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Cartão, arte do cão!

Foto: Sodawhiskey/Freepik

Reza a lenda que, certo dia, um homem muito ambicioso resolveu fazer um acordo com o Tinhoso pois queria ser muito rico. Depois do acordo firmado, o Cão disse ao homem: “Se você quiser ser realmente muito rico, bastava inventar o cartão de crédito.”

Claro que esse conto não passa de mais uma crendice fruto do imaginário popular, mas que de certa forma faz sentido, faz. Seja pela ideia ou pela consequência. Trato com o capeta sempre tem um preço muito alto.

Olhando apenas a ideia, é realmente uma coisa genial, uma vez que a pessoa que inventou o cartão simplesmente ganha dinheiro emprestando para quem não pode e, quando este vacila – e é muito fácil vacilar -, ele compra os juros mais altos do planeta. Não tem como não enriquecer desta maneira.

A consequência é viver sabendo que, eventualmente, deixará muitas famílias na miséria, uma vez que é quase impossível pagar a dívida quando a pessoa se atrapalha e entra no rotativo do cartão.

Imagino que com tanta informação e facilidade de acesso ninguém tenha mais dúvidas sobre o perigo que é a ter um cartão de crédito com o limite maior que sua capacidade de pagamento. Mas a pergunta é: “Se todos sabem do risco, por que então continuam aceitando e usando o cartão?”

Na minha opinião, a magia do cartão está em três principais características que se desdobram em várias outras e com isso consegue capturar uma legião de pagadores de juros.

A primeira é a sensação de poder e riqueza.  Quando você recebe um cartão, o limite de crédito sempre é maior que a sua capacidade de pagamento e ele vai aumentando à medida que você faz os pagamentos em dia. Isso significa que você pode realizar mais e maiores feitos naquele momento que a sua real remuneração poderia permitir. 

“Eu ganho R$1 mil e tenho um cartão com limite de R$5 mil, então, na verdade, eu tenho é R$ 6 mil”.  Verdade, pelo menos naquele mês.

Essa percepção de poder de realização é sedutora e já captura muitos trabalhadores que, em muito pouco tempo, se tornam reféns desta relação predatória pois desenvolverão um padrão de via e consumo maior que a sua capacidade de ganho. Terminarão vivendo para pagar a fatura. Acho que todos já perceberam isto, não é?

A segunda coisa que fascina nesta relação ‘trabalhador x cartão de crédito’ é a facilidade do uso. Basta pegar o cartãozinho e pronto, já comprou! Hoje não precisa nem mais por senha, basta aproximar e, voilá! Para os mais “amostradinhos”, nem cartão precisa, basta aproximar o celular ou o smartwatch que a compra foi registrada e sem precisar abrir a carteira.

E a terceira e, para mim, a pior, é o conforto psicológico. Esse é cruel, pois trabalha em seu subconsciente e, mesmo se arrependendo depois, ainda sim, você voltará a cometer o mesmo erro, porque você não tem nenhum trabalho mecânico na compra. Simplesmente teve o desejo e comprou, sem precisar fazer o esforço de abrir a carteira, pegar o dinheiro, contar a cédulas e conferir o troco. 

Parece besteira, mas o fato de você pegar o dinheiro, o papel que você atribui valor, inconscientemente, faz você pensar se vale ou não a pena aquele gasto, uma vez que você racionaliza o tempo e conhecimento que você gastou para conseguir aquele dinheiro. Muitas vezes, neste momento, você desiste da compra. Entendeu agora porque a compra com o cartão sempre é fácil e muito rápida? Você não pode pensar. Tem que simplesmente comprar!

Agora, para não dizer que o danadinho do crédito só presta para prejudicar as pessoas, preciso dizer que ele também tem vantagens para aqueles que possuem controle e educação financeira, para aqueles que possuem muito dinheiro ou para aqueles que já têm a predisposição em não pagar a fatura. Para esses grupos o cartão é, sim, um grande negócio, pois certamente não terão problemas em pagar as faturas na data correta e aproveitarão bastante os benefícios ofertados pelo cartão de crédito, sejam eles de parcelamento supostamente sem juros, cashback (desconto na fatura), milhas ou acessos exclusivos a eventos ou espaços de lazer.

Resumindo, se você não for herdeiro ou não tiver o mínimo de educação e controle financeiro o recomendado mesmo é tentar pagar suas contas a vista no máximo no debito para não perder a mão e virar um pagador de juros.

É isso. Já dei a real e agora é com você! Só vai entrar nessa armadilha do Cão Tinhoso se quiser.

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