afro-brasileira.
“Nossa missão na Casa do Benin é justamente essa: dar espaço, dar voz e visibilizar artistas e narrativas negras. A curadoria é pensada para destacar essas narrativas e linguagens”, afirma.
O gestor lembra que Amanda Julieta já é uma parceira da Casa do Benin. Um de seus últimos lançamentos, “Tem Poeta na Casa”, por exemplo, também ocorreu no espaço. “Esse tipo de produção nos interessa profundamente, principalmente no contexto da literatura negra e da poética afro-brasileira. Receber e fomentar esse tipo de debate é essencial para reafirmarmos nosso compromisso com a valorização da cultura negra e da memória de mulheres negras”, reforça o gestor.
Fonte: Secom PMS