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Atleta e instrutora de defesa pessoal, Rata Celes fala sobre o paradoxo de gênero no ensino de lutas

A faixa preta atua há 7 anos ensinando artes marciais para mulheres

Professora Rata”| Foto: Reprodução/Instagram

Rata Celes é faixa preta em karatê e hapkidô, professora de lutas e defesa pessoal, além de CEO da Vitesse, uma plataforma de treinos online voltada para mulheres. Conhecida como “Rata”, ela conta que “o apelido surgiu há muito tempo” por conta da quantidade de treinos que fazia.

“Eu sempre fui muito fominha de treino. Houve uma época em que treinava o físico de manhã cedo e fazia mais três treinos, de noite, seguidos. Terminava o karatê, ia para o hapkidô e depois, mais tarde, tinha o treino do MMA na Paralela. Era fominha mesmo”, conta.

O karatê é uma arte marcial de origem indígena asiática, do arquipélago de Okinawa, quando ainda era compunha território chinês, durante a dinastia Ming. Segundo o Comitê Olímpico do Brasil (COB), o monge indiano Bodhidarma viajou até local para fundar um mosteiro budista, onde levou conceitos espirituais e uma técnica de luta sem armas.

é um paradoxo, se você pensar que quem mais precisa saber se defender são as mulheres”

Já o hapkidô tem sua raiz no desenvolvimento do “Ki” (força interior, energia vital), conduzido por monges budistas que saíram da região que hoje é conhecida como a Índia para a China, em 67.a.C, e Coreia, em 372.d.C, em tempos de Goryo, conforme a Confederação Brasileira de Hapkidô. Hoje, a arte marcial tem sua origem reconhecida como sul-coreana e é especializada em defesa pessoal.

O hapkidô é baseado em técnicas de autodefesa adaptável a golpes e armas. Socos, chutes, rolamentos, projeções, escapes, esquivas, torções, alavancas, imobilizações em pé ou no solo, técnicas de alongamento e respiração são técnicas ensinadas, além de armas diversas como bastões, espadas, bengalas, facas e leques.

Celes conta que atua como professora há 7 anos, mas que sua relação com treinos e exercícios tem início bem antes de se tornar uma profissão. “Minha vida como atleta começou bem cedo. Eu, sinceramente, não sei te dizer quando comecei a treinar porque treino desde que me lembro de ser gente”, relata.

“Mas comecei com o karatê e depois fui aderindo às outras modalidades. Comecei como professora quando meu finado Mestre Carlos Carneiro me indicou para assumir umas aulas de muay thai e eu simplesmente aceitei porque era o que eu sempre quis fazer.”

Mas se engana quem acha que a jornada de Rata foi fácil. Ao Portal Umbu, ela conta que o preconceito de gênero é recorrente no mundo fitness e coloca em dúvida a qualificação profissional de mulheres.

Muitas pessoas acham que as mulheres não tem capacidade de ensinar lutas

“Muitas pessoas acham que as mulheres não tem capacidade de ensinar lutas. Já ouvi muito a pergunta ‘mas você dá aula para homem também?’, que parece uma pergunta boba, mas desqualifica o trabalho e a capacidade de fazer o meu trabalho, como se fosse uma área estritamente para homens”, relata a treinadora.

A atleta analisa que “é um paradoxo, se você pensar que quem mais precisa saber se defender são as mulheres”. “Em situações como essa [em que se tem a capacidade questionada], basta manter a elegância, responder com um ‘vamos fazer uma aula’ e dar logo um aperto no sujeito para ele mesmo tirar suas conclusões”.

Sobre as mulheres precisarem se defender, a faixa preta conta que escuta histórias de “violência sexual e agressões físicas e psicológicas” em seminários, enquanto no cotidiano, nas aulas de defesa pessoal, relatos de assédio acabam sendo mais recorrentes. “No dia a dia, atendo muitas [alunas] que simplesmente não se sentem à vontade em treinar com homens porque já foram vítimas de assédio, o que também é uma violência”.

Liderando a Vitesse Online e responsável pela iniciativa itinerante Treino das Fominhas, que promove encontros femininos de artes marciais de forma gratuita, professora Rata comenta como o exercício pode ajudar o processo de empoderamento feminino.

“Muitas mulheres nem sabem que elas mesmas podem ser a chave para sua segurança. Infelizmente, cresceram com a ideia de que mulher não luta e que o príncipe encantado sempre vai protegê-la, porém não é esse tipo de príncipe encantado que elas conhecem em seus contos de fadas.”

algumas sentem como se aqueles espaços não pertencessem a elas, até verem outras mulheres fortes e com postura firme e dominadora que não cabem no papel de vítima

“Quando elas passam por experiências nas quais começam a ter medo de andar sozinhas na rua, algumas sentem como se aqueles espaços não pertencessem a elas, até verem outras mulheres fortes e com postura firme e dominadora que não cabem no papel de vítima”, explica.

“É nesse momento que ouço os comentários de como elas querem aprender mais”. Rata Celes conclui reforçando que, apesar de as alunas não falarem sobre sentir mais confiança com o treino, “é possível perceber isso no comportamento de cada uma delas”.

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