
Reza a lenda que, certo dia, um homem muito ambicioso resolveu fazer um acordo com o Tinhoso pois queria ser muito rico. Depois do acordo firmado, o Cão disse ao homem: “Se você quiser ser realmente muito rico, bastava inventar o cartão de crédito.”
Claro que esse conto não passa de mais uma crendice fruto do imaginário popular, mas que de certa forma faz sentido, faz. Seja pela ideia ou pela consequência. Trato com o capeta sempre tem um preço muito alto.
Olhando apenas a ideia, é realmente uma coisa genial, uma vez que a pessoa que inventou o cartão simplesmente ganha dinheiro emprestando para quem não pode e, quando este vacila – e é muito fácil vacilar -, ele compra os juros mais altos do planeta. Não tem como não enriquecer desta maneira.
A consequência é viver sabendo que, eventualmente, deixará muitas famílias na miséria, uma vez que é quase impossível pagar a dívida quando a pessoa se atrapalha e entra no rotativo do cartão.
Imagino que com tanta informação e facilidade de acesso ninguém tenha mais dúvidas sobre o perigo que é a ter um cartão de crédito com o limite maior que sua capacidade de pagamento. Mas a pergunta é: “Se todos sabem do risco, por que então continuam aceitando e usando o cartão?”
Na minha opinião, a magia do cartão está em três principais características que se desdobram em várias outras e com isso consegue capturar uma legião de pagadores de juros.
A primeira é a sensação de poder e riqueza. Quando você recebe um cartão, o limite de crédito sempre é maior que a sua capacidade de pagamento e ele vai aumentando à medida que você faz os pagamentos em dia. Isso significa que você pode realizar mais e maiores feitos naquele momento que a sua real remuneração poderia permitir.
“Eu ganho R$1 mil e tenho um cartão com limite de R$5 mil, então, na verdade, eu tenho é R$ 6 mil”. Verdade, pelo menos naquele mês.
Essa percepção de poder de realização é sedutora e já captura muitos trabalhadores que, em muito pouco tempo, se tornam reféns desta relação predatória pois desenvolverão um padrão de via e consumo maior que a sua capacidade de ganho. Terminarão vivendo para pagar a fatura. Acho que todos já perceberam isto, não é?
A segunda coisa que fascina nesta relação ‘trabalhador x cartão de crédito’ é a facilidade do uso. Basta pegar o cartãozinho e pronto, já comprou! Hoje não precisa nem mais por senha, basta aproximar e, voilá! Para os mais “amostradinhos”, nem cartão precisa, basta aproximar o celular ou o smartwatch que a compra foi registrada e sem precisar abrir a carteira.
E a terceira e, para mim, a pior, é o conforto psicológico. Esse é cruel, pois trabalha em seu subconsciente e, mesmo se arrependendo depois, ainda sim, você voltará a cometer o mesmo erro, porque você não tem nenhum trabalho mecânico na compra. Simplesmente teve o desejo e comprou, sem precisar fazer o esforço de abrir a carteira, pegar o dinheiro, contar a cédulas e conferir o troco.
Parece besteira, mas o fato de você pegar o dinheiro, o papel que você atribui valor, inconscientemente, faz você pensar se vale ou não a pena aquele gasto, uma vez que você racionaliza o tempo e conhecimento que você gastou para conseguir aquele dinheiro. Muitas vezes, neste momento, você desiste da compra. Entendeu agora porque a compra com o cartão sempre é fácil e muito rápida? Você não pode pensar. Tem que simplesmente comprar!
Agora, para não dizer que o danadinho do crédito só presta para prejudicar as pessoas, preciso dizer que ele também tem vantagens para aqueles que possuem controle e educação financeira, para aqueles que possuem muito dinheiro ou para aqueles que já têm a predisposição em não pagar a fatura. Para esses grupos o cartão é, sim, um grande negócio, pois certamente não terão problemas em pagar as faturas na data correta e aproveitarão bastante os benefícios ofertados pelo cartão de crédito, sejam eles de parcelamento supostamente sem juros, cashback (desconto na fatura), milhas ou acessos exclusivos a eventos ou espaços de lazer.
Resumindo, se você não for herdeiro ou não tiver o mínimo de educação e controle financeiro o recomendado mesmo é tentar pagar suas contas a vista no máximo no debito para não perder a mão e virar um pagador de juros.
É isso. Já dei a real e agora é com você! Só vai entrar nessa armadilha do Cão Tinhoso se quiser.
OPINIÃO
O texto que você terminou de ler apresenta ideias e opiniões da pessoa autora da coluna, que as expressa a partir de sua visão de mundo e da interpretação de fatos e dados. Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Umbu.
Gostei muito, infelizmente é a total realidade da maioria que usa o cartão.
Kkkkk! É bem verdade que ele socorre e resolve na maioria das vezes, só não pode vacilar com essa máquina de comer juros! Mas que dá uma sensação mentirosa de poder é bem verdade! Kkkk! Parabéns pelo artigo!
Olha, achei sua visão interessante, mas acho que tem um ponto que merece reflexão. Não sou nenhum grande entendedor de economia, mas, pelo que vejo, no nosso país, onde a maioria das pessoas não tem um salário que permita grandes compras à vista, o cartão de crédito acaba sendo mais uma ferramenta de acesso do que uma armadilha.
O parcelamento, por exemplo, ajuda muita gente a adquirir bens ou serviços que seriam impossíveis de outra forma. Concordo que a educação financeira é fundamental para evitar abusos e juros altos, mas dizer que só herdeiros ou quem tem dinheiro sobrando deve usar cartão parece não levar em conta a realidade de boa parte da população.
No fim das contas, o cartão de crédito, como qualquer ferramenta financeira, tem seus prós e contras. O problema não é o cartão em si, mas como ele é usado. Só acho importante considerar o contexto econômico de quem depende desse recurso para equilibrar as contas. Enfim, é um tema complexo, mas merece um olhar mais equilibrado. Abraço!
Olá Gustavo,
Antes de tudo gostaria de agradecer a sua leitura e a apresentação de seu comentário.
No início do parágrafo, assimo como em outros textos, falo sobre a necessidade de uma educação financeira forte para previnir a todos nós dos riscos do uso indiscriminado e sem controle desta ferramenta financeira que em muitos casos promove o acesso de bens como você bem relatou e tmabem já escrevi em textos anteriores..
Espero ler mais dos seus comentários nos próximos textos.
Um grande abraço
Você acaba afundando em dívidas, com a sensação de felicidade que a compra no cartão te proporciona. Não tem grana? paga no crédito e aquela avaliação do próximo mês para saber se o valor se encaixa no planejamento financeiro ?
Texto real de como o cartão de crédito nos dar uma ilusão de poder financeiro e quando vemos a conta, percebemos que não podíamos fazer aquelas compras, parabéns Amigo!