
O brasileiro Thiago Ávila, 37, a sueca Greta Thunberg, 22, e mais 10 ativistas que levavam ajuda humanitária a Gaza foram presos por Israel na noite deste domingo (8), em águas internacionais.
O barco Madleen, batizado em homenagem à primeira e única mulher pescadora de Gaza, com bandeira britânica, operado pela FFC, partiu da Itália em 1º de junho.
Ávila publicou, em rede social, o momento em que o Madleen, embarcação da Coalizão Flotilha da Liberdade, foi atacado por forças israelenses. A comunicação com o navio, que leva ajuda humanitária a Gaza, foi interrompida aproximadamente às 2 horas da manhã do horário local, aproximadamente às 22h de domingo no horário de Brasília.
“Eles estão interferindo no rádio, não podemos pedir ajuda!”, alertou Thiago Ávila, ativista brasileiro que participa da missão, em suas redes sociais.
Drones com sistema de smart shooting cercaram o navio, borrifando-o com uma substância branca parecida com tinta. As comunicações foram bloqueadas e sons perturbadores reproduzidos pelo rádio.
A organização publicou uma foto mostrando pessoas usando coletes salva-vidas sentadas com as mãos levantadas. A informação não pôde ser verificada de forma independente.
Formada em 2010, a Coalizão da Flotilha da Liberdade afirma trabalhar com “parceiros da sociedade civil”, e não com qualquer partido, facção ou governo. A coalizão diz ainda que o navio transporta uma quantidade simbólica de ajuda, incluindo arroz e leite em pó para bebês para ajudar os sobreviventes palestinos. Israel afirma que o barco transporta “menos de um caminhão de ajuda”.
Quase 20 meses se passaram desde que Israel lançou uma campanha militar em Gaza em resposta ao ataque sem precedentes liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e mais de 250 feitas reféns.
Desde então, pelo menos 54.880 pessoas morreram em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Pouco depois da interceptação ao barco, o Ministério das Relações Exteriores de Israel informou que o barco estava “navegando em segurança em direção à costa de Israel”, que os passageiros estavam “ilesos” e que deveriam ser “repatriados para seus países de origem”.
A imprensa israelense noticiou que o navio chegou à cidade de Ashdod. Lá, seriam exibidos aos ativistas vídeos dos ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, em que cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e mais de 250 foram sequestradas.
“Não seremos intimidados. O mundo está observando”, disse Hay Sha Wiya, porta-voz da Flotilha. “O Madleen é uma embarcação civil, desarmada e navegando em águas internacionais, transportando ajuda humanitária e defensores dos direitos humanos de todo o mundo. Israel não tem o direito de obstruir nossos esforços para chegar a Gaza”.
Pouco após a interceptação, um vídeo do ativista brasileiro Thiago Ávila foi divulgado. A gravação foi feita por ele previamente e contém instruções para que o governo brasileiro seja pressionado para o caso de ele ser “preso ou sequestrado por Israel ou por alguma outra força cúmplice no Mediterrâneo”.
Além de Ávila e Thunberg, foram presos os ativistas: Batista André, Reva Viard, Rima Hassan — deputada do Parlamento Europeu —, Omar Faiad, Yanis Mhamdi e Pascal Maurieras, da França; Suayb Ordu, da Turquia; Sérgio Toribio, da Espanha; Mark van Rennes, da Holanda; e Yasemin Acar da Alemanha.
Após pressões nas redes sociais, o governo do Brasil, por meio do Ministério das Relações Exteriores, publicou nota na manhã desta segunda-feira (9), pedindo que o governo israelense liberte os tripulantes detidos, relembrando o “princípio da liberdade de navegação em águas internacionais”.
O ministério pede ainda a remoção de “todas as restrições à entrada de ajuda humanitária em território palestino, de acordo com suas obrigações como potência ocupante” e informa que embaixadas na região podem prestar assistência conforme Convenção de Viena.
Leia a nota na íntegra:
O governo brasileiro acompanha com atenção a interceptação, pela marinha israelense, da embarcação Madleen, que se dirigia à costa palestina para levar itens básicos de ajuda humanitária à Faixa de Gaza e cuja tripulação, composta por 12 ativistas, inclui o cidadão brasileiro Thiago Ávila.
Ao recordar o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais, o Brasil insta o governo israelense a libertar os tripulantes detidos.
Sublinha, ademais, a necessidade de que Israel remova imediatamente todas as restrições à entrada de ajuda humanitária em território palestino, de acordo com suas obrigações como potência ocupante.
As Embaixadas na região estão sob alerta para, caso necessário, prestar a assistência consular cabível, em consonância com a Convenção de Viena sobre Relações Consulares.
Com informações de BBC e Ministério das Relações Exteriores